PagSeguro e Stone: ações têm forte recuperação com projeções mais otimistas para 2022, mas qual anima mais os analistas?

Analistas destacam, no geral, uma visão mais positiva para PagSeguro, ainda que tenham visto progressos significativos para a rival Stone

Lara Rizério

(Getty Images)

Assim como a Stone (STOC31) na semana passada, ainda que em menores proporções, as ações e os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) da empresa de pagamentos PagSeguro (PAGS34) registram um forte desempenho positivo após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2021.

Contudo, mais do que a divulgação dos resultados, foram as projeções para os três primeiros meses do ano que animaram: no caso da Stone, os números foram publicados na noite de quinta-feira, as ações saltaram 42% na Bolsa americana na sessão seguinte e já trouxeram projeções positivas para a “rival”, cujos papéis saltaram 22,5% também no final da semana passada. As projeções positivas se confirmaram e os ativos PAGS tiveram mais uma sessão de ganhos, fechando a sessão desta quarta com ganhos de 8,54%, a US$ 20,20.

Apesar do ânimo, muitos analistas ainda se dividem sobre se vale a pena estar posicionado nos papéis e se a recuperação é duradoura após um forte baque desde o segundo semestre do ano passado (PAGS ainda cai 67% desde então e Stone tem baixa de 79%), além da questão sobre qual ativo é o melhor veículo para investimentos.

A  PagSeguro publicou na última terça-feira ter reportado um lucro líquido de R$ 301,3 milhões no quarto trimestre de 2021 (4T21), cifra 19,8% inferior ao registrado no quarto trimestre de 2020. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado cresceu 3,4%, totalizando R$ 750,7 milhões.

Já a sua receita líquida de outubro a dezembro somou R$ 3,24 bilhões, alta de 55% sobre um ano antes e acima da previsão de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 3,06 bilhões.

A companhia atribuiu o desempenho ao volume de pagamentos processados (TPV) por meio de adquirência somou 78,9 bilhões de reais no período, montante 42,8% maior em um ano. A Pagseguro fechou 2021 com 13,1 milhões de usuários ativos, o que significou um aumento de 5,2 milhões no ano.

A empresa afirmou que seu TPV de janeiro e fevereiro cresceu 48% e 58%, respectivamente, ante mesmos meses de 2021. Sua expectativa é de que a receita do primeiro trimestre de 2022 fique entre R$ 3,3 bilhões e R$ 3,4 bilhões, alta de 60% a 64% ano a ano e que o TPV avance de 58% a 62%. A Pagseguro previu que terá um lucro líquido (não Gaap) de 360 milhões a 370 milhões de reais.

O Credit Suisse avalia que, olhando para o primeiro trimestre de 2022, a PagSeguro guiou uma forte aceleração no TPV e aumento do take rate (ganho obtido com cada transação, que soma as taxas cobradas e desconta as despesas), à medida que a reprecificação está em andamento.

Apesar de algumas mensagens negativas, como (i) mais cautela no crédito e (ii) margem líquida menor em 2022 em relação a 2021, o time destaca que o guidance ainda sustenta a visão de um negócio robusto com valuation atraente. O guidance também indica uma margem de lucro líquido de cerca de 11%.

As margens crescentes e o TPV em rápido crescimento sugerem que o lucro líquido do primeiro trimestre pode ser visto como um piso para o ano, avaliam os analistas do banco suíço. Ainda assim, apenas anualizando o lucro líquido projetado para o primeiro trimestre, a equipe de análise enxerga as ações negociando a múltiplos atraentes em 21 vezes o preço sobre o lucro. Os analistas possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos negociados nos EUA, com preço-alvo de US$ 40, ou um potencial de valorização de 115% frente o fechamento da véspera.

O Bank of America avalia que, como esperado, os resultados foram desafiadores devido ao forte aumento das despesas financeiras. No entanto, a margem líquida da PagSeguro foi muito mais resiliente do que a da Stone, “seu par mais próximo”.

“Fomos encorajados pelo guidance do primeiro trimestre de 2022, especialmente no que diz respeito à repactuação bem-sucedida e forte crescimento de volume”, avaliam os analistas do BofA, que possuem recomendação de compra com preço-alvo de US$ 32, ou potencial de alta de 72% em relação ao fechamento da véspera.

Já para o Itaú BBA, os resultados do trimestre da PagSeguro praticamente corresponderam às estimativas, mas a mensagem positiva para o começo deste ano e 2022 como um todo deve prevalecer.

