Santander Brasil inaugura temporada de balanços para os grandes bancos: o que esperar para o setor no 3º trimestre?

Expectativa é de estabilidade nos lucros frente 2º tri e alta na base anual, mas analistas ficam de olho na dinâmica de crédito para 2022

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A temporada de resultados do terceiro trimestre ganha força e começa na próxima quarta-feira (27) para os bancos, com o Santander Brasil (SANB11) sendo o primeiro das grandes instituições financeiras a divulgar os seus números, antes da abertura dos mercados, mas com outras empresas já divulgando nesta terça-feira (26).

Na base de comparação anual, o Bank of America espera que os grandes bancos registrem uma alta de 30% dos lucros, refletindo um crescimento sólido da margem financeira (NII, na sigla em inglês), uma vez que uma combinação de empréstimos melhor deve compensar principalmente os custos de financiamento mais elevados) e qualidade de ativos estável.

Por outro lado, é provável que as despesas operacionais desapontem com os aumentos salariais anuais negociados recentemente de cerca de 11%.

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A XP vê um trimestre sem grandes surpresas para os bancos, esperando que a margem financeira seja beneficiada por um mix de crédito mais rentável com crescimento puxado pela carteira de pessoa física, efeito parcialmente compensado pelo maior custo de captação devido à Selic mais alta.

Além disso, veem os seguintes destaques positivos: i) receita de serviços, impulsionado por maiores volumes e pela retomada da atividade econômica, mais do que compensando a pressão em tarifas em função da adoção do Pix (reduzindo receita proveniente de transferências entre contas – TED/DOC) e da maior competição proveniente dos bancos digitais; e ii) inadimplência ainda controlada em níveis baixos.

Na avaliação do Bradesco BBI, de maneira geral, no setor o lucro líquido deve contrair levemente na comparação com o segundo trimestre de 2021, mas as tendências permanecem positivas. A margem financeira com clientes deve se beneficiar de um melhor mix de crédito, enquanto provisões estão retornando aos níveis normalizados.

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As receitas de tarifas e despesas operacionais devem crescer ligeiramente, a partir do melhor desempenho no segundo trimestre e também ressaltando os reajustes salariais.

O Itaú BBA aponta que os bancos tradicionais reportarão lucros no terceiro trimestre em linha com os vistos na temporada anterior. Enquanto a carteira de crédito deve apresentar bom crescimento, na casa dos 3% na comparação trimestral, os analistas não veem avanços na margem com cliente. Além disso, apesar de uma esperada melhora no mix de produtos, o aumento de custos de financiamento supera a capacidade de repasse dos bancos, o que resulta em compressão nos spreads. “Isso deve ocorrer especialmente em linhas de crédito como imobiliário e consignado”, afirmam.

Como fruto dessas dinâmicas, a projeção da casa é de um crescimento da margem financeira aquém da carteira. Receita com serviços tem se recuperado de maneira mais tímida, enquanto as despesas devem seguir aumentando, sobretudo com o dissídio no setor bancário, o que deve acabar neutralizando os esforços de eficiência implementados pelos bancos. A inadimplência também deve subir, com impacto nos gastos com provisão para inadimplência ou consumindo parte do colchão já formado para isto nos bancos.

Os analistas da casa, assim, apontam que, isso somado a um maior prêmio de risco, deve haver um limite para a expansão de múltiplos ao longo do próximo ano, refletindo uma visão mais cautelosa deles com Bradesco (BBDC4) e Santander (a casa não cobre os papéis do Itaú). O Banco do Brasil (BBAS3) é a escolha de “valor” e o banco tradicional de preferência dos analistas para 2022, tese amparada por lucros sólidos e valuations substancialmente descontados em relação aos pares.

Para o Safra, a expectativa é de que todos os bancos da cobertura dos analistas da casa relatem uma expansão de dois dígitos nos lucros quando comparados com a baixa base de 2020.  Eles apontam que o Banco do Brasil e o Itaú Unibanco (ITUB4) devem ser os destaques do trimestre, embora os resultados devam ser positivos para os bancos brasileiros no geral, com exceção do Banrisul (BRSR6) entre os ativos de cobertura da instituição.

Leia também: O que esperar da temporada de resultados?

A expectativa dos analistas do Bradesco BBI é de que o Itaú deva ter desempenho melhor do que o Santander, principalmente por conta das despesas operacionais, enquanto outras tendências provavelmente serão semelhantes, e o BB pode surpreender positivamente nas negociações e nos ganhos da Previ.

Dentre os bancos da cobertura da XP, a equipe espera que o Banco do Brasil seja o destaque no trimestre, impulsionado principalmente pelo crédito rural.

