O Samba do Orçamento-Bomba e o Aprofundamento da Crise

O Brasil entrou numa fase de perda sistemática de autoestima. Todos, trabalhadores e empresários, pobres e ricos, crianças e velhos, perderam a confiança no país

Francisco Petros

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A estratégia da presidente Dilma Rousseff de enviar para o Congresso Nacional um “orçamento-bomba” é absolutamente irresponsável. Não se atua contra “pautas-bombas” com “orçamento-bomba”.

Se o Congresso Nacional não cumpre o seu papel de encontrar saídas legislativas para as demandas sociais, políticas e econômicas, o Executivo não pode se furtar ao seu papel de ser governo, de propor políticas e medidas em prol do povo – no Brasil pregar isso parece coisa de bobo.

O Brasil entrou numa fase de perda sistemática de autoestima. Todos, trabalhadores e empresários, pobres e ricos, crianças e velhos, perderam a confiança no país. Isso é responsabilidade direta da classe política que em seu egoísmo autofágico propagou comportamentos antirrepublicanos, tais como o nepotismo, o autobenefício e a corrupção. Também é responsabilidade indireta da própria sociedade que abandonou a política aos lobos e vota mal, seja por ignorância, seja por pura displicência com a cidadania.

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A crise que se formou no Brasil nos últimos vinte anos é profunda: o custo das demandas da sociedade, especialmente dos detentores das maiores parcelas do Poder, não cabe mais no orçamento. Engana-se quem pensa que esta é crise desta administração. É uma crise do Estado. Dilma Rousseff praticou o esporte da ignorância econômica, da arrogância política e do despreparo no exercício de seu cargo nos últimos anos. Agora o custo de suas aventuras se derrama pela sociedade brasileira que, por meio de seus representantes, aceitou passivamente as mazelas presidenciais.

Este quadro pode ser superado com esforço direcionado corretamente. É preciso largar as pequenezas da política que tenta salvar corruptos e empregar apaniguados políticos e partir, em sentido renovado, para reformar o país. Para tanto será preciso desacomodar grande parte dos interesses acostados no Estado e reacender o “fogo criativo” do país em prol do emprego, da produtividade e do desenvolvimento capitalista.

É certo que é baixa a probabilidade de que o país, por meio de sua classe política, tome o rumo reformista. Todavia, deve ficar claro que, se tudo ficar como dantes, a crise se aprofundará, ainda mais, até que as forças sociais e políticas se movimentem. Não há saída razoável sem reformas. Senão, estamos tratando de papo furado.

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Ademais, a crise internacional está ficando evidente: a desaceleração da economia chinesa é fato irretocável e não negligenciável e os riscos de que tenhamos um realinhamento do valor dos ativos nos principais mercados dos países centrais do capitalismo são enormes. Os movimentos negativos das bolsas de valores ao redor do mundo são apenas o começo de uma tendência, desta feita, negativa. Os índices de volatilidade dos mercados norte-americanos (VXN e VIX) demonstram isso cristalinamente. Quem viver, verá.

O Brasil encontrará condições adversas no mercado internacional, mas suas maiores dificuldades estão aqui dentro. A forma com a qual a presidente trata a questão do orçamento demonstra bem o terreno que estamos pisando. Em breve, ficará evidente que o Ministro Joaquim Levy estará ainda mais vulnerável. Afinal de contas, goste-se ou não do ministro, ele é o principal pilar da racionalidade econômica deste governo perdido. As pressões petistas pela “mudança da política econômica” – coisa que ninguém sabe o que significa -, bem como o maior protagonismo do Ministro Nelson Barbosa na confecção destas políticas dilmistas, serão razões suficientes para que o ministro caia em desgraça ou não dê o seu sinal da graça e entregue uma cartinha de demissão para Dilma. A saída de Levy pode ser o sinal que falta para perdermos o grau de investimento.

Se o Brasil não recuperar a autoestima agora, verá a crise crescer. Ou seja, substituiremos o grau de investimento pelo grau de loucura. Este último indicador está em alta acelerada e contínua sob o patrocínio de uma classe política aquém do que o Brasil precisa e merece.