As receitas líquidas cresceram sólidos 55% ao ano, como esperado, com menores receitas de adquirência, mas melhores receitas de pré-pagamento. O Itaú BBA mantém, contudo, recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) para PagSeguro, com preço-alvo de US$ 29, ainda um potencial de valorização de 55% frente o fechamento da véspera.

Quem também possui recomendação marketperform para os ativos é o Bradesco BBI. Para os analistas do banco, os resultados do trimestre e o guidance do trimestre corrente devem ser considerados neutros a marginalmente positivos para as ações, especialmente considerando o forte desempenho das ações após os resultados de Stone na semana passada.

“Saudamos as iniciativas da empresa para melhorar os spreads, repassando custos aos lojistas – e, portanto, acreditamos que o principal ponto de discussão daqui para frente deve ser o impacto potencial nas taxas de churn (desligamento de clientes) nos próximos trimestres”, afirmam os analistas do banco.

Em suma, embora ainda acreditem que possa haver riscos negativos para os lucros no futuro, em vista do aumento das despesas de captação, preferem a exposição ao PagSeguro versus Stone neste momento, considerando um valuation muito menos esticado.

O Bank of America, como destacado acima, tem recomendação de compra para os ativos da PagSeguro, enquanto a Stone segue com recomendação neutra. “Dados os recentes deslizes, nós achamos que a Stone virou um caso de ‘mostre-me’ (os resultados)”.

Cabe destacar que os resultados passados da Stone foram mal recebidos pelos investidores, principalmente por problemas com o negócio de crédito da companhia, que está sendo reformulado. No segundo trimestre de 2021, a Stone parou as concessões de crédito após as falhas do registro de recebíveis (valores que os comerciantes têm a receber), um dos pilares para o funcionamento pleno dos produtos, o que afetou a confiança dos investidores e levou a uma queda das ações.

PagSeguro X Stone

Assim, ainda que a Stone esteja se recuperando, a visão geral é de uma visão mais positiva para a PagSeguro na comparação com a a outra companhia, ainda que a ação desta tenha registrado um desempenho muito forte após a divulgação do resultado e do guidance.

O BBA, por exemplo, ressalta que, mesmo com uma orientação otimista para o curto prazo com a Stone, segue com postura cautelosa por dois motivos: “o primeiro é que vemos uma falta de clareza quanto ao efeito potencial do processo de reprecificação da base de clientes da companhia ou a magnitude da rotatividade (churn) potencial; e em torno do plano da empresa para aumentar a rentabilidade a fim de alcançar os números das suas estimativas de custos e despesas acima das expectativas”, avaliam. Os analistas do banco seguem com recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de US$ 18.

A Stone divulgou na quinta-feira um lucro líquido ajustado de R$ 33,7 milhões no quarto trimestre de 2021,  o que representa uma baixa de 90,6% em relação ao mesmo trimestre de 2020, impactado principalmente pelo aumento de despesas financeiras.

Por outro lado, ela informou fortes projeções de desempenho para o primeiro trimestre, incluindo expectativa de receita mais que duas vezes maior que a obtida no mesmo período do ano passado: a perspectiva é de uma receita de R$ 1,85 bilhão a R$ 1,9 bilhão no primeiro trimestre de 2022, o que representaria crescimento de até 119% em comparação anual. A empresa ainda estima lucro antes de juros devendo superar os R$ 140 milhões neste trimestre, ante R$ 17,2 milhões no quarto trimestre de 2021.

“Uma mudança digna de nota para nós foi a modificação de comportamento da administração, agora declarando sua expectativa de evolução nas margens”, escreveram analistas do JPMorgan.

Após o resultado da Stone, enquanto casas como o BBI e o BBA seguiram céticos com a companhia, outros elevaram as suas projeções, como foi o caso do Citi, cujos analistas elevaram a recomendação da ação de neutra para compra.

“Os resultados ainda refletem um cenário desafiador, mas acreditamos que há sinais de um futuro levemente melhor do que o mercado espera”, escreveu a equipe de Gabriel Gusan. Para a PagSeguro, a recomendação também é de compra, com preço-alvo de US$ 36 (upside de 93%), com os analistas vendo tendências positivas para o take rate da empresa.

De acordo com compilação da Refinitiv, de 17 casas que cobrem o papel, 5 têm recomendação de compra para os ativos, 10 possuem recomendação de manutenção e 2 de venda, com preço-alvo médio de US$ 20,21, ainda um bom potencial de valorização de 41% em relação ao fechamento da véspera. Já no caso da PagSeguro, de 18 casas que cobrem o ativo, 10 têm recomendação de compra e 8 de manutenção, com preço-alvo médio de US$ 33,28, ou um upside de 79%, com os analistas mostrando, no geral, uma visão mais positiva para essa companhia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.