O rali de fim de ano da Bolsa começou? Veja o que dizem os analistas

Para alguns especialistas, o fenômeno de arrancada de preços da Bolsa já pode ter começado; outros acreditam apenas em acomodação

Mitchel Diniz

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Mesmo em meio ao ambiente de incertezas e ainda acumulando uma queda expressiva no ano, figurando entre os piores desempenhos do mundo em 2021, as últimas três sessões têm sido de alívio para o Ibovespa, com o índice saindo da casa dos 100 mil pontos na última quarta-feira (1) para chegar a superar os 107 mil pontos nesta segunda (6).

É recorrente que se aponte a justificativa do rali do final de ano. Mas será “folclore” ou a Bolsa costuma mesmo dar uma arrancada para cima nos últimos meses do ano? E essa história poderia se repetir agora, mesmo com as quedas de outubro e novembro do principal índice da Bolsa brasileira?

Pesquisando dados históricos da Bolsa nos últimos 20 anos, o analista Enrico Cozzolino, da Levante Ideia de Investimentos conclui que sim: existe um “rali” de final de ano. “Os meses de outubro, novembro e dezembro dos últimos 20 anos foram os meses que mais subiram, com performance acima da média dos outros meses. Em 70% das vezes, os números subiram”, explica Cozzolino.

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Ele também elenca os motivos pelos quais a Bolsa sobe mais nessa época do ano. Um dos principais, é a sazonalidade do varejo, com datas importantes para o calendário do setor, como Natal, Dia das Crianças e, há alguns anos, a Black Friday. “Existe uma mudança de consumo das pessoas nessas datas e esse pode ser um dos fatores que explicam”, diz Cozzolino.

O analista, no entanto, lembra que ações do consumo e varejo também possuem Beta alto – ou seja, sobem mais do que a média quando o mercado sobe, porém tendem a cair mais quando o contrário acontece. “Vindo o fluxo de compra dessas ações, certamente ainda que o peso delas seja menor no Ibovespa, tem prezo relevante e amplia o humor de mercado para essa companhia também”,  afirma Cozzolino.

Em relatório, Fernando Ferreira e Jennie Li, estrategistas da XP, também apontam que, historicamente, o quarto trimestre é o que traz melhores retornos, olhando para os últimos 20 anos.

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Mas será que, na atual conjuntura, com um histórico recente ruim para as ações de varejistas e indicadores fracos da economia, a Bolsa brasileira ainda tem condições de passar por um “rali”?

Para alguns analistas, ele já começou, levando em conta a recuperação do Ibovespa nos últimos dias. Na terça-feira passada (30), o índice quase perdeu os 100 mil pontos e nesta segunda-feira oscila no patamar dos 107 mil. Outros são mais cautelosos e até duvidam que essa arrancada de preços possa vir a acontecer este.

“Não é porque aconteceu rali nos últimos anos que obrigatoriamente teria que acontecer de novo”, explica Henrique Esteter, especialista em investimentos do InfoMoney.

Segundo ele, muitas incertezas que estavam sobre a mesa começaram a ter um desfecho, como o Banco Central dos Estados Unidos confirmando a retirada de estímulos à economia (tapering) e, aqui no Brasil, a aprovação da PEC dos Precatórios no Senado. O que ainda falta ser esclarecido é se a variante ômicron, do coronavírus, é de fato uma mutação grave e resistente às vacinas.

“Esse vai ser um ponto decisivo para gente ter ou não uma definição maior quanto uma performance da Bolsa até o fim do ano”, complementa.

Alexandre Almeida, economista da CM Capital, está otimista e acredita que o rali de fim de ano pode sim ter começado. Ele justifica a opinião, argumentando que a Bolsa já está subindo mesmo quando não há indicadores positivos no cenário interno e no exterior. “O PIB [do terceiro trimestre] veio pior do que o esperado, tivemos produção industrial [de outubro] ruim e mesmo no exterior vemos uma criação de vaga de empregos pior do que a esperada”, afirma.

Almeida lembra que essa recuperação vem de um nível muito baixo. Ricardo Oliboni, sócio da Axia Investing, diz que isso abre uma grande oportunidade para quem está pensando em investimento a médio e longo prazo.

“Os ‘papéis’ estão baratos, a cotação está abaixo do que a empresa realmente vale e isso não se perdura, o que torna atrativo para o capital estrangeiro voltar a entrar em solo brasileiro”, afirma Oliboni.

Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, o investidor já consegue ter um panorama do que vai acontecer com as finanças do país e com o orçamento do ano que vem. “Se o mercado externo colaborar e se as vacinas forem eficazes [contra a variante ômicron], teremos bons ventos soprando em dezembro e janeiro”, afirma Gonçalvez.

Mesmo faltando menos de um mês para o final do ano, alguns analistas acham que é cedo para falar em rali. Carlos Carvalho Junior, CIO da Kínitro Capital, crê que a recuperação possa ser resultado de uma diminuição do fluxo de resgates, com alguns fundos começando a identificar oportunidades.

“A Bolsa brasileira está com diferencial muito grande de performance em relação a outras Bolsas e com múltiplos bastante descontados. Temos, aliás, um desconto inédito em relação aos pares emergentes e isso chama muito a atenção”, diz Carvalho Junior.

Para Simone Pasianotto, economista-chefe da REAG Investimentos, dizer que o rali começou é se antecipar. “Eu entendo ainda como um movimento de acomodação de preço em um ambiente de incerteza”, afirma. Segunda ela, o Ibovespa já se comportou de maneira parecida ao longo do segundo semestre. “Já assistimos a esse filme e o resultado não foi um rali, mas uma derrapagem”, diz a economista.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados