Não se engane pela queda das ações e do lucro: resultado do Bradesco foi bastante positivo

Analistas ressaltam que instituição parece preparada para enfrentar a crise em meio às maiores provisões, enquanto destacam maior qualidade dos ativos

Lara Rizério

A man walks past a Banco Bradesco SA branch Sao Paulo, Brazil. Bradesco, is Brazil's second-largest non-government bank . (Photo by Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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SÃO PAULO – Destoando do movimento das units do Santander Brasil (SANB11) após a divulgação dos resultados do segundo trimestre na véspera, as ações do Bradesco (BBDC3, R$ 21,50, -2,54%;BBDC4, R$ 23,41, -3,50%) registraram queda expressiva depois do balanço, com os ativos preferenciais fechando em queda de 3,5% na sessão desta quinta-feira (30).

Assim como no trimestre anterior, o banco registrou uma forte queda do lucro líquido recorrente entre abril e junho, de R$ 3,873 bilhões, cifra 40,1% menor que a identificada um ano antes, de R$ 6,462 bilhões, ainda que 3,2% acima na comparação com os três primeiros meses de 2020.

Contudo, engana-se quem pensa que esse fator fez com que o resultado fosse mal recebido pelos analistas de mercado. Em primeiro lugar, vale ressaltar que, na véspera, as ações do Bradesco fecharam em alta de 3,15%, acima da valorização de 1,44% no Ibovespa no dia, com os ativos reagindo ao resultado considerado positivo do Santander Brasil, que também poderia se estender para os seus pares. Ou seja, já em parte precificando um balanço forte.

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Além disso, a sessão desta quinta-feira é negativa para o mercado em geral em meio às preocupações com o avanço do coronavírus e após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, além dos dados de atividade piores do que o esperado na Alemanha, maior economia da Europa (veja mais clicando aqui), o que também afeta as ações do setor financeiro em geral.

Outro ponto é que, mais uma vez, a forte queda do lucro ocorreu por uma “boa causa” (como, aliás, ocorreu com o Santander Brasil). O Bradesco reforçou, pelo segundo trimestre seguido, as suas provisões com perdas no crédito, num valor de R$ 3,8 bilhões. No primeiro trimestre, o Bradesco já havia constituído R$ 2,7 bilhões em provisões para se proteger do impacto da crise do coronavírus sobre os clientes.

Com isso, o total de provisões atingiu R$ 8,89 bilhões, alta de 155% em relação ao mesmo período do ano passado e de 32,5% ante os três primeiros meses do ano (R$ 6,7 bilhões). O colchão de proteção total, assim, foi para R$ 15,6 bilhões.

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Segundo o banco, as provisões foram reforçadas como consequência do cenário econômico adverso que poderá resultar no aumento do nível de inadimplência em meio à da falência de empresas, elevação do desemprego e degradação do valor das garantias.

Desta forma, o índice de cobertura – que traça uma relação entre o saldo de provisão sobre os créditos inadimplentes – foi para 300%.

Assim, conforme ressalta Marcel Campos, analista da XP Investimentos (veja mais clicando aqui), embora o lucro tenha sido como o esperado e o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) tenha sido de 11,9% (contra 20,6% no segundo trimestre do ano passado), as provisões vieram acima do esperado e fortaleceram o balanço do banco.

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O Credit Suisse ainda reforça que, antes do impacto das provisões, o lucro ficou acima das estimativas dos analistas do banco em 15%. “O Bradesco aproveitou o forte desempenho operacional em NII [margem financeira bruta], opex [despesas operacionais] e em seguro para fortalecer as suas provisões, criando inclusive provisões extras no valor de R$ 747 milhões para compensar o índice de cobertura baixo na subsidiária de seguro”, avaliam Marcelo Telles, Otavio Tanganelli e Alonso Garcia, analistas do banco suíço.

“Acreditamos que o bom desempenho do Bradesco deve ser bem notado pelos investidores, especialmente considerando seus resultados abaixo do esperado no primeiro trimestre de 2020”, avalia Campos, da XP. Cabe ressaltar que, no trimestre anterior, o resultado do banco desagradou em meio à deterioração da qualidade dos ativos, com destaque para o aumento da inadimplência.

Já neste trimestre, essa linha do balanço foi, “definitivamente”, o maior destaque positivo do trimestre, avalia Campos. O índice de inadimplência acima de 90 dias recuou para 3% no fim do segundo trimestre, ante 3,7% em março e 3,2% em junho de 2019.

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Segundo o analista, como a inadimplência deve atingir o pico no final do ano e o índice de cobertura teve forte reforço, o banco parece estar preparado para enfrentar a crise.

