Nova Tesla? Virgin Galactic dispara 200% no ano e se torna a nova “queridinha especulativa” de Wall Street

Por que a empresa, especializada em viagens espaciais, é vista com otimismo pelos analistas

Rodrigo Tolotti

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Enquanto o mercado se assustava com a arrancada das ações da montadora Tesla na Bolsa, uma outra companhia com perfil relativamente parecido registrava ganhos ainda mais expressivos.

A Virgin Galactic, uma empresa de viagens espaciais, é novata no mercado. Seus papéis estrearam na Bolsa de Nova York em outubro e, apenas neste ano, valorizaram 200%. Só nas últimas duas semanas, as ações subiram por oito dias seguidos e bateram sete recordes, acumulando uma alta de 102% no período.

Apesar de não ser concorrente da montadora de Elon Musk, a Virgin, fundada pelo bilionário Richard Branson, divide algumas características com a Tesla. Basicamente, ambas são empresas de “tecnologias futuristas” (mesmo que os carros elétricos já sejam uma realidade, ainda são poucos veículos deste tipo nas ruas).

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Mais do que os resultados atuais ou dos próximos meses, a análise do investimento na Virgin ou na Tesla se concentra no que as companhias estão fazendo para entregar o que prometem daqui a alguns anos. Por serem negócios novos, o potencial de crescimento, em tese, é maior que o de empresas tradicionais. Mas, se a estratégia der errado, o tombo pode ser grande.

A Virgin vem recebendo boas recomendações de analistas, o que tem colaborado para os ganhos expressivos das ações. Mas isso não tem sido suficiente para evitar a volatilidade intensa: apenas na última quinta-feira, os papéis abriram em alta de 5%, viraram para queda de até 17%, voltaram a subir durante a tarde e fecharam com perda de 0,86%, encerrando sua sequência de oito altas.

A Virgin Galactic foi criada em 2004 por Richard Branson e Burt Rutan com o foco de desenvolver espaçonaves comerciais para realizar voos suborbitais. Nesse tipo de voo, a espaçonave vai até a “beirada” do espaço, chamado de suborbital, não se afastando muito da Terra.

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Isso torna a companhia bastante diferente de uma outra empresa criada por Musk, a SpaceX, cujo objetivo é colonizar Marte.

Por conta desse modelo, há um maior otimismo de que a empresa de Branson esteja próxima de iniciar suas operações comerciais. Os objetivos principais da Virgin Galactic são realizar missões científicas e levar turistas ao espaço.

A companhia criou um sistema em que um avião de transporte, chamado de White Knight Two, leva a espaçonave SpaceShipTwo e a lança já durante o voo, como mostra o vídeo abaixo, de um voo-teste.

Confira o vídeo do primeiro voo-teste feito pela SpaceShipTwo:

Vale lembrar, porém, que a história da Virgin até agora é recheada de promessas não cumpridas. Branson chegou a falar que o voo inaugural da espaçonave, com clientes, seria em 2009, prazo adiado diversas vezes. Até hoje, a empresa realizou apenas testes, sem início da operação comercial.

Mas um dos motivos para a alta recente das ações está no aumento da expectativa de que este dia pode realmente estar chegando.

A equipe de analistas do Morgan Stanley – uma das três casas de análise que cobrem a companhia atualmente – acredita que a empresa irá começar a entregar suas promessas já nos próximos meses. E mesmo que as ações já tenham superado seu preço-alvo (US$ 22), segue com uma recomendação overweight, ou seja, acima da média do mercado.

“Somos muito construtivos com a história da Virgin Galactic […] uma vez que ela está usando sua posição pioneira no turismo espacial para financiar apostas maiores e mais emocionantes em viagens hipersônicas”, avaliam os analistas, ressaltando, porém, que as ações poderiam “ter um respiro” após a forte alta recente.

A procura pelos papéis tem sido tão grande que a média diária de ordens de compra saltou de 12.500 em dezembro para 175.000 na semana passada, segundo dados levantados por Jon Najarian, cofundador da empresa de educação financeira Market Rebellion.

Já o ex-gestor Jim Cramer, em seu programa no canal CNBC, destacou que “isso [disparada das ações] é o que acontece quando muitas pessoas querem uma ação na mesma hora”. “Não pode ser parado agora, e estas coisas costumam terminar mal”, alerta.

De onde vem o otimismo?

Segundo os analistas do Morgan Stanley, o mercado financeiro ainda tem muito para estudar e entender melhor o potencial da economia espacial. Eles acreditam que a ascensão da companhia esteja relacionada a uma combinação de falta de empresas focadas exclusivamente nesse segmento, além de um crescente interesse dos investidores pela importância e uso estratégico do hipersônico.

“Observamos que os pontos de execução que traçarão a jornada da Virgin Galactic levarão tempo para acontecer e, em alguns casos, podem levar muitos anos. Portanto, continuamos construtivos, mas achamos que uma correção das cotações dos papéis poderia ser saudável”, diz o relatório da equipe liderada pelo analista Adam Jonas.

Para os analistas, a Virgin está no caminho certo para ter seu primeiro cliente pagante, o próprio Richard Branson, voando até o final deste ano, além da meta da própria empresa de ter 115 voos em 2021. “Em nossas estimativas, a Virgin pode alcançar uma parcela dominante do mercado de turismo espacial (se não um monopólio) nos próximos dois a três anos, devido ao seu sistema de lançamento comprovado e à economia inerente à sua arquitetura de lançamento”, afirmam.

No curto prazo, o Morgan diz que serão vários catalisadores importantes para as ações este ano, incluindo testes de viabilidade de voo que deverão comprovar a capacidade do foguete da empresa levar turistas ao espaço. Além disso, há uma expectativa de que a companhia comece a levar investidores para suas instalações na Califórnia e Novo México a partir do segundo trimestre, o que pode sustentar o otimismo do mercado.

Os analistas do Credit Suisse, no entanto, são mais céticos. Eles ressaltam os fatores de risco para a companhia, que incluem as dúvidas sobre se realmente existe demanda para esse tipo de voo, a possibilidade de maior concorrência e os custos elevados. Os profissionais ressaltam ainda o risco de acidentes.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.