Os possíveis cenários para a venda da Oi móvel após a reviravolta com a oferta da Highline

Maior disputa pelo ativo é positiva para a empresa em recuperação judicial, enquanto notícia pegou TIM, Vivo e Claro de surpresa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na noite da última quarta-feira (22), a Oi (OIBR3;OIBR4) divulgou um comunicado ao mercado que trouxe uma verdadeira reviravolta na saga para a venda da operação móvel da companhia.

A empresa de telefonia, atualmente em recuperação judicial, informou ter assinado exclusividade com a Highline, controlada da americana Digital Colony, para negociar a venda da operação. Ela destacou que foi apresentada a melhor oferta, acima do preço mínimo de R$ 15 bilhões para a aquisição da unidade móvel da operadora.

Ao fechar o acordo de exclusividade, a Highline terá o direito de cobrir outras propostas recebidas ao longo da disputa.  A exclusividade vai até dia 3 de agosto, mas pode ser estendida.

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Desta forma, a Highline acabou superando a proposta conjunta feita, no sábado, pela TIM (TIMP3), Vivo (VIVT4) e Claro, que impulsionou as ações das companhias do setor em geral na segunda-feira. A reviravolta pode ser observada no desempenho das ações na Bolsa, notoriamente no caso dos ativos TIMP3, que chegaram a cair 9% na sessão desta quinta-feira, fechando em baixa de 8,43% (R$ 14,77), enquanto as ações da Vivo tiveram queda de 3,73% (R$ 49,58). Enquanto isso, as ações da Oi registraram uma alta extremamente expressiva na sessão, com os ativos OIBR3 fechando em alta de 19,40%, a R$ 1,60, enquanto os OIBR4 subiram 7,69%, a R$ 1,68.

A controlada da Digital Colony é uma desenvolvedora independente de soluções de infraestrutura para a indústria de telecomunicações, atuando em hospitais, hotéis, prédios comerciais e shoppings.

Conforme destacam os analistas do Credit Suisse, a notícia foi uma surpresa negativa para TIM, Vivo e Claro, enquanto foi uma surpresa bastante positiva para a Oi. Cabe ressaltar que, em relatório no início da semana, o banco suíço havia destacado que a TIM poderia ser a maior beneficiada com a operação, ficando com a maior parte da rede móvel caso vencesse o leilão com a Vivo e a Claro – o que também justifica uma queda mais expressiva na sessão em meio à reviravolta.

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Com relação à Oi, a Levante Ideias de Investimento aponta que o aumento da concorrência pelo seu negócio móvel eleva o preço inicial da oferta e pressiona os credores a aprovarem os termos na assembleia de credores marcada para 17 de agosto, em que estará em votação o aditamento do programa de recuperação judicial aprovado em 2017.

Já para as demais companhias, mesmo que elas esperassem uma concorrência na oferta, os termos associados a exclusividade pegam ambas de surpresa. “A situação mudou: agora quem tem preferência pelo ativo móvel da Oi é a Highline e não mais o consórcio formado por Claro/TIM/Vivo. As três empresas agora têm apenas uma chance de elevar o valor da sua proposta pelos ativos da Oi e a Highline tem direito de preferência de igualar a oferta”, avalia a Levante.

Além disso, há uma outra possibilidade, avalia a Levante, a de entrada de um terceiro competidor na disputa pelos ativos da Oi. No caso, a empresa mineira Algar num consórcio com o fundo de Cingapura GIC, que também pode fazer um lance pelos ativos.

Porém, os analistas do Credit Suisse continuam a ver Vivo, TIM e Claro como as mais prováveis ​​vencedoras na disputa pela Oi Móvel. Além disso, eles apontam ser improvável que a Highline, caso se consagre vencedora da disputa, vire uma operadora de celular.

No relatório, eles se baseiam na informação veiculada pelo Teletime, site especializado no setor, que aponta que a Highline quer comprar a Oi inteira, da operação móvel à rede de fibra (InfraCo), passando pela unidade de torres (para a qual já fez uma oferta de R$ 1,07 bilhão). O plano da empresa não é ser operadora de serviços ao consumidor final, mas sim operadora de rede.

