O “ano da turbulência” no mercado em 14 fotos

Dos rumores de pesquisas eleitorais à crise da Petrobras, passando pela morte de Eduardo Campos: relembre os principais fatores que fizeram o Ibovespa oscilar com violência em 2014

Eduardo Tavares

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SÃO PAULO – Instabilidade foi a palavra de ordem na Bovespa em 2014. Uma corrida presidencial acirrada como há muito não se via, a crise de imagem sem precedentes na história da principal empresa de capital aberto do Brasil e a iminência de mudanças na política monetária da maior economia do mundo foram apenas alguns dos fatores que fizeram o Ibovespa oscilar com violência ao longo do ano.

O principal índice de ações da Bolsa brasileira terminou 2013 com 51.507 pontos e, ao longo do ano, chegou a bater os 61.895 pontos – uma alta de 20,17% – para “morrer na praia” em dezembro. No pregão de hoje, o Ibovespa chegava aos 50.700 pontos, acumulando 1,3% de queda em relação ao ano passado.

O InfoMoney montou uma galeria com 14 imagens que resumem os principais eventos que levaram os investidores do céu ao inferno – repetidas vezes – no “ano da turbulência”. Confira:

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1) Eleições: antes de “Dilma de novo”, muita coisa aconteceu

Urna eletrônica

A intensidade com que as pesquisas eleitorais mexeram com o mercado foi inédita. Seja no fato, com a divulgação dos números, seja no boato (e houve muitos), a disputa acirrada entre os presidenciáveis teve impacto direto no Ibovespa desde meados de março, quando as primeiras intenções de voto foram apresentadas. Fortes altas ou quedas das ações das estatais que, aparentemente, não tinham fundamento, eram seguidas por pesquisas mostrando piora ou melhora, respectivamente, da presidente Dilma Rousseff na preferência do eleitor. Foram levantadas suspeitas de vazamento nos resultados das pesquisas, mas nada foi comprovado.

2) A morte de Eduardo Campos 

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Eduardo Campos

A notícia da morte de Eduardo Campos, no dia 13 de agosto, chocou o País e mudou os rumos da corrida presidencial. No dia do acidente aério que tirou a vida do candidato, a Bolsa oscilou com força. Nas semanas seguintes, o mercado repercutiu o clima de incerteza que a tragédia lançou sobre o cenário eleitoral. À época de sua morte, Campos despontava como um adversário promissor aos principais candidatos, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Alguns apostavam que, se não em 2014, Campos apareceria em 2018 com grandes chances de ser eleito presidente.

3) Aécio corre por fora, vai ao 2º turno e recebe apoio de Marina

Marina e Aécio

Após a morte de Eduardo Campos, a então candidata a vice-presidente pelo PSB, Marina Silva, surgiu como nome forte para, no mínimo, disputar a presidência com Dilma no segundo turno. A “onda Marina” levou otimismo ao mercado, mas durou pouco. Aécio Neves, do PSDB, teve uma recuperação vertiginosa, ultrapassou Marina e foi para o segundo turno com Dilma. O tucano recebeu o apoio de Marina Silva e chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto. A Bolsa reagiu com euforia à possibilidade de vitória de Aécio por julgar que um candidato da oposição poderia desenvolver um estilo de gestão pública mais amigável ao mercado, sobretudo às empresas estatais.

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4) A reeleição: Dilma 2.0

Dilma Rousseff

Com 51,5% dos votos, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita no dia 26 de outubro. A reação imediata do mercado foi de forte queda. No pregão pós-eleição, o Ibovespa caiu quase 3% e as ações da Petrobras perderam mais de 11%. Nas semanas seguintes, a Bolsa manifestou o pessimismo dos investidores com o resultado nas urnas, mas também passou a oscilar com a expectativa do anúncio da nova equipe econômica do governo.

