Petrobras: redução de capex pode favorecer pagamento de dividendos destravar valor

Os cortes devem se concentrar na revisão de projetos de construção de plataformas, incluindo os campos de Barracuda, Caratinga e SEAP

Felipe Moreira

Plataforma da Petrobras (Reuters)
Plataforma da Petrobras (Reuters)

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A Petrobras (PETR3; PETR4) vai divulgar, em novembro, seu plano de negócios para 2026-2030, com uma meta de US$ 8 bilhões em redução de custos ao longo de cinco anos, segundo informações do Valor Econômico. Os cortes devem se concentrar na revisão de projetos de construção de plataformas, incluindo os campos de Barracuda, Caratinga e SEAP.

Como parte da estratégia, a Petrobras pretende atingir a “neutralidade da dívida” em 2026, o que significa que pretende financiar integralmente os investimentos e dividendos do próximo ano sem aumentar sua dívida bruta. O Itaú BBA comenta que alcançar essa meta provavelmente exigirá uma redução significativa nos investimentos em 2026.

Segundo o Itaú BBA, a projeção atual de investimentos em capital (capex) da Petrobras para 2026 é de US$ 19,6 bilhões, dos quais cerca de 81% (US$ 15,9 bilhões) já estão sancionados e, portanto, não podem ser adiados ou realocados. O banco aponta que o espaço para otimização do capex em 2026 concentra-se em projetos não sancionados, totalizando US$ 3,7 bilhões.

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O BBA destaca que os principais projetos não sancionados nos segmentos de upstream e downstream incluem SEAP 1 e 2, as revitalizações da Bacia de Campos, a UFN-III (planta de fertilizantes) e o Complexo Boaventura (antigo Comperj). Estima-se que os desembolsos previstos para esses projetos representem aproximadamente US$ 3,2 bilhões do total de capex não sancionado.

O banco observa que adiar projetos como SEAP 2 (atualmente programado para 2030), as revitalizações da Bacia de Campos (2029 e 2030), o Complexo Boaventura (2028) e a UFN-III (2028) por um ano poderia reduzir o capex de 2026 em até US$ 3 bilhões.

Segundo a análise de sensibilidade do Itaú BBA, assumindo Brent a US$ 65 por barril e capex de leasing de US$ 3,5 bilhões, reduzir a projeção de capex para menos de US$ 17 bilhões seria suficiente para fechar a lacuna entre geração de caixa e pagamento de dividendos, permitindo que a Petrobras financie investimentos e dividendos sem aumentar a dívida bruta.

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A Genial Investimentos, por sua vez, avalia que o verdadeiro valor a ser destravado pela Petrobras não está apenas no impacto financeiro imediato dos cortes de custos ou da venda de ativos maduros mencionados na mídia, mas na redução da percepção de risco e na disciplina de capital que essas medidas sinalizam.

A combinação de foco em exploração e produção de petróleo (E&P) — considerado o segmento com maior retorno dentro da empresa —, maior eficiência operacional e o adiamento de investimentos relevantes em renováveis para além de 2035 pode levar a uma reprecificação do case.

Caso as medidas anunciadas se materializem, a Genial acredita que a estatal tende a reduzir parte do desconto frente a seus pares internacionais, com potencial de valorização relevante no médio prazo.

A corretora ressalta que aguarda o anúncio do Planejamento Estratégico 2026-2030, previsto para novembro de 2025, para avaliar até que ponto o discurso recente da companhia será refletido em sua estratégia — destacando, porém, que a proximidade das eleições presidenciais em 2026 aumenta a tentação de utilização da estrutura da empresa de forma política.

A Genial considera que o Planejamento Estratégico deve ser o principal evento capaz de materializar ou não os fluxos de notícias referentes à companhia. Aos níveis atuais de preço, a Petrobras negocia a Valor da Firma EV/EBITDA de 2,8 vezes e apresenta um rendimento de dividendo de 10%. A instituição financeira classifica o papel como barato, mas ainda cercado de incertezas, observando que existem outros nomes mais interessantes no setor. Com isso, manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 44.

Já os analistas do BBI esperam que a maior parte desses cortes de investimentos ocorra em projetos de longo prazo. “Acreditamos que o mercado acolheria cortes para o programa de investimentos de 2026, mas consideramos isso improvável”, apontam.

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“Em relação à política de dividendos da Petrobras, vemos a longevidade dessa política dependente principalmente dos preços do petróleo, da implementação eficiente de investimentos e da reorganização do portfólio”, avalia o banco.