O que Adriano Pires, futuro presidente da Petrobras (PETR4), pensa sobre combustíveis – e o que esperar dele à frente da estatal

Analistas não esperam grandes mudanças na política de preços dos combustíveis, dado o perfil do executivo, mas seguem de olho nas pressões do governo

Lara Rizério

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Após semanas de fritura do atual CEO em meio à insatisfação com a elevação dos preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro demitiu Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras (PETR3;PETR4). Para o seu lugar, o governo indicou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (28) pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que confirmou as notícias de agências e jornais que já tinham levado a oscilações das ações na reta final do pregão da última segunda-feira (28).

As mudanças passam a fazer efeito a partir da confirmação dos nomes na Assembleia Geral Ordinária, que ocorrerá em 13 de abril de 2022.

Bolsonaro se irritou com com Silva e Luna pelo ‘timing’ no anúncio do mega-aumento dos combustíveis neste mês. A Petrobras pratica a chamada paridade de preços, ou seja, paga pelo produto o preço cobrado no mercado internacional. Com isso, repassa eventuais altas para refinarias, o que leva ao aumento de preços para o consumidor final.

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No último dia 10, diante do aumento na cotação do petróleo no mercado internacional, reflexo da guerra na Ucrânia, a Petrobras anunciou reajuste de 18,8% para a gasolina e de 24,9% para o diesel.

Se confirmada, esta será a segunda vez que Bolsonaro muda o comando da Petrobras. Em fevereiro do ano passado, o presidente demitiu Roberto Castello Branco, também em um momento em que o preço dos combustíveis impactava sua popularidade.

A escolha do nome de Adriano Pires, consultor experiente, gerou alívio no mercado. Contudo, também intrigou analistas, uma vez que sugere continuidade nas políticas da estatal dada a sua linha de pensamento e suas constantes declarações para a mídia e em artigos de opinião.

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Quem é o indicado para presidente da Petrobras

Adriano José Pires Rodrigues é formado em Economia, com doutorado em Economia Industrial pela Universidade de Paris XIII e mestrado em Planejamento Energético. É diretor-fundador do Centro Brasileiro de InfraEstrutura – CBIE, coordenando projetos e estudos para a indústria de gás natural, a política nacional de combustíveis, o mercado de derivados de petróleo e gás natural.

Foi professor adjunto do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ, exercendo as funções de pesquisador e consultor junto a empresas e entidades internacionais – UNESCO, CEE, BIRD -, Agência Nacional de Energia Elétrica, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Unicamp.

Atuou como Assessor do Diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, além de ter exercido os cargos de Superintendente de Abastecimento, de Importação e Exportação de Petróleo, seus Derivados e Gás Natural. O seu nome é bastante conhecido no setor, com atuação de mais de 30 anos na área.

Em coluna para o InfoMoney publicada no último dia 13 de março, Pires destacou que a Petrobras errou em ficar tanto tempo sem reajustar os preços, criando defasagens muito elevadas em relação ao mercado internacional, alertando também para o risco crescente de desabastecimento.

Assim, saudou o aumento de preços e a autonomia da Petrobras na determinação da sua política, além de projetos de lei aprovados no Congresso para diminuir o impacto da alta das cotações para o consumidor.

No LinkedIn, na noite da véspera, ele publicou a seguinte mensagem: “Quando o ex-presidente Roberto Castelo Branco foi substituído pelo General, a grande maioria dos analistas e jornalistas apostava que o General controlaria os preços, mas, pelo contrário, a política de paridade de importação foi mantida.”

E acrescentou Pires: “Acho que o risco de intervenção na Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões. A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o Conselho de Administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas. Segundo, se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula.”

Analistas apontam ser difícil ver como será o trabalho de Pires dentro da estatal, depois que dois presidentes já deixaram o cargo após a insatisfação notória de Bolsonaro em relação à política de preços da empresa.  Pires já criticou diversas vezes as tentativas de mudar essa política, chamando-as de populistas. Além disso, alguns de seus argumentos vão na linha oposta do que defende a equipe econômica liderada por Paulo Guedes.