De qualquer forma, o BBI aponta que, para o setor em geral, apesar das tendências positivas esperadas para o terceiro trimestre, os analistas avaliam que os principais questionamentos devem estar relacionados à dinâmica de crédito de 2022.

Confira o que esperar para os resultados dos bancos no terceiro trimestre de 2021:

Santander Brasil – divulgação do balanço: 27 de outubro, antes da abertura do mercado

De acordo com consenso Refinitiv, a projeção é de um lucro líquido de R$ 4,172 bilhões para o Santander Brasil no terceiro trimestre, em linha com o divulgado no segundo trimestre, quando lucrou R$ 4,171 bilhões.

O Bradesco BBI, por sua vez, espera um lucro líquido recorrente de R$ 4,0 bilhões, queda de 4,2% na variação trimestral e alta de 3,5% na variação anual, com Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20,2%, versus 21,6% no segundo trimestre de 2021 e 21,0% no terceiro trimestre de 2020.

Os analistas apontam que, apesar da compressão de lucros no trimestre, esperam que as tendências sejam positivas, com margem financeira com os clientes crescendo 3,6% na variação trimestral e 12,9% na variação anual, em um melhor mix de crédito. Enquanto isso, a receita de tarifas deve apresentar expansão de 3,0% na variação trimestral e 13,4% na variação anual, impulsionada pela maior transação de clientes no terceiro trimestre.

Em contrapartida, a expectativa é de crescimento de 5,8% nas provisões de crédito no trimestre, à medida que o
custo do risco começa a convergir aos níveis pré-pandêmicos e incorpora um portfólio mais arriscado. A projeção é de alta de 9,2% das despesas operacionais na base trimestral e de 9,0% na variação anual, atribuíveis ao reajuste salarial e aos investimentos realizados pela empresa.

Mais otimista, o Safra projeta que o banco entregue bons resultados de lucros, mantendo o nível de rentabilidade mais forte, com o lucro líquido crescendo 13,4% na comparação anual, para R$ 4,376 bilhões, levando seu ROAE (Retorno sobre o Patrimônio Médio) a um recorde histórico de 21,8%.

Itaú Unibanco – divulgação do balanço: 3 de novembro, após o fechamento do mercado

A projeção, segundo consenso Refinitiv, é de que o Itaú registre um lucro de R$ 6,73 bilhões no período, alta de 2,9% na comparação com o segundo trimestre.

Na mesma linha, o BBI espera um lucro de R$ 6,7 bilhões, alta de 2% na base trimestral e de 32,7% na anual, com ROE de 19,3% (versus 18,9% no segundo trimestre de 2021 e de 15,7% no terceiro trimestre de 2020).

A projeção é de que a margem financeira com clientes deva crescer 3,9% no trimestre e 12,3% no período, enquanto os ganhos de tesouraria devem cair no trimestre. Os encargos de provisão devem aumentar no trimestre, convergindo para os níveis pré-pandêmicos.

“Acreditamos que as receitas de tarifas serão reduzidas em 2,0% na variação trimestral (alta de 3,4% na variação anual), refletindo uma base de comparação maior em base sequencial. Enquanto isso, os seguros devem crescer 6% no trimestre (queda de 12,5% na variação anual), já que o último trimestre teve impactos significativos da pandemia. Já as despesas operacionais devem ficar estáveis no trimestre e cair 1,0% no comparativo anual, uma vez que os reajustes salariais devem ter sido compensados por iniciativas de controle de custos.

Para o Safra, o Itaú deve entregar forte lucro líquido recorrente (aumento anual de 31,9%, para R$ 6,638 bilhões), com retorno sobre patrimônio líquido médio de 19,3%, devido ao crescimento acelerado da renda líquida com juros.

Bradesco – divulgação do balanço: 4 de novembro, após o fechamento do mercado

Na avaliação dos analistas do Safra, Bradesco e Itaú devem reportar resultados com dinâmicas muito semelhantes, com boa evolução da receita e provisões ainda em queda, levando à expansão anual dos lucros de cerca de 30%.

Para o Bradesco, a projeção da casa é de alta do lucro de 28,1% na base anual, ainda beneficiado por menores provisões para créditos. No consenso Refinitiv, a projeção é um lucro totalizando R$ 6,469 bilhões no trimestre, alta de 2,37% na comparação trimestral e de 28,6% na comparação com igual período de 2020.

Já as operações de seguros do banco, que afetaram o resultado no último trimestre, devem apresentar alguma recuperação em relação ao trimestre anterior, mas ainda menor no comparativo anual, avalia o Safra. A expectativa é de que o ROAE fique em 17,1%, alta anual de 2,4 ponto porcentual.

