O plano do Mercado Livre para lidar com a desaceleração das vendas ao nível pré-pandemia, às vésperas da Black Friday

André Chaves, vice-presidente sênior de estratégia diz ao InfoMoney que empresa está preparada para 'atuar em qualquer cenário'

Anderson Figo

O aumento da inflação e dos juros e a queda no poder de compra da população fizeram o crescimento do volume de vendas do Mercado Livre (MELI34) voltar no terceiro trimestre de 2022 aos níveis vistos no pré-pandemia de Covid-19. Ainda é um avanço forte, de dois dígitos, mas menos intenso que o visto em 2021.

Segundo André Chaves, vice-presidente sênior de estratégia, desenvolvimento corporativo e relações com investidores do grupo, a companhia está preparada para “atuar em qualquer cenário”. “[O cenário macroeconômico] nos afeta porque diminui o poder de compra [das pessoas] e nos afeta porque a taxa de juros é uma grande linha de custo, no e-commerce a gente vende financiado, parcelado sem juros em boa parte das nossas geografias, e no lado de adquirência, a gente também antecipa recebíveis para faz pagamento com a gente, a custo de juros”, disse o executivo em entrevista ao InfoMoney.

“O que a gente tem tentado fazer é ser muito ácido em como a gente controla outros custos. Um exemplo prático foi que a gente botou regras um pouco mais inteligentes para definir o número de parcelas que o cliente pode parcelar. A gente não aumentou o preço para os nossos lojistas. A gente conseguiu absorver com várias medidas e conseguimos entregar um negócio rentável, apesar disso tudo. Para os clientes, a gente repassa um pouco desse custo, mas não na totalidade, também entendendo que os lojistas que por exemplo usam a nossa maquininha vão optar por menos parcelas no momento em que essa parcela está mais cara para ele”, completou.

Chaves participou do Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior. Os executivos falam sobre o balanço do terceiro trimestre de 2022 e sobre perspectivas. Para acompanhar todas as entrevistas da série, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.

“O que a gente tira disso é que [o atual cenário de inflação e juros altos] é uma realidade que a gente não controla, então como empresa a gente tem que entender e ser muito ágil para se adaptar para conseguir entregar bons resultados para os nossos acionistas. A gente tem as nossas estimativas macroeconômicas, mas a gente tenta não falar muito sobre elas. O que a gente gosta é de estar preparados para qualquer cenário. A gente tem trabalhado com um cenário-base, mas ele obviamente pode vir melhor, pode vir pior, e a gente tem que estar pronto para se adaptar.

O executivo afirmou que a Black Friday pode ajudar as vendas no último quarto deste ano, que também será marcado pela realização excepcional da Copa do Mundo. Mesmo assim, Chaves frisou que o caixa do Mercado Livre permanece “muito sólido”, mas “isso não quer dizer sair gastando”.

Chaves comentou ainda sobre a possibilidade de M&A (fusões e aquisições): “a gente sempre foi uma empresa de construir, mais do que comprar. A gente fez algumas aquisições muito boas, mas sempre com uma tese muito clara sobre onde isso soma ao nosso negócio. O valuation é a última coisa que a gente olha. A gente continua com a cabeça de que a gente vai muito mais construir do que comprar, mas obviamente a gente está sempre ligado no mercado. Não tem nada no curto prazo em vista.”

O vice-presidente sênior do Mercado Livre falou ainda sobre a possibilidade de abertura de um novo centro de distribuição no Brasil, sobre como a mudança de governo em 2023 pode afetar os negócios, sobre o potencial de crescimento do Mercado Livre em outros países onde já atua na América Latina, apesar de o Brasil continuar sendo o principal mercado, além de open finance ajudando o braço de fintech do grupo, o impacto do Auxílio Brasil em R$ 600 no próximo ano e a parceria com a Gol na frota de aviões para entregas mais rápidas. Assista à entrevista na íntegra acima, ou clique aqui.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.