Petrobras: após queda de quase 50% em menos de 2 semanas, o que fazer com as ações?

Papéis da petroleira foram um dos mais afetados com a combinação de queda da demanda e alta da oferta; analistas recomendam calma para quem tiver os ativos

Lara Rizério | Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A pandemia global de coronavírus mudou completamente o cenário global para as ações. Se no começo do ano os analistas eram praticamente unânimes no otimismo, agora o pânico toma conta dos mercados e quanto mais um papel está exposto a riscos sistêmicos na economia, mais ele sofre. É o caso de Petrobras (PETR3; PETR4).

As ações da maior petroleira do Brasil desabaram cerca de 48% desde que a crise do Covid-19, que reduziu bruscamente a demanda por petróleo, teve um desdobramento inesperado: a guerra de preços de petróleo entre a Arábia Saudita e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), fazendo com que as ações da Petrobras caíssem cerca de 30% apenas no fatídico pregão de 9 de março. Para o analista Regis Cardoso, do Credit Suisse, os sauditas parecem querer dar um choque nos mercados como aconteceu durante a década de 1980 e, mais recentemente em 2014, quando a Opep enfrentou os produtores de xisto nos Estados Unidos.

Atualmente, a Arábia Saudita tem inundado o mercado com barris de petróleo a US$ 25, em uma tentativa de forçar a Rússia a reduzir sua produção. Soma-se a isso o agravamento da pandemia do coronavírus em várias partes do mundo, levando a perspectivas de uma desaceleração econômica global e reduzindo a demanda por petróleo.

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Nesta quinta, o barril do Brent, usado como referência pela Petrobras, fechou na casa dos US$ 28, enquanto o WTI fechou na casa dos US$ 25, com uma forte alta percentual de 13% para o primeiro e de 23% para o segundo. Isso ajudou na alta da Petrobras, mas foi apenas um repique após a forte derrocada da véspera, que levou a uma forte perda dos ativos da estatal – e trouxe o panorama de volatilidade para as ações da estatal.

Diante dessa situação, muitos investidores que compraram papéis PETR3 e PETR4 nas máximas do ano, perto dos R$ 30, imaginam que a estatal jamais irá recuperar seu valor de mercado, e portanto, só resta vender as ações e embolsar o prejuízo. Enquanto isso, outros se questionam se é melhor esperar. Afinal, para o pequeno investidor que comprou as ações de olho na venda de ativos, no aumento da produção e no que fazer com ativos, o que fazer com os papéis em meio à forte queda?

Conforme destacou Fernando Fontoura, gestor da Persevera, em entrevista ao InfoMoney, os investidores que têm posição em Petrobras devem ajustar os seus horizontes de investimentos para um prazo mais longo.

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Ele destaca que é difícil fazer uma previsão de quando o petróleo voltará aos níveis de antes da crise, uma vez que dependerá muito de como se desenrolará a questão entre Arábia Saudita e Rússia, além da retomada da atividade econômica mundial, duramente afetada pelo coronavírus. Contudo, a cotação atual do barril (na quarta-feira, o WTI chegou a US$ 22, no menor valor em 18 anos), não é sustentável, podendo ameaçar boa parte das produtoras de petróleo de xisto nos EUA.

Dito isto, até o momento, não há nenhuma perspectiva da Petrobras ter problemas de liquidez, solvência, avalia o gestor. Fontoura avalia que, obviamente, a geração de caixa desse ano ficou comprometida e muito provavelmente vai haver um corte na distribuição de dividendos – mas que não deve haver uma crise de solvência ou uma necessidade de aumento de capital.

“Assim, para o investidor que não estiver precisando do dinheiro no momento, o melhor que ele faz é segurar a posição. Ele deve estar ciente de que a recuperação pode demorar mas, num horizonte de investimento um pouco mais longo – que é o adequado para investimentos de renda variável – a Petrobras tende a se recuperar”, afirma o gestor.

Pontos positivos…

Mantenha a calma e siga em frente. Essa também é a recomendação dos analistas André Hachem e Leonardo Marcondes, do Itaú BBA. Em relatório, eles mantiveram recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a Petrobras, mas reduziram o preço-alvo das ações preferenciais PETR4 de R$ 40,00 para R$ 29,00.

A explicação é que os valores atuais das ações da companhia refletem preços de petróleo bem mais deprimidos no horizonte do que indicam as curvas dos contratos futuros de petróleo. “Analisando o múltiplo valor de mercado da empresa sobre o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês], os barris de petróleo da Petrobras estão sendo precificados em US$ 33 para 2020, abaixo da curva dos futuros, que precifica US$ 35”, calculam Hachem e Marcondes.

