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SÃO PAULO – Além do noticiário bastante movimentado que costuma rondar a Petrobras (PETR3;PETR4), a diferença de desempenho das diferentes classes de ações da companhia voltou a chamar a atenção dos investidores da estatal nos últimos dias, conforme destacaram o Credit Suisse e o Bradesco BBI.
Isso porque as ações ordinárias (PETR3, com direito a voto) estão sendo negociadas com desconto de 2,5% em relação aos papéis preferenciais (PETR4, com preferência para receber dividendos). Os ativos PETR3 fecharam a sessão da última quinta-feira a R$ 25,25, ante os R$ 25,91 de fechamento de PETR4. No acumulado dos últimos 365 pregões, os papéis ordinários subiram 27,71%, enquanto os ativos preferenciais tiveram alta bem superior, de 34,36%.
De acordo com o Credit Suisse, não parece ter uma justificativa fundamentalista para as ações ONs negociarem com desconto de 2,5% em relação às PNs, o que indica estatisticamente uma diferença significativa em relação à média de longo prazo (entre 2005 e 2021) de 10% de prêmio das ONs e mesmo de um período mais recente (entre 2019 e 2021) de 5% de prêmio.
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Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, analistas do Credit Suisse, relembram que a última vez que a PN negociou com prêmio aconteceu em 2013-2014, quando havia um anúncio claro de que a PN iria receber um dividendo maior, fato que não se materializou em função do prejuízo da Petrobras no período e, consequentemente, com a falta de dividendo.
Assim, a explicação mais razoável para justificar esta distorção atual seria na linha do fluxo interno e externo, com os estrangeiros negociando mais ações ON, enquanto os locais negociam mais ações PN.
Os analistas lembram que a PETR4 tem mais liquidez no mercado local (com uma média diária de negociação de US$ 370 milhões) do que PETR3 (média de US$ 105 milhões de negociação). Já os recibos de ações da Petrobras negociados na Bolsa de Nova York, os chamados American Depositary Receipts (ADRs), são negociados principalmente por investidores internacionais, com a liquidez concentrada nas ações ordinárias da PBR (média de negociação de US$ 300 milhões), ante um valor menor do preferencial PBR/A (cerca de US$ 85 milhões de volume médio negociado).
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“Nós acreditamos que investidores locais e estrangeiros reagem de forma diferente a eventos como debates políticos no Brasil ou o maior risco global. Isso pode levar a um desvio significativo nos spreads históricos, particularmente em momentos de eventos significativos, como a recente mudança abrupta na gestão [com a saída de Roberto Castello Branco da presidência da estatal], o surto de pandemia do coronavírus ou a greve dos caminhoneiros de 2018”, apontam Cardoso e Gumiero.
Assim, eles acreditam ser possível que o spread (ou diferença de cotação entre os ativos) se reverterá para a média histórica uma vez que esses fluxos se equilibrarem. Em termos práticos, apontam, isso poderia fazer com que as ações ONs saíssem de um desconto de 2,5% para um prêmio entre 5% ou acima desse patamar.
De acordo com os analistas, os argumentos “a favor” das ações ON são dois: i) A Petrobras está quase concluindo seu processo de desalavancagem e logo se tornará uma grande pagadora de dividendos. Isso significa pagamentos substancialmente acima do mínimo de 25% exigido. Nesse caso, ações ONs e PNs muito provavelmente receberão
dividendos iguais, o que elimina qualquer vantagem da PN em termos de fluxo de caixa de dividendos e (ii) Os investidores podem querer levar em consideração que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda detém cerca de 1 bilhão de ações PETR4. Isso pode representar overhang (excesso de ações no mercado) caso o banco de desenvolvimento decida vender sua posição, como tem sinalizado em declarações recentes. Em fevereiro de 2020, cabe lembrar o BNDES vendeu cerca de 734 milhões de ações PETR3 em uma oferta que precificou PETR3 a R$ 30.
Também destacando que o desconto das ações ON ante as PN é injustificado tanto pela nova política de dividendos que equalizará o pagamento de dividendos entre as classes de ações e a possível venda do BNDES de ações PN, o Bradesco BBI aponta, contudo, que ainda não vê gatilhos de curto prazo para recomendar uma operação casada entre as duas classes de ações.
“No entanto, isso pode mudar no futuro, à medida que a empresa se aproxima da meta de dívida bruta de US$ 60 bilhões, desencadeando a nova política de dividendos. Além disso, mesmo que a exigência da dívida bruta não seja atendida até o final do ano, acreditamos que a empresa tenha caixa suficiente para fazer um pagamento de dividendos igual com base no lucro líquido do ano passado (como feito neste ano), o que favorece o fechamento do spread”, aponta o BBI.
Cabe ressaltar que ambas as casas elevaram a recomendação para as ações da Petrobras recentemente, com o BBI tendo elevado a recomendação duas vezes entre final de abril e meados de maio (veja mais clicando aqui e aqui).
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