5) Esperança para o mercado: a nova equipe econômica

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Joaquim Levy 3

Em meio a rumores de possíveis nomes para o cargo mais importante da equipe econômica, o de ministro da Fazenda, o escolhido foi o engenheiro naval Joaquim Levy, que até uma semana antes da nomeação ocupava o cargo de diretor da Bradesco Asset Management. A nomeação do liberal Levy, doutor pela Universidade de Chicago, com passagem pelo FMI, foi bem recebida pelo mercado. A escalação do novo ministro alimenta a esperança dos investidores de que a política fiscal a ser adotada a partir de 2015 possa ter tons mais fortes de austeridade, com cortes nos gastos para controlar a inflação e reequilibrar as contas do governo. O economista Nelson Barbosa foi anunciado para o Ministério do Planejamento. Embora mais alinhado às ideias do PT, ele é conhecido por ser crítico dos excessos do governo no que diz respeito ao orçamento. Sua nomeação também foi bem vista pelo mercado. No Banco Central, Dilma manteve o atual presidente, Alexandre Tombini.

6) Petrobras e a Operação Lava Jato

Paulo Roberto da Costa

Em meio a uma queda na produção, à desconfiança do mercado quanto à capacidade de gestão do governo e a suspeitas de irregularidades na aquisição de refinarias, sobretudo a de Pasadena, nos EUA, a Petrobras entrou em parafuso quando, em março deste ano, a Polícia Federal deflagrou a “Operação Lava Jato”. As investigações revelaram um esquema milionário de lavagem de dinheiro e desvio de verbas envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e alguns políticos. As prisões do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa (na foto) foram alguns dos principais capítulos do escândalo. Em depoimento dias antes da eleição, Youssef afirmou que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula tinham conhecimento do esquema de corrupção. As ações da Petrobras, até o pregão de hoje, acumulam 34% de queda no ano.

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7) Copa do Mundo: 7 a 1 na Seleção ou na Economia?

Torcedora triste

Ninguém duvida do impacto emocional negativo da Copa do Mundo no Brasil, principalmente para os que ainda acreditavam nas chances da Seleção Brasileira. Mas os efeitos do Mundial também foram sentidos na economia e na Bolsa. O comércio sentiu o baque dos muitos feriados por causa de jogos da Seleção e o volume de negócios na Bolsa também caiu. Meses mais tarde, o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o megaevento prejudicou a produção e o comércio por causa do menor número de dias úteis.

8) Mantega e o legado do Pibinho: deixará saudades?

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Guido Mantega - Bloomberg

Por falar em Guido Mantega, o desempenho do ministro e de sua equipe também renderam fortes emoções ao investidor em Bolsa ao longo do ano. No começo de 2014, ele afirmava que a economia brasileira cresceria 2,5%, um pouco a mais que os 2,28% previstos pelo mercado, segundo o relatório Focus do Banco Central. Depois de dois trimestres seguidos de queda no PIB, configurando um cenário de recessão técnica, o ministro deu o braço a torcer e baixou o tom. Após culpar a Copa do Mundo (que passou de mocinha a vilã na opinião de Mantega) e a fraca recuperação das economias desenvolvidas, Mantega “revisou” sua projeção para cerca de 0,9% de crescimento no ano. Na última edição do Focus, de 19 de dezembro, o mercado apostava em uma alta de apenas 0,13%.

Bonus: o antecessor de Joaquim Levy e Armínio Fraga, que seria ministro da Fazenda caso Aécio Neves fosse eleito presidente, protagonizaram um dos debates sobre economia mais empolgantes do ano. Relembre o encontro de Mantega e Fraga na Globonews.

9) A fonte secou no Sudeste e a Bolsa sentiu o baque

Sabesp Cantareira

A escassez de chuvas durante o ano fez baixar o nível de importantes reservatórios da Região Sudeste baixar a ponto de reservas técnicas serem acionadas. A ameaça de racionamento de água e energia no Sudeste mexeu com as ações de companhias de energia elétrica e saneamendo básico. Os papéis da Sabesp, por exemplo, até a última sexta-feira, acumulavam 37,3% de queda no ano, o equivalente a uma perda de R$ 7,1 bilhões em valor de mercado.

10) Yellen: quando o juro nos EUA vai subir?

Janet Yellen - Bloomberg

A chegada da simpática Janet Yellen à presidência do Federal Reserve (banco central americano) em substituição a Ben Bernanke deixou os mercados em estado de alerta quanto a uma possível mudança na condução da política monetária nos Estados Unidos. Embora o fim do programa de recompra de ativos – conhecido como Quantitative Easing – já fosse previsto, os investidores começaram a especular sobre outras possíveis alterações. À medida que o desemprego e a inflação voltavam a níveis considerados satisfatórios no país, crescia a possibilidade de o Fed voltar a subir a taxa básica de juros. Parte do mercado aposta que um ciclo de aperto monetário nos EUA vai começar ainda em 2015. No Brasil, os impactos desse movimento devem ser sentidos principalmente na Bolsa e no câmbio.

