Petroreconcavo (RECV3) fecha em baixa de 19% e é destaque em dia negativo para ações de petroleiras: o que explica movimento?

Além do cenário de queda para o petróleo, PetroReconcavo tem revisão de estimativas com analistas vendo compra de Polo Bahia Terra como mais difícil

Lara Rizério Augusto Diniz

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As ações das petroleiras tiveram um dia de forte baixa na B3, seguindo a queda do petróleo, com o WTI abaixo dos US$ 70 pela primeira vez de 2021 e em queda forte com os temores de crise bancária reavivados com a forte baixa das ações do Credit Suisse. O contrato futuro do brent para maio fechou em baixa de 4,85%, a US$ 73,69 o barril, enquanto o WTI para abril teve queda de 5,22%, a US$ 67,61.

A Petrobras (PETR3;PETR4) seguiu o movimento e fechou em baixa de 2,44% (R$ 26,35) para os ativos ordinários e de 1,77% (R$ 23,34) para os preferenciais. PRIO (PRIO3) teve baixa de 3,39% (R$ 31,15) e 3R fechou com queda de 3,58% (R$ 27,18), enquanto Enauta (ENAT3) perdeu 1,98% (R$ 11,37).

Porém, o grande destaque de baixa ficou para a PetroReconcavo (RECV3), com queda de quase 20%, mais precisamente 19,27%, a R$ 22,21.

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Na véspera, a PetroReconcavo divulgou um comunicado que foi lido como positivo pelos analistas de mercado, mas trouxe alguns pontos que desagradaram os investidores e ofuscaram as boas notícias. Ela publicou o resultado das atualizações das certificações de reservas dos campos localizados nos polos Remanso, BTREC, Miranga e Riacho da Forquilha. O relatório foi elaborado pela Netherland, Sewell & Associates (NSAI).

As reservas provadas (1P) totalizaram 136,6 milhões barris de óleo equivalente, alta de 10,6% sobre certificação anterior, com valor presente líquido, descontado a 10%, de US$ 2,22 bilhões. As reservas provadas e prováveis (2P), por sua vez, foram de 170,8 milhões barris de óleo equivalente, alta de 9,55%, com valor presente líquido, descontado a 10%, de US$ 2,71 bilhões.

O aumento foi uma combinação, segundo a própria petroleira, da alta no volume das reservas, das melhorias comerciais nos preços do petróleo e da melhor monetização do gás natural com base nos novos contratos.

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A atualização não inclui a adição de reservas dos ativos da Maha, que foram adquiridas em dezembro.

O preço do Brent reportado assumiu preços mais altos (principalmente nos primeiros anos de projeção) e a inflação de custos apareceu: o capex (investimento) do 2P aumentou 63% e o opex (gastos operacionais) caixa unitário (dólar por boe) aumentou cerca de 15%.

Sobre os preços do brent, a projeção é de alta de 20% em 2023 (+US$ 14 o barril), mas com revisão menos ascendente para os anos seguintes (+US$ 3,50 ou +6%, a partir de 2030 em diante). “Embora isso possa desencadear alguma resistência dos investidores, notamos que o aumento nos preços no longo prazo do Brent (que tem mais efeito sobre as reservas incrementais) esteve em linha com a inflação em dólar em 2022”, apontam os analistas da XP.

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Para os analistas de petróleo da casa, já era esperada uma revisão positiva das reservas, principalmente de gás, devido à melhor precificação de suas moléculas em relação ao antigo relatório de certificação. Ainda assim, os resultados foram surpreendentes.

O Goldman Sachs, por sua vez, aponta: “Em suma, vemos esse anúncio como positivo para a empresa, o que representa um risco de alta para nossas estimativas atuais da curva de produção. Por conversas recentes com investidores, entendemos que um desenvolvimento positivo já era esperado até certo ponto (semelhante ao PRIO), enquanto para a 3R Petroleum o recente desempenho operacional baixou as expectativas dos investidores recentemente”.

Apesar desses pontos positivos, o aumento do capex e a piora da curva de produção em 2023 e 2025 (apesar de subir depois disso) acabou por ofuscar os bons números das reservas e levou a uma forte queda das ações durante toda a sessão.

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Além disso, cabe ressaltar que algumas casas já têm reduzido as suas estimativas para a Petroreconcavo, principalmente após as declarações recentes de Jean Paul Prates, CEO da Petrobras, que garantiu nesta semana que a estatal seguirá na Bahia, incluindo o Polo Bahia Terra.

“Em sua fala com os trabalhadores no Cepe, o presidente (Prates) garantiu que a companhia voltará a utilizar o complexo mobiliário do Torre Pituba como estação de trabalho da capital baiana. Prates reforçou ainda que a Petrobras fará investimentos no Estado, incluindo o Polo Bahia Terra”, disse a estatal em nota, sem deixar claro como seriam esses investimentos.

O Polo estava sendo negociado com um consórcio formado pela PetroReconcavo e pela Eneva (ENEV3), mas ainda não havia sido assinada a venda.

“Acreditamos que a venda do ativo Bahia Terra nesta fase é improvável, dadas as recentes declarações do CEO da Petrobras e o fato de que o processo aconteceria quando a próxima Administração/Conselho indicado pelo Governo estiver em vigor após o suspensão de venda de ativos por 90 dias [desde o último dia 1]”, avalia o Bradesco BBI.

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Assim, o Bradesco BBI retirou o cluster Bahia Terra de seus modelos e incluiu a recente aquisição da Maha Brasil. Como resultado, cortou o preço-alvo para 2023 de R$ 46 para R$ 37, um potencial de valorização de 36% em relação ao fechamento da véspera e ainda com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado). A saída de Bahia Terra do modelo representa R$ 12 a menos no preço-alvo, mas a entrada da Maha representa uma adição de R$ 3.

