O plano da B3 para atrair as empresas que fazem IPO no exterior

As grandes oferta no exterior intensificam a discussão sobre o que fazer para atrair as companhias brasileiras que têm optado por abrir capital no exterior

Letícia Toledo

Gilson Finkelsztain, presidente da B3 (InfoMoney)

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SÃO PAULO – A oferta de ações da XP Investimentos nesta semana intensificou a discussão sobre o que a B3 e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem fazer para atrair as companhias brasileiras que têm optado por abrir capital no exterior.

“O tema exportação de mercado é algo que me preocupa muito e temos que ser rápidos para voltar a atrair essas empresas”, afirmou Gilson Finkelsztain em evento realizado nesta quinta-feira (12) para discutir o chamado voto plural. O presidente da B3 disse também que ver um IPO de uma empresa brasileira no exterior deixa um “gosto amargo”.

Também conhecido como “super ON”, o mecanismo do voto plural permite que alguns acionistas tenham papéis com maior direito a voto. No mercado americano muitos empreendedores e fundos que optam por abrir capital de suas companhias mantêm papéis que dão ao portador o direito de 10 votos por ação — detendo, assim, o controle para a tomada de decisões estratégicas.

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A estrutura de super voto foi citada por Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos, como um dos motivos que levou a companhia a escolher a Nasdaq para sua abertura de capital em detrimento da B3. Além da XP, outras companhias brasileiras como PagSeguro e Stone também adotaram o mecanismo em ofertas no exterior.

Hoje, a legislação brasileira não permite a “super ON”, mas a bolsa brasileira defende a mudança para poder atrair mais empresas. “O caminho não é ter só ofertas com voto plural ou sem voto plural. O Novo Mercado continuará com o princípio de uma ação, um voto. As duas estruturas podem e devem coexistir”, afirmou Finkelsztain.

BDRs de empresas brasileiras + voto plural

O presidente da B3 reconhece, no entanto, que apenas o voto plural não é suficiente para atrair as companhias que estão indo ao exterior. Outra mudança essencial seria permitir a listagem de BDRs dessas empresas brasileiras. Pelas normas atuais apenas empresas estrangeiras podem oferecer suas BDRs no mercado local.

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A Comissão de Valores Mobiliário colocou em audiência pública na quarta-feira (11) uma norma de investimento que entre os principais pontos permite que empresas brasileiras que escolhem abrir seu capital no exterior emitam BDRs no mercado nacional.

A CVM prevê concluir essa discussão em 10 de fevereiro. Finkelsztain afirma que a B3 gostaria que essa proposta fosse aprovada “para amanhã”, mas prevê que a mudança pode acontecer até o fim do primeiro semestre. “Os investidores brasileiros estão ansiosos e frustrados por não conseguirem acessar esses ativos”, afirma.

“A BDR é a primeira etapa para atrair as empresas que estão indo para o exterior, mas ela sozinha não resolve o problema da listagem. Isso porque, mesmo com essa mudança, a empresa só poderia fazer IPO no exterior e, depois disso, é que nós traríamos o mesmo ativo para disponibilizar aqui. O ideal seria um IPO nos dois mercados ao mesmo tempo, mas para isso precisamos tirar outras amarras regulatórias como o voto plural”, explicou.

O que leva as empresas à listagem no exterior

A batalha de Finkelsztain e da B3 não é para que as empresas escolham a bolsa brasileira em detrimento de uma americana e sim que elas tenham a possibilidade de ofertas seus papéis em ambas. Isso porque, ainda que destrave todos os pontos, a B3 não consegue resolver o principal motivo que leva à listagem no exterior: o valuation.

“Na época da Stone optamos pelo IPO nos Estados Unidos porque não queríamos que ela fosse comparada com a Cielo na hora de ser avaliada. Esse me parece ser o motivo das maiores das empresas que optaram pelo exterior. Elas têm um alto potencial de crescimento e lá fora o apetite por essas histórias é maior”, explica Patrick Ledoux, sócio do private equity Actis, que investiu na Stone antes do IPO, em 2016.

Finkelsztain ressalta que companhias com dupla listagem, como bancos, Vale e Petrobras (que têm ADRs), possuem maior liquidez. “A gente vai ajudar no que puder para endereçar essas questões [voto plural e BDRs] já em 2020”, diz.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.