MRV (MRVE3): ponto crítico do “turnaround” já passou, mas por que as ações desabam 30% no ano?

Expectativas por revisão de guidance para baixo e aumento das despesas financeiras afetam as ações, mas analistas seguem recomendando compra

Lara Rizério

(Divulgação/MRV)
(Divulgação/MRV)

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Destaque de queda do Ibovespa neste início de 2024, com baixa acumulada de 30%, as ações da MRV&Co (MRVE3) desabaram mais de 11% apenas na sessão da última quinta-feira (11) em meio às especulações sobre mudança de guidance em fevereiro e sobre a prévia operacional, que foi divulgada pouco após o fechamento da véspera. Nesta sexta, ainda que não na mesma intensidade, MRVE3 também fechou em forte baixa.

Os números apresentados ontem seriam vistos como positivos, a princípio. O segmento de incorporação do grupo MRV&Co teve no quarto trimestre a primeira geração de caixa em três anos de fluxo negativo, com dado positivo nos três últimos meses de 2023 de R$ 137,2 milhões.

A incorporadora divulgou ainda vendas de R$ 2,3 bilhões no trimestre, alta de 55,8% ano a ano, encerrando 2023 com vendas líquidas de R$ 8,5 bilhões, um avanço de 45%. Ambas as leituras marcam recordes históricos, segundo a empresa. Contudo, algumas casas de análise seguem revisando para baixo as projeções, ainda que vejam as ações como atrativas.

O Itaú BBA, após a divulgação das prévias operacionais do 4º trimestre, optou por adotar uma visão mais conservadora para despesa financeira e vendas de Resia. Em resumo fez um corte da projeção do lucro em 40%, para R$ 370 milhões, em 2024 e R$ 670 milhões em 2025. Os analistas reiteraram preferência em Direcional (DIRR3), Cury (CURY3) e Plano & Plano (PLPL3), no setor de baixa renda. Contudo, a recomendação para os papéis segue outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra), com preço-alvo para 2024 de R$ 12 (ante R$ 13 até 2023), ou um potencial de valorização de 43% em relação ao fechamento da véspera.

O Bradesco BBI aponta que as ações caem forte no ano devido aos temores de uma possível queda na expectativa do consenso para o LPA (lucro por ação) de 2024, desencadeada também pela publicação de um guidance de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) mais fraca do que o esperado pela Tenda (TEND3) no início desta semana.

Para os analistas do banco, o turnaround da MRV superou seu ponto crítico em 2023 e os números operacionais divulgados na véspera reforçam essa percepção. “No entanto, entendemos que 2024 ainda é um ano de transição em seu resultado, já que a MRV ainda não concluiu a construção (e reconhecimento de margem) de seus projetos de baixa margem 2021-22, com crescimento significativo do LPA contratado para 2025 (de +98% em base anual em 2025, pela estimativa do Bradesco BBI)”, avaliam.

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Nesse sentido, os analistas não estão muito preocupados com os resultados financeiros de 2024, já que o lucro líquido atual de R$ 521 milhões significa 9 vezes o múltiplo de preço sobre lucro (P/L) esperado para 2024, o mais alto entre seus pares de baixa renda (portanto, não é um motivo para comprar, dado o valor estivado).

As estimativas oficiais para 2025, por outro lado, mostram um P/L esperado para 2025 em atraentes 4,5 vezes. Contudo, um corte de 25% nos resultados financeiros da MRV Incorporação (levando os resultados financeiros da MRV para R$ 800 milhões, abaixo da estimativa do Bradesco BBI de R$ 1 bilhão atualmente), colocaria o P/L para 2025 em 5,8 vezes (versus pares em 6,5 vezes, como por exemplo a Tenda) – mesmo considerando um resultado final moderado de R$ 67 milhões para Resia em 2025.

Em suma, avaliam os analistas, a queda dos lucros provavelmente prejudicará o dinamismo da MRVE3, que já é assombrada pelas incertezas contínuas nas operações da Resia nos EUA. “Por outro lado, do ponto de vista de valor, ainda vemos uma assimetria altamente positiva no caso. Acreditamos que, uma vez que as expectativas da MRV Brasil se acalmem (mesmo que abaixo da expectativa do Bradesco BBI) e o duvidoso impulso macro da Resia eventualmente cesse, vemos espaço para um desbloqueio significativo de valor em MRVE3, provavelmente com o maior potencial de valorização”, apontam. O banco tem recomendação outperform para MRVE3, com preço-alvo de R$ 17 (upside de 103%).

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A XP também reiterou compra para os ativos após a prévia, ressaltando que a MRV apresentou dados operacionais ligeiramente positivos no 4T23, parcialmente compensados por um cenário de caixa ainda pressionado (embora melhor) nas operações brasileiras. Os lançamentos tiveram um desempenho moderado no trimestre para focar na recuperação da rentabilidade, na visão da casa, também mantendo recomendação de compra e preço alvo de R$ 17 por ação.

Com a visão de que a forte queda das ações em 2024 reflete preocupações sobre o cumprimento do guidance da MRV para o ano, principalmente à luz de uma margem bruta mais fraca (ainda impactada por projetos mais antigos) e despesas financeiras mais pesadas (devido a mais securitização de recebíveis a custos elevados), o BTG Pactual disse planejar revisar os seus números em breve. Isso de forma a incorporar as perspectivas mais difíceis e os desenvolvimentos recentes. Assim como XP e BBI, o banco tem atualmente recomendação outperform com preço-alvo de R$ 17.

O Santander tem a mesma recomendação, mas com preço-alvo um pouco mais baixo, de R$ 16 (upside de 91%), destacando a melhoria operacional contínua e o valuation atrativo olhando para as projeções de 2025. “Contudo, acreditamos que o desempenho das ações no curto prazo deve permanecer desafiador, apesar de uma sólida prévia operacional”, com a revisão para baixo de lucros e e aumento das despesas financeiras.

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A sessão pós-divulgação da prévia foi de volatilidade para as ações MRVE3, mas fechando novamente em queda: os papéis encerraram a sessão na mínima, a R$ 7,82 (-6,79%), após chegarem a R$ 8,63 (+2,86%) na máxima do dia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.