A ideia desenhada pela Highline é de um projeto inédito no Brasil em que, caso a operação de compra da Oi seja bem sucedida, tornará uma operadora neutra em todos os níveis. No modelo de “rede neutra”, a empresa faz a negociação de compartilhamento das radiofrequências que possui para reforçar a cobertura de serviço das operadoras tradicionais, que atendem ao consumidor final.

Assim, aponta a publicação, os planos da controlada da Digital Colony estariam em vender posteriormente às concorrentes a rede móvel em um leilão estruturado, em que um dos itens será o compromisso das empresas compradoras de utilizarem a infraestrutura de torres, rádio e espectro da Oi Móvel. O mesmo aconteceria para a InfraCo, unidade de redes de fibra da Oi com 400 mil km de rede, para a qual a Highline também deve fazer uma oferta.

Com isso, o Credit Suisse listou três possibilidades para a venda da Oi móvel, conforme destacado a seguir:

1. TIM, Vivo e Claro fazem os lances mais altos e vencem a disputa

Na avaliação do Credit, esse cenário é muito provável e seria positivo para a Vivo, TIM e Claro (exceto no caso de uma oferta extremamente alta, o que é visto como improvável).

O acréscimo de valor da arbitragem entre o preço pago e o valor potencial da Oi Mobile, uma vez incorporado a seus concorrentes, se tornaria menor nesse cenário. Contudo, ainda haveria benefícios para essas companhias, como sinergias, ganhos de escala e menor concorrência, sendo esses os mais importantes para a criação de valor.

2. Highline vence o leilão e se torna uma operadora de celular

Para o Credit, esse cenário é improvável, uma vez que a Highline não possui histórico como operadora móvel.

“Não vemos a Oi Mobile como potencialmente mais competitiva sob a administração da Highline. Na verdade, a Highline perderia algumas das sinergias operacionais entre os negócios de telefonia móvel e de telefonia fixa de que a Oi atualmente desfruta. Acreditamos que seria necessário um investimento de investimento significativo para que a Oi Mobile se recuperasse em termos de qualidade”, avaliam os analistas.

3. Highline vence o leilão, mas vende a subsidiária para os players existentes

Na avaliação dos analistas, esse é o cenário mais provável no caso da vitória da Highline. E, conforme destacado acima, é o que deve ser feito, com a Highline planejando vender a operação móvel e permanecendo como uma empresa de soluções de infraestrutura (potencialmente comprando também os ativos de fibra da Oi).

Esse cenário ainda pode ser positivo para as empresas de telecomunicações, pois haveria uma chance de aquisição dos ativos e ganhos de escala. O potencial de ganhos dependerá do preço da transação.

Diversos cenários e muitas incertezas….

Porém, vale destacar que, mesmo se TIM/Vivo/Claro sejam as vencedoras, há um ponto a ser observado de perto pelo mercado. Segundo reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” na véspera, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não vê chances em aprovar a venda da unidade de telefonia móvel da Oi em um consórcio formado pelas três companhias. Com isso, a notícia de que a Digital Colony entrou na disputa foi vista com alívio.

O Cade teme que o consórcio das três empresas venha a fatiar o mercado por estados em pedaços equivalentes, de modo que cada um ficasse com cerca de 33%, o que reduziria os incentivos para a competição, aponta a publicação.

Assim, há muitas incertezas ainda no radar sobre a operação. O que se sabe, por enquanto, é que a Oi sai como a maior vencedora no cenário de maior disputa pelos ativos, o que justifica a valorização recente das ações.

Conforme destaca o Credit Suisse, o noticiário recente de notícias é bastante positivo para a companhia por dois pontos. O primeiro deles é que a empresa parece já ter garantido uma oferta de pelo menos R$ 15 bilhões para sua operação móvel. Em segundo lugar, se a notícia de que a Highline também está interessada na operação FiberCo for confirmada, um acordo pode ser transformador para a avaliação da Oi e potencialmente levar a uma reprecificação das ações.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.