O Bank of America espera um lucro estável, a R$ 6,3 bilhões, e um ROE de 17%, com crescimento da carteira de crédito, mas com o segmento de seguros ainda impactando, longe do nível normal. Já as despesas operacionais devem ter uma pressão especialmente em 2022.

Banco do Brasil – divulgação do balanço: 8 de novembro, após o fechamento do mercado

Os analistas de mercado apontam que, entre os bancos tradicionais, o BB pode ser o que reserve mais surpresas positivas. A projeção Refinitiv é de um lucro de R$ 4,913 bilhões no trimestre, alta de 41% na base anual, ainda que em queda de 2,50% frente o segundo trimestre.

“O Banco do Brasil, em nossa opinião, deve ter um dos melhores resultados entre os maiores bancos de nossa cobertura, refletindo a combinação de bom crescimento da receita, uma redução relevante nas provisões e o bom desempenho dos resultados dos planos de Previdência”, aponta o Safra.  A projeção da casa é de um lucro ajustado de R$ 4,9 bilhões (alta anual de 40,8%), representando um ROAE de 13,3%.

O BBI projeta lucro de R$ 4,66 bilhões, mas destaca que essa linha do balanço pode surpreender impulsionado pelos ganhos da tesouraria e da Previ.

“Apesar do potencial risco de alta, acreditamos que a qualidade dos ganhos ainda deve ser fraca. O resultado com intermediação financeira deve ter um crescimento tímido com uma receita de tarifas estável”, avaliam os analistas.

Além disso, apesar da expansão do crédito de 2,9% no trimestre (alta de 8,7% no ano), a expectativa é de margens financeiras (queda de 0,5% no trimestre, alta de 2,1% no ano) sendo impactadas pela alta da Selic, uma vez que os passivos são reavaliados mais rapidamente do que os ativos.

As provisões devem crescer 35,9% na variação trimestral (queda de 29,2% na variação anual), convergindo para níveis
normalizados, enquanto as tarifas devem ser relativamente estáveis na variação trimestral e anual. Já as despesas
devem cair 1,8% no trimestre (alta de 1,3% na variação anual), refletindo iniciativas de controle de custos.

Outras instituições

Na linha dos bancos médios, para o BBI, o Banco ABC Brasil (ABCB4) deve apresentar os resultados mais fortes, impulsionado por uma melhor linha de receita, despesas operacionais controladas e uma redução da taxa efetiva de imposto. O Itaú BBA também ressalta que o Banco ABC continua colhendo frutos do crescimento sustentável em pequenas e médias empresas (PMEs) e do saudável portfólio de crédito.

Banco Pan (BPAN4), por sua vez, avalia o BBI, deve apresentar fortes KPIs, ou Indicadores-Chave de Desempenho, mas com pressão sobre os resultados. Isso porque os analistas acreditam que as despesas operacionais possam crescer acima de nossas projeções, enquanto novo produto da folha de pagamento do FGTS deve pressionar margens em comissões de originação mais altas. O BBA aponta que o Pan deve mostrar números mais fracos por menor ritmo de originação de consignado e menos cessões de carteira. Isso deve ser compensado pela nova linha de saque FGTS, que vem cada vez mais ganhando importância.

Para o Banco Inter (BIDI11), o BBA projeta outro trimestre de lucros próximos a zero, levando em conta que a empresa segue comprometida com crescimento. O banco de investimentos BR Partners (BRBI11) se beneficia do ambiente aquecido de fusões e aquisições e da demanda renovada por emissões de renda fixa, tendência que deve ser mantida ao longo de 2022, avaliam os analistas.

Já o BTG (BPAC11) deve reportar bons números, ainda com receitas fortes na área de mercado de capitais e avanço das captações líquidas. “Mesmo que esse ritmo deva desacelerar no ano que vem, a instituição conta com um volume de receitas contratadas maior do que em períodos pré-crise, graças à maior carteira de crédito e maior representatividade das divisões de asset e wealth”, destaca o banco.

O Safra, por sua vez, aponta que o Banrisul deve apresentar resultado fraco de rentabilidade, com carteira de crédito crescendo abaixo do mercado, provisões ainda pressionadas e aumento de despesas. “Esperamos uma queda trimestral no resultado final de 18,4%, com o lucro líquido ajustado atingindo R$ 230 milhões”, projetam.

Na comparação anual, os analistas ainda ressaltam que a expansão da receita será poluída pela provisão para contingências trabalhistas constituída no mesmo período de 2020.

Confira o calendário de resultados abaixo*:

Fonte: B3, Bloomberg e XP Investimentos; *datas ainda passíveis a alterações a depender das mudanças anunciadas pelas empresas ao mercado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.