“Para 2021, as ações da Petrobras estão assumindo um barril de petróleo de US$ 30, enquanto a curva dos contratos futuros da commodity aponta para US$ 43 para o mesmo período.”

Na mesma linha, a equipe de análise do Credit Suisse projeta preços do barril de petróleo em US$ 42 para 2020, US$ 50 para 2021 e US$ 60 no longo prazo. “Nestes níveis, o case de Petrobras nos parece entregar vários pontos interessantes em valuation nos níveis atuais e acreditamos que a empresa conseguira navegar este ambiente difícil”, aponta research do banco suíço.

Em outro ponto do relatório, os analistas do Itaú BBA escrevem que os fatores essenciais a serem considerados na precificação da Petrobras, além das receitas, são as taxas especiais de participação, que compõem os custos da empresa e mudam significativamente em diferentes cenários para os preços do petróleo. “Os impostos especiais de participação operam sob uma taxa progressiva que varia de 0% a 40%, dependendo da profundidade do campo, da produtividade, da idade de produção e, mais importante, dos preços do petróleo”, explicam.

Também foi ressaltado pela equipe do Itaú que aproximadamente 60% dos custos da estatal, excluindo as despesas com leasing, são atrelados ao real e não ao dólar, de modo que a depreciação da moeda brasileira gera benefícios do lado dos custos.

Já a geração de fluxo de caixa de fato será prejudicada com o barril do Brent abaixo de US$ 50, podendo chegar a zero. Entretanto, esses cálculos não levam em consideração as vendas de ativos promovidas pela estatal, que quando acabar a crise do coronavírus devem ser retomados.

Por fim, a Petrobras hoje tem uma grande vantagem quando comparada a outros momentos recentes: a sua posição financeira confortável, com vencimentos de dívidas espalhados por prazos mais longos. “A Petrobras também possui aproximadamente US$ 5 bilhões em saldos em aberto, ou seja, ativos que já foram vendidos, mas ainda não foram pagos. Isso daria à Petrobras outra ajuda para enfrentar os preços do petróleo”, avaliam.

Também otimista com Petrobras, mas também fazendo ponderações em meio a esse cenário desafiador para o mercado de petróleo, o Morgan Stanley manteve a recomendação overweight para os American Depositary Receipts (ADRs, ou recibos de ações das companhias negociados na Bolsa de Nova York) PBR, equivalente aos ordinários, mas cortando o preço-alvo de US$ 24 para US$ 11,40 pro ativo, um potencial de valorização de 165% frente o fechamento do dia 18. Ela é a única com essa recomendação dentre as petroleiras da América Latina sob cobertura do Morgan Stanley.

Segundo os analistas do banco, comparada com a última forte queda de preços do petróleo, no final de 2014, a Petrobras está em uma posição financeira muito melhor e conta com um portfólio resiliente com uma alta exposição aos campos do pré-sal (provavelmente o mais competitivo no cenário offshore atualmente). “Acreditamos que a empresa será capaz de surpreender com a resiliência de seu fluxo de caixa. Além disso, o crescimento da produção no curto prazo é totalmente contratado, não dependendo de novos investimentos externos.

A venda de ativos, por sua vez, por mais que seja mais difícil, com a participação de grandes empresas do setor mais incerta, a venda de alguns ativos, como refinarias, ainda podem ocorrer no atual ambiente de mercado, passada a volatilidade inicial, avaliam.

…mas o cenário é incerto

De qualquer forma, há também quem tenha recomendado cautela com a Petrobras desde o dia 9 de março, quando eclodiu a disputa entre Arábia Saudita e Rússia. O Bradesco BBI reduziu a recomendação para os ativos da companhia, avaliando que seria difícil saber quando a guerra de preços entre os dois países iria terminar, mas prevendo dias bem negativos para o petróleo no curto prazo, o que se concretizou nas sessões seguintes.

O preço-alvo foi reduzido de R$ 23,50 para R$ 16,00. Segundo os analistas, distribuição de combustíveis é um negócio estruturalmente melhor atualmente do que exploração, produção e refino, que são os focos da Petrobras. “Nós vemos preços mais baixos de petróleo como uma oportunidade para que distribuidoras recuperem margens.”

Assim, é importante ficar atento aos próximos desdobramentos geopolíticos e também da Petrobras. Ela também deve reagir ao cenário de queda de demanda e maior oferta de petróleo, conforme ganha força no noticiário as informações de que ela avalia mudar seu plano de negócios, mas vendo normalização no médio prazo.

O cenário aponta para forte volatilidade de curto prazo para os ativos da companhia e dias desafiadores para empresa. Contudo, na visão dos especialistas, os investidores que conseguirem ter uma visão de longo prazo podem passar pela turbulência.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.