Petrobras (PETR4) com petróleo acima de US$ 100 é bom ou ruim para ações? Analistas veem “equação difícil” para estatal

Ao mesmo tempo em que, a princípio, desempenho operacional poderia ser impactado positivamente, política de preços da estatal é pressionada

Lara Rizério Felipe Alves

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Os últimos dias, marcados pela invasão da Ucrânia pela Rússia, têm sido de novos recordes para o preço do petróleo. Na quarta-feira (23), o preço do barril tipo Brent para abril chegou a ultrapassar os US$ 105, mas depois recuou, fechando a US$ 94,12, diante das perspectivas de que as sanções de aliados ocidentais à Rússia fossem poupar o setor de energia do país.

Contudo, nesta segunda-feira (28), com mais sanções ao país, o petróleo voltou a ultrapassar os US$ 100 o barril. Durante a manhã, operava com ganhos de mais de 4%, na casa dos US$ 102, depois de chegar aos US$ 105 na máxima do dia.

Alguns investidores em Wall Street apostam que o movimento de alta que levou a cotação do barril de petróleo a mais de US$ 105 seja apenas o começo de uma trajetória de elevação. Alguns consideram que a cotação possa se aproximar do recorde de 2008, quando encostou nos US$ 150, devido às limitações globais de oferta. A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo mundial, com 11% da oferta/comércio global.

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A consultoria Rystad Energy aposta em patamar próximo de US$ 130 se a situação na Ucrânia piorar, enquanto analistas do JPMorgan acreditam que o petróleo pode chegar a US$ 120. O diretor executivo de futuros de energia da Mizuho Securities, Robert Yawger, projeta que o petróleo pode chegar a US$ 125 se o conflito no leste europeu piorar.

Mas quais os impactos disso para as ações de petroleiras, notoriamente para a Petrobras (PETR3;PETR4)? Analistas de mercado destacam que, a princípio, as ações poderiam reagir positivamente, mas a forte alta da commodity pode pressionar ainda mais a Petrobras em um cenário que já era altista para a commodity com a oferta mais limitada e recuperação da demanda. Com isso, destacam preferir outros papéis do setor.

Em relatório do Morgan Stanley na última quinta-feira, logo após o petróleo ter superado os US$ 105 o barril pela primeira desde 2014, os analistas do banco destacaram que o salto da commodity deve colocar a estatal brasileira em uma situação difícil para equilibrar o interesse social versus a criação de valores para os acionistas.

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A política de preços de combustíveis da Petrobras continua sendo um tema-chave na política brasileira. Segundo o Morgan Stanley, naturalmente, os produtores de petróleo se beneficiam do ambiente de preços elevados das commodities, mas a equação não é tão simples para a estatal, considerando a sensibilidade da questão do preço do combustível diante de um ciclo eleitoral polarizador no Brasil.

“Vale ressaltar que tanto o presidente Bolsonaro quanto o ex-presidente Lula [pré-candidatos à presidência] comentaram recentemente sobre os preços dos combustíveis, com o primeiro dizendo que não esperava que os preços dos combustíveis mudassem, e o último dizendo que os preços dos combustíveis não estariam mais vinculados aos benchmarks internacionais se ele for eleito novamente”, afirmam os analistas Bruno Montanari e Guilherme Levy.

O último reajuste de preços dos combustíveis foi feito há 47 dias pela Petrobras. Em média, durante a atual gestão da estatal, a empresa levou 33 dias para reajustar os preços da gasolina e 53 dias para o diesel, em linha com sua estratégia de reduzir a volatilidade ao consumidor final (no governo anterior o intervalo entre reajustes era de 9 e 12 dias para gasolina e diesel, respectivamente).

O Morgan Stanley acredita a Petrobras deve esperar alguns dias para não repassar ao consumidor uma volatilidade global desnecessária, mas adiar um aumento de preço pode ser mais difícil desta vez. “Se a empresa reajustar os preços dos combustíveis, aumentará o nível de ruído político no momento em que alguns projetos de lei relacionados aos combustíveis estão em discussão no Congresso e a inflação está em alta”.

Por isso, os analistas preferem, neste momento, empresas menores de exploração e produção de petróleo, ainda que o dividend yield (valor do dividendo sobre o preço da ação) da Petrobras esteja muito atraente. O Morgan Stanley destaca como preferências do setor a PetroRecôncavo (RECV3) e a 3R Petroleum (RRRP3). E cita ainda a colombiana Ecopetrol, embora para esta empresa pode haver alguma pressão de capital de giro dependendo do desempenho do fundo de estabilização de preços de combustíveis da Colômbia.