Ele é favorável à criação de um fundo de estabilização que proteja o mercado doméstico de períodos de grandes flutuações dos preços internacionais – como no momento, em função da invasão da Ucrânia pela Rússia. Em suas últimas declarações, defendeu o uso de dividendos para a criação do fundo. Também já defendeu a possibilidade de se conceder subsídios em períodos de crise, instrumento que a equipe econômica praticamente em coro refuta, alegando que se trataria de benefícios para as classes média e média alta, quando são os mais pobres os mais necessitados.

Ainda sobre o mercado internacional, Pires já chegou a falar sobre os benefícios para o país se o preço do barril fosse cotado no dobro do nível atual, em torno de US$ 100. “A gente deveria torcer para o petróleo ir a U$ 200 porque o petróleo passou a ser uma grande fonte de arrecadação para o Brasil”, argumentou há um mês, em live da FPE Debate.

Pelo raciocínio exposto, o Brasil estaria “no mesmo time” da Arábia Saudita, grande produtor que fez sua riqueza por meio do petróleo. A saída para reduzir para o consumidor os impactos diretos nos preços da gasolina e do botijão de gás, segundo ele, seria separar parte desse aumento de receitas. “Aí a gente teria de pegar o dinheiro dessa arrecadação e fazer política pública para enfrentar esses momentos que são muito momentâneos e são períodos de excepcionalidade.”

Mudança simbólica?

Destacando a defesa do indicado a novo CEO de um mecanismo de estabilização de preços, tendo apoiado uma solução mais estrutural para a complexa equação dos preços dos combustíveis que concilia os interesses dos acionistas da Petrobras com os consumidores brasileiros, o Itaú BBA avalia que não espera que Pires faça alterações significativas na política de preços de combustível da empresa.

Dito isso, ainda vê a notícia da mudança de CEO como negativa porque a Petrobras pode continuar enfrentando desafios recorrentes para garantir a convergência de preços para a paridade internacional.

No curto prazo, os analistas do BBA acreditam que as principais preocupações dos investidores para a tese de investimento da Petrobras serão: i) a política de preços de combustíveis, notando que continuam a observar uma defasagem no preço do diesel de 7%, mesmo com a queda do preço do petróleo na véspera; ii) atenção à diretoria executiva, ressaltando que o mercado reagiu positivamente à indicação de Silva e Luna dos nomes para a composição da diretoria após assumir a presidência da Petrobras. E, mais importante, no médio e longo prazo, esperam que os investidores se concentrem na alocação de capital da empresa, bem como na manutenção de seu plano de negócios.

O Morgan Stanley avalia não compreender exatamente o que muda com a indicação de Pires para o comando da Petrobras.  “A empresa, até o momento, segue seu rumo estratégico, e uma mudança de comando é, na melhor das hipóteses, neutra, mas pode ser potencialmente prejudicial caso o modo de intervenção se intensifique”, avaliam os analistas do banco americano.

“Os argumentos de Pires não são diferentes da estratégia anterior dos dois CEOs, então não vemos mudanças práticas na administração no sentido de ajudar a baixar os preços dos combustíveis para o consumidor. A menos que o novo CEO interfira de alguma forma na política de preços, acreditamos que a mudança apenas adicione ruído e perturbação ao fluxo estratégico da empresa. Além disso, pode ser um mandato de curta duração, dependendo do resultado da eleição no final do ano, já que Pires também tem opiniões fortes contra a estratégia adotada pela Petrobras durante os antigos governos petistas”, afirmam os analistas do Morgan.

O Bradesco BBI reforça a avaliação de que, quando se trata de Petrobras, qualquer mudança na alta gestão levanta preocupações sobre o que isso pode significar em termos de política de preços/investimentos da empresa. Além disso, avaliam os analistas da casa, Silva e Luna estava fazendo um ótimo trabalho, preservando o papel da empresa na sociedade junto com a proteção dos direitos dos acionistas minoritários. Sua saída provavelmente levará a alguma volatilidade, apontam, conforme também foi observado na sessão de segunda-feira em meio aos rumores da substituição.

