Muito além do Occupy

Em entrevista à revista InfoMoney, o idealizador do movimento Occupy Wall Street defende a "destruição criativa" das ciências econômicas

Rafael Brandimarti

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Criador da revista Adbusters e um dos idealizadores do movimento de protesto Occupy Wall Street (OWS), que tomou o Zuccotti Park em Nova York em setembro de 2011, o estoniano-canadense Kalle Lasn, 70, prega, em seu mais novo livro, “Meme Wars: The Creative Destruction of Neoclassical Economics”, a destruição do modelo econômico neoclássico. Crítico do sistema neoliberal, Lasn mira agora no gigante das finanças Goldman Sachs para manter acesa a chama do OWS e prevê uma crise ambiental que poderá nos levar a uma nova “idade das trevas” se nada for feito agora e o mundo rico continuar consumindo compulsivamente. Leia a seguir entrevista exclusiva:

IM – Do que trata o livro “Meme Wars”?

Kalle Lasn – O que nós estamos querendo dizer com o livro é que há alguma coisa de muito errado com as ciências econômicas hoje, que as suposições e os fundamentos teóricos estão errados e que, se nós quisermos criar um futuro são e sustentável para todos, temos que pensar da maneira mais básica possível sobre como mudar as ciências econômicas. Em segundo lugar, o que nós queremos dizer é que não adianta esperar que os EUA, o FMI, o Banco Mundial ou os economistas do mercado deem início a essa mudança de paradigma. Estamos fazendo um chamamento aos estudantes de economia do mundo, especialmente aos PhD, para questionarem seus professores e começarem a criar um movimento de oposição, principalmente em faculdades de prestígio como Harvard, Oxford e Cambridge.

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IM – Vivemos um período de crise? Por quê?

KL – Sim. Basicamente não estamos medindo os custos ecológicos de fazer negócios hoje, e a próxima crise será causada por forças ecológicas. No entanto, quando vier, será muito mais séria do que o “crash” de 1929, porque naquela época ainda tínhamos peixes nos oceanos, água limpa, solo para plantar e muito petróleo para extrair. Quando a próxima crise despontar, será muito mais séria e muito mais intensa. Apesar de ainda me considerar um otimista, acredito que esse período poderá perdurar por muito tempo, talvez cem anos ou mais.

IM – Como podemos mudar essa situação?

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KL – Por meio de um sistema educacional que ensine as pessoas sobre o que de fato está ocorrendo no mundo e por meio de novos modelos de conduta. Pegue o Bill Gates por exemplo. Ao mesmo tempo que ele ajuda milhares de pessoas no terceiro mundo, ele vive numa mansão de 10 mil m² e sua pegada ecológica é enorme. Então temos que apontar o dedo e dizer: “Por que o senhor não passa a morar numa casa menor?”

IM – O modo de vida americano não é negociável?

KL – O sonho americano tornou-se um pesadelo. Os EUA triplicaram seu nível de consumo nas últimas décadas. Nós temos que parar de seguir esse modelo e começar a criar um novo tipo de sonho. Esse é o grande desafio que teremos de enfrentar.

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IM – Como o senhor vê o Brasil diante desse novo cenário?

KL – Vejo o Brasil como uma espécie de país dissidente, que poderá ter um papel muito importante, em contrapartida a Índia e China, que parecem ter aceitado o velho modelo neoliberal. Ao que parece, vocês estão fazendo as coisas um pouco diferentes. Acredito que o Brasil possa ser capaz de adotar um novo modelo econômico, que vocês sejam capazes de ser um dos pioneiros do capitalismo 2.0, em vez de serem capturados por essa versão 1.0.

IM – O que é #GOLDMAN (meme em destaque na última Adbusters)?

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KL – Depois que o OWS arrefeceu, começamos a pensar sobre o que poderia catalizar as pessoas novamente, sobre o que poderia ser o novo “Big Bang”. Enquanto buscamos essa resposta, tivemos a ideia de ir atrás dos 73 escritórios do Goldman Sachs espalhados pelo mundo. Chamar as pessoas para protestar em frente às agências do GS é uma ótima maneira de manter a chama do OWS acesa.

IM – Onde o senhor guarda o seu dinheiro?

KL – O meu dinheiro e o dinheiro da Adbusters estão guardados num banco chamado Vancity [Vancouver City Savings Credit Union], uma cooperativa financeira que temos aqui no Canadá.

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(Entrevista originalmente publicada na Revista InfoMoney 44)