Para o ADR (American Depositary Receipt, na prática, as ações da companhia negociadas na Bolsa americana), a recomendação do Morgan é equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) PBR, com preço-alvo de US$ 14, ou uma queda de 1,3% frente o fechamento de sexta-feira.

André Vidal, analista responsável por responsável pelos setores de Óleo, Gás e Materiais Básicos da XP, também destaca que o cenário atual “coloca a Petrobras em uma situação difícil”.

Vidal reforça que, embora a estatal esteja praticando a paridade do petróleo com o preço internacional, isso tem ocorrido com muita defasagem. “Ela vem usando os estoques com custos mais baixos do passado, mas existe um limite para isso. A Petrobras já vem há muito tempo sem reajustar combustível, já acumulou uma defasagem muito alta”, afirma o analista.

Ele diz que o movimento do real nos últimos dias “tinha ajudado a arrefecer um pouco essa defasagem”, mas que a disparada do preço do barril do petróleo e do dólar “aumentou a pressão” para um reajuste – “e provavelmente vai continuar colocando pressão na Petrobras”.

“Se o preço mais alto do petróleo e o câmbio permanecerem no patamar que estão, inevitavelmente em algum momento a Petrobras vai ter de reajustar o combustível”.

Para o Bradesco BBI, os preços do petróleo devem ficar na faixa entre US$ 95 a US$ 105 o barril, enquanto que, se os EUA assinarem um novo acordo nuclear com o Irã, pode haver algum alívio nos preços do petróleo.

Os analistas da casa avaliam que as empresas “junior” de petróleo, caso de PetroRio (PRIO3) e 3R, além distribuidoras de combustíveis (que podem se beneficiar de uma oferta interna apertada)  podem ter um desempenho positivo, enquanto a Petrobras teria alta dos papéis, mas em menor grau.

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“Para a Petrobras, embora a empresa ainda possa se beneficiar de preços mais altos do petróleo (como é um exportador líquido de petróleo e vende outros derivados de petróleo que acompanham a paridade), acreditamos que a empresa
hesitaria em passar essa volatilidade de uma guerra aos preços domésticos da gasolina e do diesel”, avaliam.

Se este fosse o caso (sem repasse para diesel e gasolina domésticos), o banco estima que, para cada US$ 10 o barril de preços de petróleo mais altos, a empresa se absteria de fazer cerca de US$ 3 bilhões em lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e cerca US$ 2 bilhões em Fluxo de Caixa do Acionista (medida de quanto dinheiro pode ser distribuído aos acionistas da empresa como dividendos ou recompra de ações).

“Portanto, embora as perspectivas para o fluxo de caixa da Petrobras continue forte, o impacto seria relativamente menor do que para as empresas de exploração e produção junior”, apontam os analistas.

O Bradesco BBI tem recomendação outperform (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para as ações PETR4, com preço-alvo de R$ 42, ou potencial de alta de 23,5%; a XP também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 45,30, ou potencial de valorização de 33% frente o último fechamento. Analistas têm recorrentemente destacado os riscos políticos e a expectativa de maior volatilidade no segundo semestre em meio às eleições, mas reforçam que o bom pagamento de dividendos é um dos maiores pontos positivos para a companhia.

Petrobras fala em manter política de preços

Enquanto isso, a Petrobras tem reforçado que vai manter seus preços atrelados aos do mercado internacional. O argumento é de que, se não acompanhar as cotações do petróleo e dos derivados, o mercado brasileiro de combustíveis e o abastecimento interno poderão ser afetados, como afirmou o diretor de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella, em teleconferência com analistas para detalhar o lucro recorde de 2021.

“Temos observado a elevação dos preços nas últimas semanas e, em paralelo, o dólar foi desvalorizando. Com esses dois movimentos, em contraposição, a gente pôde manter nossos preços”, afirmou Mastella, acrescentando que, na quinta-feira (24)  em particular, a volatilidade foi maior e a empresa estava “observando” o mercado para avaliar possíveis reajustes.

A visão do executivo é de que, mesmo com as turbulências internacionais, a Petrobras é competitiva e se mantém alinhada ao mercado externo, ao mesmo tempo em que evita repassar aos consumidores as volatilidades conjunturais das cotações.

(com Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.