Cabe ressaltar que os bancos fizeram programas de renegociação e alongamento de dívidas. Sobre isso, o Bradesco destacou números considerados bons sobre a prorrogação das parcelas em empréstimos, que totalizaram R$ 61 bilhões até o momento com clientes, dos quais: i) 93% estavam em dia; ii) 71% com colateral; e iii) mantinham relacionamento médio de 14 anos. “Este comentário deve ser relevante, uma vez que os investidores avaliam se o banco deve receber ou não esses empréstimos. Lembramos que, mesmo considerando empréstimos renegociados, o índice de cobertura do banco aumentou”, aponta o analista da XP.

O banco ainda divulgou o fechamento de mais de 300 agências no ano, o que é avaliado como positivo, ao passo que o corte de custos deve se tornar mandatório no novo ambiente de digitalização e menores cobranças.

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Uma outra surpresa positiva foi em relação às despesas. A linha com pessoal registrou queda de 9% no trimestre e 12% no comparativo anual, atingindo R$ 4,8 bilhões, com menores despesas com participação nos resultados (o Bradesco assinou um acordo de não-demissão), redução considerável de custos com treinamento e desligamento no trimestre.

Já a parcela não estrutural dos custos apresentou redução de 52% em relação ao ano anterior e de 38% em relação ao trimestre anterior, para R$ 635 milhões. “Outros custos também melhoraram, mas abaixo das expectativas. No geral, o índice de eficiência do banco melhorou 6 pontos percentuais no trimestre para 37%, muito positivo, considerando que os custos eram uma linha negativa em 2019”, destaca Campos. Houve queda anual de 5,5% nas despesas operacionais, que totalizaram R$ 11,5 bilhões de reais no trimestre.

A carteira de crédito expandida, por sua vez, cresceu para R$ 661 bilhões, alta de 15% em relação ao segundo trimestre de 2019, sendo liderada pelas operações com pessoas jurídicas com o aumento da demanda de grandes empresas durante a pandemia.

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Por outro lado, as receitas de serviços do banco recuaram 7,9%, para R$ 8,3 bilhões, afetadas pelo desempenho mais fraco da sua controlada Cielo (CIEL3). Contudo, a XP avalia que o resultado pode ser considerado positivo, considerando que o período foi o trimestre mais difícil em termos de isolamento.

Além disso, 97% das transações foram realizadas pelo autoatendimento, com 89% concentradas no Mobile e internet e 23% do crédito autorizado no primeiro semestre de 2020 foram liberados via canal digital (versus 17% no mesmo período de 2019). A abertura de contas pessoa física via aplicativo no ​​trimestre aumentaram 239% na base anual, para 224 mil. “A digitalização do Bradesco também deve ser relevante para o banco competir no novo ambiente dos bancos digitais”, avalia o analista da XP.

Visão positiva para os ativos

Com todos esses pontos em destaque, os analistas seguem com uma visão positiva para os ativos. Os analistas da XP Investimentos, Credit Suisse, Itaú BBA e UBS possuem recomendação equivalente à compra para as ações, ainda mais levando em conta a forte queda do ativo no ano.

“Reiteramos nossa recomendação de desempenho acima da média (outperform) do Bradesco e a nossa posição positiva para o setor bancário brasileiro, que permanece subvalorizado em nossa opinião e deve continuar a ser impulsionado pela temporada de resultados do segundo trimestre de 2020”, avalia o Credit. Já o Itaú BBA aponta que o pior parece ter ficado para trás.

Na mesma linha, em teleconferência, Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, apontou que o “pior momento da crise aparentemente já passou”.

Em teleconferência, Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, destacou que o pico do custo de crédito provavelmente foi no segundo trimestre, o que deve levar a despesas menores com provisão – desde que não haja segunda onda de infecções pelo novo coronavírus.

O banco reforçou ainda que segue fazendo uma redução “radical” em custos operacionais, que devem ter queda nominal em 2020 e nos próximos anos. Além disso, pretende fechar mais de 400 agências neste ano, acima do que previa inicialmente.

Lazari ainda ressaltou que o nível atual de provisões para crédito duvidoso deixa o banco com “relativo conforto” para resto do ano, mas serão feitos novos ajustes se necessário. Assim, aponta, as despesas com PDD serão provavelmente menores no segundo semestre de 2020 e em 2021 do que na primeira metade deste ano, a depender do desenrolar da pandemia.

Contudo, apesar da visão positiva, os analistas apontam para os possíveis riscos para os grandes bancos, que levaram à forte queda dos ativos no primeiro semestre de 2020 e devem continuar gerando volatilidade para as ações. São eles: i) elevação da concorrência; ii) novo sistema de pagamentos (PIX) e; iii) possível aumento de impostos a ser discutido no Congresso Nacional.

Assim, mesmo com as ações sendo vistas como descontadas, esses fatores – assim como a evolução dos dados de inadimplência – devem ser monitorados com atenção pelos investidores.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.