O gráfico que mostra por que os investidores não devem se desesperar com o coronavírus

Histórico de epidemias nos mercados fortalece a tese de que a tendência das bolsas ainda é de alta

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Muitas lições podem ser tiradas da história. Uma delas é que as epidemias afetam os mercados no curto prazo, mas não são capazes de mudar a tendência no longo prazo. É justamente isso que o gráfico postado no Twitter pelo estrategista-chefe da Charles Schwab, Jeffrey Kleintop, demonstra.

O gráfico mostra o impacto de diversas epidemias que abalaram o mundo nas últimas cinco décadas. Em todas elas, as bolsas internacionais, no caso representadas pelo índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) global, caíram e depois se recuperaram.

A grande preocupação dos investidores é com o impacto econômico da disseminação do coronavírus, que resultou no isolamento da província de Hubei, na China. Em relatório, a equipe de análise da XP apontou que as medidas tomadas até agora geraram uma queda de 42% no número de passageiros no sistema rodoviário no primeiro dia do ano-novo chinês.

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Da última vez em que isso ocorreu, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), em 2003, fez as vendas do varejo da China caírem pela metade. O Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu de 8% para 5% durante o surto.

Porém, a XP recorda que a ruptura econômica na época terminou assim que a doença foi controlada, fazendo com que o país voltasse a crescer no mesmo ritmo pré-SARS. “Depois disso, a economia global ainda se beneficiou com a liberação da demanda reprimida”, escreve a equipe de análise.

No Brasil, os setores mais impactados por enquanto são os de mineração e viagens, que sofrem com a queda nos preços de metais e a suspensão de vendas de pacotes turísticos na China. “Caso os impactos do surto se prolonguem no médio prazo, poderemos continuar vendo pressão nos preços de ações brasileiras ligadas à demanda chinesa, como empresas de commodities (Suzano, Vale), frigoríficos exportadores (JBS, Marfrig), além de companhias aéreas e de turismo (Gol, Azul, CVC)”, destaca o relatório.

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Os analistas da Rico Investimentos, Lucas Collazo e Thiago Salomão, apontam que seguem otimistas com a bolsa brasileira apesar do coronavírus. Para eles, o cenário que se desenha no ambiente doméstico é bastante favorável ainda por três fatores: “juro estruturalmente baixo por muito tempo; avanço da agenda de reformas e expansão de lucros das empresas, que sobreviveram aos anos de crise no Brasil e vão surfar a retomada da economia”.

A equipe da Rico destaca que é importante monitorar as notícias sobre o coronavírus e saber quais setores podem ser mais impactados, como companhias aéreas, serviços de viagem e itens de luxo, por exemplo, mas os fundamentos estruturais da visão otimista que têm do mercado não mudaram.

Alberto Bernal, estrategista global da XP Investimentos, acredita ser pouco provável que o coronavírus afete a economia global. “A China pode até sofrer uma desaceleração de 1% no primeiro trimestre, mas vai se recuperar no próximo. Os mercados de países emergentes vão continuar atrativos em 2020 para o investidor buscar oportunidades em termos relativos.”

Já Débora Santos, da XP Política, analisa que a tendência é de diminuição no número de casos do coronavírus em cerca de três semanas, levando em conta o período de incubação do vírus. Para ela, se isso realmente ocorrer podemos esperar uma recuperação dos mercados diante do alívio nos temores de uma pandemia global.

Também adotando tom positivo, a equipe de análise do JPMorgan defendeu que a turbulência global é um ótimo momento para comprar ativos com desconto. Os estrategistas do banco contam que por mais que a onda vendedora possa continuar antes que os temores se dissipem, no passado, os grandes surtos levaram a uma desvalorização de 4,7%, em média nas bolsas.

Mais cauteloso, Júlio Fernandes, gestor da XP, argumentou ao InfoMoney que está tentando mapear e entender a extensão do impacto econômico do coronavírus antes de dar um veredicto. “Nós acompanhamos o desenvolvimento da doença e aguardamos uma estabilização, que deve demorar um ou dois meses. Por enquanto, estamos protegendo a nossa carteira”, revela.

Fernandes, entretanto, entende que o longo prazo segue positivo, com boas perspectivas de crescimento para a economia brasileira diante da agenda reformista implementada pelo governo. “Estamos otimistas porque não vemos a recuperação como algo de um ano. No curto prazo há diversos ruídos e as ações ligadas a commodities sofrem porque são expostas à China, porém o cenário para o futuro não mudou”.

Correção

Durante o programa Analistas sem Censura desta terça-feira, transmitido pela InfoMoneyTV, Cesar Crivelli, analista da Nord Research, explicou que nos Estados Unidos a maior parte dos ativos em bolsa estão negociando a uma razão P/E – preço de mercado empresa dividido pelo lucro gerado por ela – em torno de 18 vezes – e isso explica em parte a forte queda dos mercados por conta das notícias recentes. “A média histórica recente é de 14 vezes, então precisa de uma correção. O mercado às vezes escolhe algo para depurar os múltiplos. Atualmente é o coronavírus”.

Ricardo Schweitzer, também da Nord, aponta que quem chegou ao mercado nesse momento de exuberância de bull market pode se assustar com quedas bruscas como a de ontem, mas a correção foi até pequena diante do tanto que a Bolsa subiu nos últimos meses.

Outro ponto destacado por Schweitzer é que o principal impacto econômico do coronavírus é justamente a medida tomada pela China para controlá-lo. Os chineses anunciaram a extensão do feriado de ano-novo lunar até o próximo domingo, com bolsas fechadas até 3 de fevereiro e empresas proibidas de retomar as atividades até o dia 10.

“Como teve uma extensão do feriado, talvez tenha algum impacto no volume de produção do país no primeiro trimestre”, comenta o analista. Todavia, Schweitzer lembra que geralmente o governo chinês atua para mitigar os impactos de grandes desacelerações na economia.

“O Partido Comunista Chinês deve compensar de alguma forma, talvez com investimento público em obras de infraestrutura. Desse modo, os efeitos talvez sejam até positivos para o setor de mineração”, avalia.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.