Dito isto, o BBI avalia que a escolha do nome de Pires foi positiva, dada a sua sólida experiência como consultor e ideias pró-mercado. Ele também se posicionou favoravelmente à privatização da Petrobras em várias ocasiões. Se o atual governo for reeleito, a posição de Pires como CEO, avaliam os analistas, poderia dar impulso a uma privatização durante o potencial segundo mandato deste governo.

A questão chave é se a nomeação de Pires neste momento estaria condicionada à sugestão de uma nova política de preços. Dado o histórico técnico/pró-mercado do novo CEO, o BBI não acredita que ele proporia algo prejudicial para a empresa. “Não descartamos sugestões como uma metodologia de precificação por média móvel”, afirma.

Dado o histórico do indicado para CEO, alguns investidores também acreditam que a posição de CEO pode mais uma vez ser potencialmente vulnerável se os preços do petróleo sofrerem ainda mais estresse.

“No entanto, olhando pelo lado positivo, nos últimos anos a governança da Petrobras nos mostrou que, sob esse governo, a empresa foi blindada por seu estatuto e pela lei das estatais do Brasil. De fato, a mudança de CEOs no passado recente não trouxe grandes implicações para a política de preços da empresa”, avaliam os analistas do BBI.

O Credit Suisse também ressalta que o novo CEO é nomeado em um contexto de alta pressão política sobre os preços dos combustíveis, o que pode aumentar preocupações de intervenção política na Petrobras. Contudo, não espera mudanças significativas para a política de preços da Petrobras ou para a estratégia geral da empresa focada em exploração e produção do pré-sal e águas ultraprofundas.

Assim, no fim das contas, como aponta André Perfeito, economista-chefe da Necton, a troca no comando da Petrobras é vista mais como um ato simbólico. “Em pleno ano eleitoral, o presidente Bolsonaro pretende dar uma resposta à sociedade, mas nem Luna e muito provavelmente nem Pires irão mudar a política de preços da empresa. Qualquer iniciativa em reduzir o impacto aos consumidores de maneira mais generalizada teria que vir do Ministério da Economia na forma de subsídios, mas este não parece ser um plano desejado pelo ministro e equipe”, aponta o economista.

Recomendações mantidas

Neste cenário, analistas de mercado ainda mantêm as suas recomendações para as ações da companhia. O Itaú BBA, o Bradesco BBI e o Credit Suisse seguem com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as ações da estatal.

O BBA tem preço-alvo de R$ 38 para os ativos PETR4, ou potencial de valorização de 20% em relação ao fechamento da véspera, enquanto o BBI tem preço-alvo de R$ 50 para os ativos (upside de 58%), após ter elevado o target na semana passada. Na ocasião, os analistas destacaram que, apesar do ruído político, a empresa pode pagar consistentemente quatro vezes mais dividendos do que seus pares globais aos preços atuais das ações (pelo menos 25%). “Isso mostra como muito do medo político é precificado em ações”, apontou o BBI.

O Credit Suisse, por sua vez, tem preço-alvo de US$ 17 para os ADRs (American Depositary Receipt, na prática, as ações da companhia negociadas na Bolsa americana) PBR (equivalente aos ordinários) negociados na Bolsa de Nova York, também um upside de cerca de 20%.

O Morgan Stanley, por sua vez, segue com recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, ou equivalente à neutra), com preço-alvo de US$ 14 para os ADRs PBR, ou uma queda de 1,3% em relação ao fechamento da véspera.

“Permanecemos à margem das ações, evitando riscos políticos. A política de precificação de combustíveis da Petrobras está em destaque no Brasil, e não vemos uma maneira fácil de a empresa alterar os preços dos combustíveis para níveis de paridade enquanto o petróleo permanece em níveis altos, considerando os índices de inflação e a proximidade do ciclo eleitoral no país nos próximos meses”, avaliam.

Assim, reiteram preferirem navegar no setor por meio de empresas como a PetroRecôncavo (RECV3) e a 3R Petroleum (RRRP3), que acreditam “fornecer uma história mais limpa com um valuation pouco exigente”.

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.