Para os analistas, excluindo o ativo Bahia Terra, a PetroReconcavo terá um excedente de caixa recorrente que poderá ser utilizado para outro negócio de M&A (Fusão & Aquisição). No entanto, acredita que existem apenas opções limitadas para aquisições.

“Sem um extenso cronograma de fusões e aquisições pela frente, acreditamos que a administração da PetroReconcavo pode impor uma política de dividendos mais forte, que pode transformar a empresa em um atraente player de dividendos”, avalia.

O banco destaca que RECV3 é uma boa adição de baixo risco para as empresas juniores do país, dada a menor exposição da empresa ao brent versus os pares, maior índice de 1P e maior histórico operacional. “Agora que a alavanca de crescimento mais importante da empresa provavelmente não existe, a possibilidade de dividendos maiores torna ainda mais forte a tese de diluição de risco para uma carteira de empresas juniores de petróleo”, apontam os analistas.

A XP destaca ainda que, após o anúncio do imposto de exportação de petróleo, a ação RECV3 se destacou entre as ações brasileiras do setor, com seu mix de gás maior dando abrigo em meio à tempestade. “Ainda atualizaremos nosso preço-alvo (que não considera o potencial Bahia Terra) para incorporar a aquisição de ativos da Maha (positivo) e este novo relatório de certificação (neutro para positivo). Por enquanto, vemos a RECV negociando em níveis atrativos de valor da empresa (considerando EV a pagar por aquisições) por barril e, portanto, mantemos nossa recomendação de compra”, apontam os analistas.

O Morgan Stanley aponta também que o gás natural é o motor do crescimento das reservas da Petroreconcavo. Enquanto o crescimento das reservas de petróleo foi suave, em 2,2%, o gás natural teve uma adição significativa de 21% na base anual.

O ativo Miranga contribuiu para a maior quantidade de adição de reservas, já que a empresa tem sido muito ativa na negociação de novos contratos de venda de gás natural, melhorando significativamente os preços do gás realizado e tornando mais reservas economicamente viáveis. Além disso, os resultados positivos dos projetos de workover (conjunto de operações que, uma vez iniciada a produção/injeção do poço, permitam retomar ou melhorar as condições de produção/injeção esperadas) executados ao longo do ano permitiram a migração das reservas de 3P para 2P, bem como de 2P para 1P.

“Em nossa opinião, este é um grande exemplo da história convincente de redesenvolvimento de campos maduros no Brasil”, avalia o Morgan.

Para os analistas do banco, a execução e o histórico da empresa são seus principais fatores de diferenciação na indústria brasileira, mas o risco de valuation e fusões e aquisições mantêm os analistas com recomendação equivalente à neutra (equalweight, exposição em linha com a média do mercado), citando justamente o risco de suspensão de Bahia Terra.

Petroreconcavo não comenta “questão Bahia Terra”

A Petroreconcavo realizou nesta quarta à tarde teleconferência para apresentar a analistas de mercado o relatório de certificação atualizada de reservas de petróleo e gás.

No evento virtual, a Petroreconcavo não comentou a questão do Polo Bahia Terra, alegando que está em período de silêncio, já que na semana que vem revela os resultados do 4T22.

O CEO Marcelo Magalhães se limitou a dizer que os “movimentos pontuais de preço de mercado da ação não impactam nossa visão de futuro, nosso planejamento. A gente tem uma confiança muito grande naquilo que a gente está executando”. Disse ainda “que não é uma variação diária nem de um período que vai alterar aquilo que a gente enxerga que precisa ser executado”.

Pela certificação, as reservas brutas de petróleo e gás classificadas como 2P (provadas e prováveis) totalizaram 170,8 mmboe, um aumento de 14,9 mmboe – ou cerca de 10% – quando comparadas com o certificado de reservas anterior. As reservas de gás subiram 21% enquanto as reservas de petróleo, 2% – reservas de gás já representam 43% do 2P total da Petroreconcavo.

“A gente quer fazer coisas novas. O gás é uma demonstração muito clara disso”, disse o CEO. Ele citou recentes contratos de gás assinados que garantem “estabilidade” à empresa nos próximos anos. O executivo crê que no aumento do preço do gás: “A Europa está num momento que tem que repor seus estoques (de gás) e isso vai pressionar. A gente entende que, no momento, a precificação média do gás da companhia ainda tem espaço para upside”.

O capex de 2022 apresentado no relatório de certificação ficou acima do estimado pelo mercado. Rafael Cunha, CFO da Petroreconcavo, explicou que a inflação, em especial de serviços especializados, aumento da complexidade de projetos e reconhecimento de demanda adicional de investimento em infraestrutura, fizeram os custos subirem acima do esperado na perfuração. Segundo Cunha, o capex por barril está em US$ 9, aproximadamente.

“Poços que estavam parados, linhas de produção, redes elétricas, estavam mais deterioradas para retomar o poço e escoar a produção, principalmente essa parte de manutenção no Polo Miranga (BA)”, exemplificou o CFO sobre as condições de infraestrutura que exigiram aumento de capex no período.

“Há certo alinhamento mais claro da inflação dos materiais com o risco do petróleo. A outra parte pode-se dizer dos serviços”, disse Marcelo Magalhães sobre o aumento de custos.

A Petroreconcavo tem previsão de produzir no pico 40 mil barris/dia, que será no ano de 2026, pelo relatório divulgado. Em 2023, a média estimada de produção de barris equivalente de óleo é de 25,9 mil/dia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.