Oi (OIBR3, OIBR4): Por que ações não continuaram subindo após a decisão favorável do Cade?

Prazo para recuperação judicial da companhia termina em março; empresa deve focar em fibra óptica após venda de ativos móveis

Mitchel Diniz

Oi telecomunicações

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Quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a venda da Oi Móvel para TIM (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro, no último dia 9 de fevereiro, muito se falou sobre como a operação poderia destravar valor para as ações da companhia, que ainda não saiu da recuperação judicial. Mas desde então os papéis tem enfrentado uma sequência de quedas.

Na véspera da decisão do Cade, os papéis ON da OI (OIBR3) subiram quase 10%, valendo R$ 1,04. Já no dia da aprovação da venda da Oi Móvel, as ações caíram, no melhor estilo “sobe no boato, cai no fato”. Dede então, até o fechamento de ontem, OIBR3 recuou 13,46% e é negociada na casa dos R$ 0,90. As ações PN (OIBR4) tiveram comportamento semelhante: valiam R$ 1,76 na véspera da decisão do Cade e ontem fecharam a R$ 1,53, queda de 13,06% no período.

“Algumas pessoas apostavam que a ação ia saltar de R$ 1 para R$ 10 do dia para noite e não é o caso”, afirma Fabiano Vaz, analista da Nord Research. Ele acredita que muitos investidores decidiram embolsar lucros após a valorização dos papéis em janeiro. Naquele mês, OIBR3 subiu 40,79% e OIBR4 avançou 36,72%.

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Vale lembrar que a base de investidores da Oi é pulverizada e, por estar em recuperação judicial, alguns fundos ficam impedidos de investir na empresa. É principalmente o investidor pessoa física que investe na empresa. “Tem os impacientes que não conhecem a tese da companhia e não tem paciência para esperar”, afirma Vaz.

A Oi deve receber R$ 15,8 bilhões líquidos pelos ativos móveis vendidos a concorrente e quitar uma parte considerável de sua dívida, que atualmente está em R$ 29,9 bilhões de reais. O BTG Pactual estima que R$ 4,5 bilhões do montante deve ser pago ao BNDES e usar o restante para pagar títulos americanos e dívidas com instituições financeiras.

Sem a Oi Móvel, a empresa deve focar nos investimentos em fibra óptica, que estão sendo capitaneados pela V.tal, braço de infraestrutura da companhia.

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A Oi vendeu o controle da V.tal para fundos do BTG, operação que já foi aprovada pelo Cade, mas ainda precisa da anuência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para fechar o deal. O negócio de fibra óptica tem alto potencial de crescimento, segundo analistas. Com a substituição de fiação de cobre, a Nova Oi aposta na construção da rede neutra – uma estrutura que também poderá ser utilizada por outras operadoras e é fundamental para o 5G.

“A venda de suas operações móveis, combinada com a venda dos ativos de fibra, deve ajudar a Oi a ajustar sua estrutura de capital, sair da recuperação judicial e focar no crescimento de sua base de clientes”, escreveu o BTG, que tem preço-alvo de R$ 2,30 para OIBR3, potencial de valorização de mais de 100%.

A V.tal, com foco no atacado, vai disponibilizar infraestrutura de fibra para essas operadoras e provedores de internet. Esse braço da Oi promete ter papel relevante em levar 5G para operadoras de telefonia móvel. Ao mesmo tempo, é um investimento que traz retornos no longo prazo e exige uma queima de caixa muito grande.

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“Vai ser desafiador para a Oi crescer em fibra, pois há a concorrência de empresas menores, que estão capitalizadas, mas a gente acha que ela vai ser vencedora”, afirma Luiz Guerra, CIO da Logos Capital. A gestora investia em OIBR3 desde 2019, mas saiu da ação depois que o preço bateu R$ 1,75, no ano passado. Após a decisão do Cade, voltou a se posicionar no papel, mas com um percentual pouco expressivo de 0,3%.

O analista de um grande banco, que acompanha as ações da Oi, diz que, mesmo após a aprovação da venda dos ativos móveis, a empresa continua com uma dívida muito alta e um risco de execução de sua parte operacional muito grande.

“A Oi deixou de ser um papel que negocia em cima do fluxo de notícias – a discussão passa a ser a entrega do operacional e isso não acontece em um único dia. São alguns trimestres de consistência e o investidor não está disposto a pagar upfront [antecipado] por isso”, diz o analista.

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Compilação feita pela Refinitiv com casas de análise que cobrem o papel mostra opiniões divididas. Das cinco casas que cobrem o papel, três recomendam compra e duas recomendam manutenção (hold).

Por outro lado, o preço-alvo médio para os ativos caiu nos últimos quatro meses. Em outubro a média desse preço-alvo era de R$ 2,58. Atualmente, está em R$ 1,63, ainda com um potencial de alta de 61% em relação ao fechamento da sessão passada.

Prazo para recuperação judicial termina em março

Em 2016, ao entrar com um pedido de recuperação judicial para evitar falência, a Oi (OIBR3,OIBR4) acumulava uma dívida de R$ 65 bilhões – montante que foi diminuindo com proposta de reestruturação.

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A aprovação da venda da Oi Móvel para a TIM (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro ontem (9) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é um avanço importante para um dos mais complexos planos de recuperação judicial da história. Mas não tira os desafios que a ex “super tele” deve ter pela frente, ainda que melhorando o perfil de endividamento da companhia.

A companhia já havia vendido outros ativos para saldar a dívida: negociou torres móveis com a Highline Brasil (R$ 1,07 bilhão), data centers com a Piermonte Holding (R$ 325 milhões) e vendeu participação de 57,9% na V.tal (ex-InfraCo), para fundos do BTG e Globenet. Esta última operação foi aprovada pelo Cade mas ainda carece de anuência prévia da Anatel.

A RJ da Oi já havia sido prorrogada. Inicialmente, era para ser concluída em 4 de outubro do ano passado, mas o prazo foi estendido para 31 de março. O juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, deu mais tempo para a companhia conseguir autorizações do Cade e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na venda de seus ativos de telefonia móvel.

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Com a obtenção de todas as aprovações regulatórias, a Oi precisa avançar com algumas etapas societárias para a transferência dos ativos móveis para as três operadoras concorrentes. O closing da operação deve acontecer até o início de abril.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados