O colapso do Barings Bank 25 anos depois: o que o mercado aprendeu?

Banco mais antigo da Inglaterra quebrou após as operações arriscadas de um único operador de derivativos, em 1995

Letícia Toledo

Nick Leeson: operador foi responsável pela quebra de um dos bancos mais antigos do Reino Unido

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SÃO PAULO – Há exatos 25 anos o mercado financeiro global acordava em estado de choque. Muito antes de qualquer vestígio de coronavírus, investidores se apavoravam com a notícia de que o banco mais antigo da Inglaterra havia quebrado.

Além de ser uma instituição do século XVIII — com clientes como a rainha Elizabeth II — o que chocou foi o fato de o colapso da instituição ter sido causado por um único operador de derivativos, Nick Leeson, na época com 28 anos.

Leeson, que era responsável pela operação de derivativos do Barings Bank em Cingapura, apostou mais de US$ 1,3 bilhão em negociações especulativas sem qualquer tipo de hedge. O montante era equivalente ao dobro da quantidade total de dinheiro que o banco possuía em caixa.

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A maioria dos contratos detidos por Leeson apostavam na alta do índice Nikkei, do Japão. Um terremoto, no entanto, abalou o país e o mercado asiático em janeiro de 1995 e a posição de tida por Leeson virou pó.

Manipulando os sistemas contábeis do banco, o operador ainda conseguiu esconder suas perdas por alguns dias.

O escândalo veio à tona em uma carta do presidente do banco, Peter Baring, no dia 23 de fevereiro de 1995. Três dias depois, o banco britânico fundado em 1762 deixou de existir.

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Leeson fugiu de Cingapura e deu início a uma caçada global. Foi capturado pouco tempo depois na Alemanaha e condenado a seis anos e meio de prisão em Cingapura depois de se declarar culpado de “enganar os auditores do banco e enganar a bolsa”.

Os erros do Barings Bank e o que mudou no mercado desde então

Em investigações posteriores à quebra da instituição financeira, o Banco Central Europeu (BCE) constatou que um dos maiores erros cometido pelo Barings foi deixar Leeson como responsável tanto pelas operações de derivativos quanto pela parte de liquidação e contabilidade dessas operações.

Hoje, na maior parte dos mercados desenvolvidos isso não é mais permitido pelos órgãos reguladores. Escândalos como o de Leeson e a crise financeira de 2008 obrigaram instituições financeiras a criarem programas mais robustos de governança e gerenciamento de riscos.

A falta de supervisão nas operações de Leeson é outro ponto de atenção. Após estudar o caso, o BCE concluiu que os problemas do Barings foram ocasionados principalmente por um “fracasso de vários funcionários do grupo em fazer seu trabalho de forma adequada”.  “Todo supervisor deve conhecer a fundo todas as operações que gerencia”, diz o documento do BCE.

Em sua autobiografia, Nick Leeson disse que a cultura do Barings era simples: “Todos nós éramos incentivados a obter lucros, lucros e mais lucros … eu era a estrela em ascensão”.

A diretoria do Barings nunca questionou os altos riscos e lucros gerados por Leeson em anos anteriores. Em um ponto antes da quebra, mais de 60% das receitas das operações com derivativos do banco ao redor do mundo eram geradas por Leeson.

Barings Bank e Nick Leeson atualmente

Apesar da experiência traumática, tanto Barings Bank quanto Nick Leeson não sumiram totalmente do mercado desde então.

O Barings foi vendido pelo valor simbólico de 1 libra ao grupo financeiro holandês ING. Dez anos depois, uma empresa de seguros de Boston, a MassMutual, comprou a divisão de Asset Management do ING juntamente com o direito de utilizar o nome Barings.

Hoje, a marca é uma gestora de ativos global, fruto de uma fusão de quatro gestoras, e com mais de US$ 303 bilhões de ativos sob gestão.

Já Nick Lesson virou um palestrante global sobre finanças, risco, conduta e governança corporativa. Rotineiramente, também oferece cursos online sobre como operar no mercado financeiro.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.