Números sem brilho e volta do “risco-Congresso”: a combinação que fez a ação do Itaú cair quase 6% após o resultado

Após performance acima dos pares por longos anos, dados apresentados na véspera não animaram - mas analistas seguem destacando resiliência do banco

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um resultado sem muito brilho e sem mostrar o seu melhor desempenho, mas com analistas apontando a resiliência da instituição em meio à crise, que pode ser suficiente para sustentar maiores ganhos à frente. Esse foi o balanço dos números do segundo trimestre do Itaú Unibanco (ITUB4), outro dos grandes bancos a registrar uma queda de cerca de 40% do lucro na base anual, para R$ 4,2 bilhões, ainda que tenha uma alta do lucro de 7,5% na comparação com os primeiros três meses de 2020.

O lucro ficou em linha com as projeções dos analistas compiladas pela Bloomberg, de R$ 4,255 bilhões, em meio a um aumento de 71,6% na comparação anual na provisão para devedores duvidosos, ficando em R$ 7,561 bilhões. O valor, no entanto, é 27% menor do que os R$ 10,398 bilhões que haviam sido reportados no trimestre anterior.

As ações, porém, reagiram em forte queda nesta sessão, chegando a ter baixa de quase 7%, com uma desvalorização máxima de 6,85%, a R$ 25,41, e fechando com perdas de 5,83%, a R$ 25,69.

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Algumas linhas chamaram a atenção – negativamente – no balanço. “Embora os resultados gerais tenham sido como esperávamos, a combinação de uma queda de NIM [margem financeira sobre os ativos rentáveis] dos clientes [que passou de 9,2% no trimestre anterior para 8,4% no segundo trimestre], taxas/seguros mais baixos e uma queda abaixo da média nas inadimplências e nos custos pode estar abaixo das expectativas dos investidores”, destaca Marcel Campos, analista da XP Investimentos (confira o relatório clicando aqui).

De acordo com o analista, apesar da margem financeira bruta (NII) acima das expectativas, a NIM foi impactada negativamente por um portfolio menos rentável, deteriorando 63 pontos-base trimestralmente, com uma menor exposição ao varejo e desempenho mais fraco de receita frente os seus pares.  Em relação à receita com tarifas, a baixa foi de 11,8% na base trimestral, ante 8,5% do Santander Brasil (SANB11) e 7,9% do Bradesco (BBDC3;BBDC4).

Por outro lado, mesmo abaixo das estimativas de algumas casas de análise, a redução dos custos segue sendo um dos destaques do banco. A maior instituição financeira privada mostrou um declínio neste quesito de 4,4% na base anual no trimestre, acelerando o aperto visto de 0,8% no período exatamente anterior, “mostrando a forte posição do banco de reduzir custos em um ambiente tão desafiador”, ressalta o Credit Suisse.

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A XP ressalta ainda que, embora ainda abaixo das expectativas devido aos efeitos cambiais, o Itaú mostrou que é incomparável ​​em termos de redução de custos dentro do setor, uma vez que eles caíram (para o Brasil) 6% na base anual, com as despesas não decorrentes de juros em baixa de 4%, para R$ 12,1 bilhões, impulsionadas principalmente pela queda nas despesas com pessoal de 7% na comparação anual para R$ 5,1 bilhões.

O destaque fica para as linhas de participação nos resultados e de desligamentos, que reduziram 19% para R$ 1 bilhão e 25% para R$ 550 milhões, respectivamente. Enquanto isso, o  índice de eficiência do banco se deteriorou devido a menores receitas.

“Lembramos que o Itaú suspendeu os desligamentos de colaboradores desde o início da pandemia. Portanto, acreditamos que ainda haja um grande espaço para melhorias (número de colaboradores até cresceu no trimestre), enquanto a aquisição da Zup adicionou 1,4 mil funcionários à base, o que diminui nossa visibilidade”, avalia Campos, da XP.

Já o índice de inadimplência, como esperado após os resultados do Santander Brasil e Bradesco, teve queda de 38 pontos-base no trimestre, para 2,4%, o que, embora tenha sido bom, ficou atrás dos concorrentes, aponta a XP. Com as novas provisões, por outro lado, a cobertura do saldo de inadimplentes ficou em 281%, “um bom fator para o aumento esperado da inadimplência”, avalia.

Na mesma linha, o Bradesco BBI ressaltou que o resultado do banco foi apenas “bom”, mas não o melhor da temporada. “Os acionistas do Itaú podem ter ficado ‘mal acostumados’ pelo fato do banco ter conseguido entregar consistentemente desempenho de alto nível nos últimos anos, em muitos casos acima de seus pares. Desta vez, porém, a instituição ficou para trás em relação a alguns outros players em determinadas métricas”, apontam os analistas, como de receita e margem financeira (apesar de exaltar os dados de controle de custos).

Nesse cenário, o Credit Suisse apontou que a avaliação foi de um resultado de neutro a negativo, embora a menor cobertura de novos inadimplentes incluindo renegociações e a margem mais fraca com os clientes sejam pontos a serem monitorados pelos investidores.

O Goldman Sachs também avalia que o Itaú também sofreu com as receitas menores com tarifas e seguros. “A receita de tarifas foi fraca, caindo 12% na base trimestral e 7% no ano, em meio à menor receita com cartões de crédito e débito, gestão de ativos e operações de crédito. Os volumes de adquirência caíram 16% no trimestre e 10% no ano. Os resultados de seguros também caíram, com prêmios menores”, apontaram os analistas em relatório.

O Morgan Stanley classificou os resultados como fracos e destacou ainda a estabilidade no total da carteira de empréstimos. Enquanto isso, os empréstimos para pessoas físicas caíram 4%, impulsionado por taxas mais baixas e menor atividade, destacou o relatório do banco americano.

