O que os dados de fluxo podem indicar para o Ibovespa? JPMorgan vê sinais positivos pela frente

Posição "leve", incluindo dos estrangeiros, na Bolsa brasileira em abril podem trazer cenário mais positivo com sinais mais claros de queda de juros

Lara Rizério

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A dicotomia entre estrangeiros e locais em relação às ações brasileiras continuou durante abril, embora um pouco mais atenuado, avalia o JPMorgan em relatório, ao analisar o fluxo para a B3 no mês passado.

Os resgates dos fundos de patrimônio foram os mais baixos do ano (mas ainda bastante robustos), enquanto as entradas dos estrangeiros foram suficientes apenas para reverter as saídas observadas em março.

“Em outras palavras, não há uma tendência clara sobre a visão dos estrangeiros nesta fase, enquanto os locais continuam se afastando das ações. Este posicionamento “leve” pode ser uma indicação de que um importante catalisador está se formando à frente”, avaliam as estrategistas Emy Shayo e Cinthya Mizuguchi, que assinam o relatório.

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Elas apontam que o fluxo estrangeiro deve se firmar assim que houver clareza de que as taxas de juros da economia brasileira vão cair, um sinal que pode surgir com melhores leituras de inflação e a votação no congresso do arcabouço fiscal (final de maio). Além disso, o final da temporada de resultados, que ocorrerá no início da semana que vem, deve fornecer um piso para revisões de lucros.

As estrategistas apontam que os estrangeiros trouxeram R$ 2,6 bilhões em abril, após resgates em fevereiro e março. A primeira semana de maio foi negativa (R$ 2 bilhões), mas os fluxos acumulados no ano estão positivos em R$ 9 bilhões, principalmente por conta de um janeiro muito forte.

De acordo com o EPFR, o Brasil continua sendo um mercado em que o fluxo externo está com posição líquida, também junto à Índia e à Indonésia dentro da alocação de fundos de emergentes.

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Do ponto de vista global, os fluxos no Brasil devem depender até certo ponto do que acontecerá a seguir com as ações nos EUA. Assim, uma queda do S&P500 pode ser uma leitura ruim para os emergentes em geral.

“Por outro lado, os desdobramentos na frente local podem ser mais positivos daqui para frente. É preciso ficar de olho na votação do arcabouço fiscal no Congresso e o que vai ser decidido sobre a meta de inflação. Por fim, os dados sobre a atividade econômica têm surpreendido positivamente, colocando um viés de alta nas estimativas do PIB”, avaliam.

O Bank of America aponta que, olhando para os dados de abril, os fluxos para mercados emergentes ficaram positivos, mas direcionados principalmente para a China. Os resgates dos locais continuam em meio a altas taxas de juros e cenário macroeconômico ainda fraco.

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Não apenas fundos de ações e hedge funds estão registrando saídas, mas também fundos de renda fixa e cadernetas de poupança. O fraco desempenho do Ibovespa e as saídas de fundos de ações significam que a alocação para ações na indústria de fundos do Brasil continua em declínio (8,7% em março contra 9% em fevereiro).

O Ibovespa continua com o pior desempenho na comparação de retornos, em queda de 3% no acumulado do ano, ante alta de 14% do índice referência do México, alta de 3% do índice de emergentes e alta de 8% do S&P500.

“O desempenho fraco significa que o Brasil perde peso dentro dos fundos emergentes (peso do Brasil dentro do MSCI de emergentes agora está em 5% ante 5,3% seis meses atrás)”, aponta.

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Vale destacar que, no fim do mês passado, tanto JPMorgan quanto Bank of America reiteraram sua visão positiva para as ações brasileiras, de olho no início da queda de juros por aqui e nos valuations atrativos.

Na mesma linha, o BTG Pactual destacou que a queda dos juros de longo prazo pode desencadear uma importante reavaliação positiva do Ibovespa.

Os estrategistas do banco fizeram um exercício simples para estimar o valor justo do Ibovespa em vários cenários, que envolvem diferentes premissas para inflação de longo prazo, taxas de juros reais de longo prazo e crescimento real do PIB, indicando um potencial de valorização entre 7% e 25%.

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O banco afirma que a situação atual aponta para um cenário mais difícil para as principais premissas que utiliza em seu exercício, uma vez que as taxas reais de longo prazo são as mais altas desde 2018, as previsões de crescimento do PIB
são baixas e a inflação está se mostrando mais resiliente do que o esperado. “Mas, dado o quão baratas são as ações brasileiras, melhorias marginais nas principais variáveis podem ser suficientes para sinalizar algum potencial de alta”, afirmam.

Um cenário de taxas de longo prazo em 5% (versus 5,95% no início do mês), crescimento do PIB de 1% (em linha com o consenso de mercado) e inflação de 4,5% (versus consenso de 6% para 2023) apontaria para um múltiplo de preço sobre o lucro (P/L) justo de 9 vezes e o Ibovespa em 109 mil pontos.

Um cenário mais benigno, com taxas de longo prazo caindo para 4,5%, crescimento do PIB de 1,5% e inflação de 4%, apontaria para um múltiplo P/L justo de 10,6 vezes,  implicaria em um Ibovespa em 127 mil pontos.

Assim, os analistas estarão de olho nos dados de inflação medidos pelo IPCA de abril, a serem divulgados na próxima sexta-feira (12). Na terça, o Ibovespa subiu 1% após declarações de Simone Tebet, ministra do Planejamento, sobre o IPCA. Ela afirmou que o dado pode vir abaixo do esperado, trazendo um maior otimismo por parte dos investidores, desencadeando um fluxo comprador em ativos sensíveis ao juros.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.