11) Recorde de alta nas bolsas dos EUA

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Em 2014, as bolsas americanas mostraram a força da recuperação econômica do país, dando sinais claros de que o abismo da crise de 2008 parece ter sido superado. Com uma taxa de desemprego em queda e a inflação retornando a níveis ideais, a confiança dos empresários aumentou e as companhias voltaram a crescer. No segundo trimestre, o PIB dos EUA teve crescimento de 4,6% e no período seguinte, o Departamento de Comércio dos EUA revisou para 5% sua estimativa de crescimento anual do PIB. Foi o ritmo de crescimento mais rápido da economia americana desde o terceiro trimestre de 2003. Ao longo do ano, os índices de ações Dow Jones e S&P 500 bateram sucessivos recordes de alta. Na última sexta-feira, o S&P teve seu 52º recorde de fechamento em 2014, chegando ao quarto melhor resultado de sua história. O Dow Jones também fechou na máxima, chegando a um patamar inédito.

12) Rússia: do conflito pela Crimeia à derrocada do rublo

Putin 2 -20/12/12

Uma das principais economias emergentes do mundo, a Rússia trouxe instabilidade à bolsa brasileira em 2014. No começo do ano, a tensão foi provocada por conta da dispita entre russos e ucranianos pela região autônoma da Crimeia, uma das piores crises diplomáticas em que a Rússia se envolveu desde a queda da União Soviética. Embora fizesse parte do território da Ucrânia, a região de fala russa desejava se integrar ao país governado por Vladimir Putin. Em março, um referendo aprovou a integração da Crimeia à Rússia. O processo foi marcado por fortes tensões entre os dois países e levou a conflitos entre as forças armadas de Moscou e Kiev. Em meados de dezembro, a Rússia voltou a ficar sob os holofotes, causando turbulência nas principais bolsas do mundo. O Banco Central do país surpreendeu os mercados ao elevar o juro básico em 6,5 pontos percentuais. A intervenção da autoridade monetária gerou uma crise de confiança dos investidores e a moeda russa sofreu bruscas oscilações, chegando a subir 10% e a cair 17% em relação ao dólar no mesmo dia.

13) A China pisou no freio e a Vale levou a pior

Vale

Em 2014, uma leve perda de fôlego da economia da China, com direito a condições mais complicadas no mercado de crédito e restrições antipoluição fizeram cair a demanda por aço e minério de ferro no país. Como consequência, o preço da matéria prima no mercado internacional sofreu forte queda principalmente a partir de agosto, quando passou a renovar sequencialmente seus menores patamares desde 2009, ficando abaixo de US$ 70,00. O mercado não espera recuperação em 2015, já que a mudança para um crescimento “sustentável” do gigante asiático veio para ficar. Esse cenário afeta diretamente a Vale, já que quase metade das suas vendas de minério tem como destino a China: as ações da mineradora brasileira acompanham a trajetória do minério de ferro e chegaram a valer menos de R$ 16 pela primeira vez desde 2008.

14) Petróleo: a “crise óbvia” que ninguém previu

Petróleo_Irving

Entre junho e dezembro, o preço do petróleo no mercado internacional acumulou cerca de 30% de queda e analistas passaram a considerar uma cotação do Brent abaixo dos US$ 70 por barril. A desaceleração da economia global – o que naturalmente reduz a demanda do ouro negro – e a manutenção da oferta por parte da Arábia Saudita e Kuwait – dois dos principais membros da OPEP – acertaram em cheio os preços do petróleo. O cenário, embora aparentemente óbvio, pouco foi alarmado por especialistas de mercado, o que acabou pegando muito investidor de surpresa neste segundo semestre de 2014. A desvalorização da commodity lançou ainda mais incerteza sobre o já sombrio cenário para a Petrobras, já que uma queda muito brusca no preço do petróleo poderia tornar inviáveis investimentos estratégicos para a estatal, como a exploração da camada pré-sal.