Inadimplência ainda vai subir

Mesmo com os números piores, a avaliação de boa parte dos analistas quanto dos próprios executivos do banco é de que, aparentemente, o pior já passou em termos de provisões e de queda da atividade. Porém, os efeitos da inadimplência devem ser sentidos mais à frente.

Conforme destacou em teleconferência Milton Maluhy, vice-presidente executivo do Itaú, o banco viveu no segundo trimestre de 2020 o pior momento econômico da história do Brasil. Contudo, há sinais positivos de recuperação, o que deve trazer a rentabilidade para níveis melhores. Vale ressaltar que o retorno sobre o patrimônio (ROE, na sigla em inglês) despencou dez pontos percentuais de um ano para o outro, terminando o segundo trimestre de 2020 em 13,5%. No fim de março, porém, estava em 12,8%.

Cândido Bracher, presidente-executivo do banco, por sua vez, avaliou que vê a inadimplência no Brasil atingindo em 2021 níveis mais elevados do que em crises anteriores.

“O PIB do Brasil está prestes a cair para níveis nunca vistos, por isso é natural que haja taxas mais altas de inadimplência”, apontou. Cabe ressaltar que a taxa de inadimplência de 90 dias do Itaú atingiu um pico de 5,6% em 2009 e 4,8% em meio à recessão em 2016. Já no segundo trimestre, ela foi de 2,7%, mas a expectativa é de números maiores no próximo ano, quando haverá o vencimento da extensão de prazos de pagamento aos clientes.

“Temos de esperar inadimplência elevada, mas certamente não estará fora de controle”, aponta Bracher. Segundo o executivo, as provisões para devedores duvidosos já estão adequadas para atravessar a crise. No primeiro trimestre, foi feita uma provisão de R$ 3,8 bilhões complementar, sendo R$ 3,4 bilhões relacionados diretamente com a crise. Já no segundo trimestre, houve complemento de R$ 2 bilhões, com R$ 1,8 bilhão relacionados à pandemia. “Podemos ir adequando à medida que vemos o cenário. Mas a impressão hoje é de que será marginal em relação ao que a gente já fez.”

Já Maluhy destacou que a margem líquida de juros com clientes, um dos pontos apontados como negativos no balanço do banco, deve continuar em queda, apontando que a Selic está na mínima histórica e em meio a mudança de foco para mais empréstimos corporativos.

Em meio ao cenário desafiador, o banco está investindo em um dos seus pontos fortes: a redução nos custos operacionais neste ano e no próximo. Entre as medidas, está a devolução de alguns edifícios alugados, com o executivo avaliando que o trabalho remoto deve virar algo perene para parte da equipe, enquanto também haverá redução de agências, ainda que um número não tenha sido divulgado.

Desta forma, mesmo com os resultados fracos, muitos analistas seguem otimistas com o case de investimentos do Itaú, como é o caso do Bradesco BBI e do Credit Suisse, que seguem com recomendação equivalente à compra para os ativos, destacando principalmente a atratividade dos ativos após a queda das ações. Os papéis ITUB4 apresentam desempenho bastante negativo em 2020: queda de 23,89% até o pregão da véspera, comparado à baixa de 11,08% do Ibovespa no período. Por outro lado, XP e Goldman Sachs possuem recomendação equivalente à neutra para os papéis.

Conforme já destacado na análise de resultado de outros bancos, como Santander e Bradesco, alguns riscos para o setor seguem sendo monitorados, como aumento da concorrência e também as medidas em potencial que estão em pauta no Congresso e que podem afetar o setor como um todo.

Dentre as medidas, uma avançou coincidentemente no pregão pós-resultado do Itaú, fazendo com que a ação acelerasse as perdas, assim como os demais ativos do setor, que caíram entre 2% e 3%. Nesta tarde, ganhou destaque a notícia de que os líderes de partidos no Senado decidiram que votarão na próxima quinta-feira (6) o projeto de lei do Senador Álvaro Dias. O projeto prevê que, até o fim de dezembro, os bancos restrinjam a 30% a cobrança de juros do cheque especial e do cartão de crédito, retroativos a março, quando começou a pandemia do novo coronavírus.

De acordo com o Credit Suisse, o projeto, se aprovado, teria um impacto no valor presente líquido dos bancos em cerca de 3%. Mas, segundo os analistas do banco suíço, é esperada resistência da Câmara dos Deputados. Em meio a essas notícias, a volatilidade deve seguir para as ações do setor, apesar de muitos analistas verem o valuation como bastante atrativo em meio às fortes baixas no ano.

Além disso, no caso do Itaú, há um outro fator a ser considerado. Durante a teleconferência, o presidente do Itaú afirmou que seu sucessor será definido nos próximos meses pelo conselho de administração – sendo provavelmente do comitê executivo do banco. O colegiado é composto por Cândido Bracher, Márcio Schettini (diretor geral do varejo), Caio Ibrahim David (diretor-geral do atacado), além dos vice-presidentes André Sapoznik, Milton Maluhy Filho e Cláudia Politanski – vale destacar que a última, no entanto, pediu sua saída do banco. Apesar da transição dever ser tranquila, o perfil do possível novo CEO será acompanhado de perto pelo mercado.

Em meio a tantos fatores de incerteza, como de possível aumento de inadimplência, elevação da taxação e transição na instituição (esse quesito aparentemente gerando menor pressão), além do resultado comparativamente mais fraco, as ações do banco registram forte queda nesta sessão.

Porém, entre aqueles que ainda estão otimistas com os ativos ITUB4, o bom histórico do banco e a sua forte resiliência – que está sendo comprovada neste momento de crise, ainda que com alguns percalços – são motivos para seguir acreditando na recuperação na Bolsa, ainda que com forte volatilidade no curto prazo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.