Petrobras (PETR4) prevê cenário mais desafiador para dividendos em 2023, diz novo presidente

Mudança dos preços, investimentos e desinvestimentos e cenário macroeconômico tornam distribuição de dividendos mais desafiadora

Vitor Azevedo

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O novo presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), Jean Paul Prates, participou na manhã desta quinta-feira (2) de teleconferência com analistas, sua primeira no cargo, após a estatal divulgar seus resultados do quarto trimestre de 2022. Entre os destaques, ficaram suas falas sobre a remuneração aos acionistas – sob holofotes dos investidores e do governo após a mudanças no alto comando da estatal.

Depois de a petroleira distribuir dividendos recordes no ano passado, de R$ 215,8 bilhões, Prates não negou possível mudança, em 2023, na distribuição, classificando o atual cenário como “mais desafiador”.

Entre os motivos para isso estão as questões macroeconômicas, com possível recuo do petróleo, novos investimentos e prováveis mudanças nos preços cobrados pela companhia e na política de desinvestimentos.

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“Teremos uma robustez de dividendos em 2023. Pretendemos ter lucros à altura dos registrados em 2022, mas o cenário é mais desafiador”, declarou.

Na frente macro, o presidente da estatal destacou que o cenário do último ano foi um pouco anormal, com a reabertura das economias após a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, que gerou um ramp up do preço do petróleo.

Preços da Petrobras

Já quanto aos preços cobrados, de acordo com Prates, a Petrobras irá avançar em maior competitividade e irá se defender quando acusada de que está tirando concorrentes do mercado.

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“Preço da paridade de importação é o preço do nosso concorrente. Apesar de a capacidade de refinaria estar bem mais alta por conta da demanda, tivemos momentos com capacidade baixa, um indicativo de que o governo (anterior) queria abrir espaço para a concorrência do importado. Isso provavelmente vai mudar”, explicou o executivo.

“Não fazemos política de preço. É questão de governo, não de Petrobras. Buscaremos clientes e daremos as melhores condições para não perder as vendas de combustível”.

Quanto à venda de refinarias, que também beneficiou o caixa da Petrobras nos anos anteriores, o novo presidente definiu que a Petrobras “não venderá ativos por decisões governamentais”.

“Não nos iremos nos desfazer de refinarias ou de presença em regiões inteiras do país porque o governo quer. Quem decidirá isso é o conselho, uma diretoria executiva competente, sempre mantendo o diálogo com investidores”, comentou.

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Transição energética

A Petrobras pode vir a gastar mais caixa também com maiores investimentos na transição energética – o que, para Prates, é algo inevitável.

“Devemos esperar um aumento de atenção para energias alternativas de nossa parte. Focaremos no upstream e no pré-sal, que são nossas atividades principais e que são importantes para o financiamento dessa frente. É impossível descontinuar nossas principais operações. Não há salto direto entre os combustíveis fósseis e o uso de energias limpas”, defendeu.

Gás natural

O diretor explicitou ainda uma atenção com o gás natural, que seria um “meio termo” entre os combustíveis fósseis e uma matriz energética limpa.

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“Quando migramos para o gás natural, estamos fazendo uma transição energética. É um meio termo. Gasificar o transporte rodoviário, por exemplo, é uma espécie de descarbonização. Nós não exploramos nem metade do nosso potencial nesta frente”.

Relação com investidores

De acordo Prates, por fim, a relação de investidores com a Petrobras é uma relação de trade off e pode sofrer alterações com o passar do tempo.

“Você deixa dinheiro com a empresa, que apresentará projetos para o futuro. O investidor decide se quer estar conosco ou se quer o dinheiro certo do dividendo no curto prazo. Essa relação, porém, vai mudando. Eu chego a ter dúvida se as regras internas são necessárias. A relação muda e nós vamos combinando com os investidores. É claro que há mínimos legais, mas dentro das empresas acho que essa troca tem de ser fluída”, debateu.

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Prates afirmou que espera entregar uma Petrobras que “irá sobreviver por mais 70 anos” e que quer provar que ser sócio do governo brasileiro em uma área estratégica “não é mau negócio”.

“Falei com investidores e disse que teremos muito diálogo, para evitar antipatias. Hoje, com todos canais que temos de comunicação e com todas as regras, é possível dialogar antes de tomar decisões que investidores não gostam. Uma empresa do tamanho da Petrobras tem que levar isso em conta. Investidor ver em ser sócio do estado brasileiro uma vantagem e não uma desvantagem. Se alguém tem dúvida disso, temos que provar que é diferente”, afirmou.