MRV (MRVE3) aposta no Minha Casa Minha Vida para destravar vendas; ações caem após balanço

Empresa fala em voltar à venda líquida de cerca de 40 mil unidades por ano; no 1º semestre, chegou a cerca de 18 mil

Augusto Diniz

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A MRV (MRVE3) quer definitivamente deixar para trás os seus piores resultados, reportados nos últimos trimestres. E as novas regras do Minha Casa Minha Vida (MCMV) são um grande propulsor para que isso aconteça. Afinal, a companhia é a maior operadora do programa no país.

“Com o novo MCMV, que corrigiu várias distorções, a gente vê com grande probabilidade fazermos 40 mil vendas líquidas anuais com uma margem muito saudável”, afirmou Rafael Menin, CEO da MRV, durante a apresentação dos resultados do 2T23 a analistas, nesta quinta-feira (10).

Eduardo Fischer, co-CEO da empresa, disse que a empresa está concentrada em manter 40 mil unidades anuais nos próximos três anos, “com a margem mais alta possível, gerando lucro e caixa”. Para o executivo, a empresa tem as ferramentas para alcançar o resultado com o MCMV.

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Após a divulgação dos resultados, as ações da MRV (MRVE3) recuaram 1,67%, fechando cotadas a R$ 13,52. As ações variaram na sessão entre a mínima de R$ 13,13 e a máxima de R$ 14,09. A MRV registrou lucro 215% maior no segundo trimestre, indo a R$ 181,1 milhões.

MRV: Funding do SBPE para o MCMV

Ricardo Paixão, CFO da MRV, pelo seu lado, avalia que os novos parâmetros do MCMV, como o aumento de subsídio e maior teto, levaram parte do estoque que estava com funding do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) para dentro do programa.

“Esse ganho de affordability (capacidade de compra de imóveis), parte dele, vai para a margem bruta e uma a maior parte à redução do pró-soluto (da MRV)”, afirma Paixão.

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Menin crê que o novo programa endereçou um problema importante de adesão que era o teto (que agora é de R$ 350 mil).

“Isso destravou a companhia e a capacidade em reprecificar, de sair de um funding SBPE e migrar para o Minha Casa Minha Vida”, destacou.

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Ambiente competitivo

Menin vê o mercado de São Paulo “gigantesco” para o programa, mas com um ambiente bastante competitivo. “O que a gente está vendo em muitas praças que atuamos com rendas menores, é que temos conseguido margens maiores”, disse.

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“Nessas cidades interioranas ou nas capitais com renda mais baixa, como no Nordeste, o terreno é mais barato e a competição de fato é menor. Isso faz com que a gente tenha uma venda muito melhor”, comentou o executivo.

A companhia conviveu com um cenário bastante difícil nos últimos anos, acrescentou ele. “Pegamos um aumento de custo de mais ou menos 40%, no qual os preços de venda subiram numa magnitude muito menor. Isso teve como resultado as piores safras da história da MRV”, disse.

“Diria que a partir de 2020 até o começo de 2022, essas safras representaram uma margem bruta de aproximadamente 16, 17%, que é um resultado trágico.”

Recuperação de preços

Em 2022, a empresa teve uma trajetória de recuperação de preço das unidades, mas que não evitou que a companhia entrasse num longo período de queima de caixa.

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“O preço de vendas para gente subirá ainda um pouco acima da inflação, até o final do ano (de 4 a 5%), e a partir do ano que vem deve subir em linha com a inflação”, ressaltou Menin.

O executivo anunciou na teleconferência que as subsidiárias Luggo e Urba não têm no seu plano de negócios mais aporte de capital.

“A gente vem conseguindo precificar cada vez mais. Obviamente, a precificação não será na dimensão de 2022, mas ela continua acontecendo”, comentou Eduardo Fischer. “No 3T23, a gente está conseguido fazer isso e vai continuar.

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O objetivo principal é que isso reverta à margem o mais rápido possível”, complementou.

Balanço MRVE3: Analistas veem recuperação

A XP considerou os resultados da MRV no 2T23 neutros, “mas encorajadores em termos de recuperação da rentabilidade”.

Para a corretora, o ponto negativo foi o lucro líquido, que excluindo eventos não recorrentes, reportou um prejuízo líquido ajustado de R$ 20 milhões, ainda afetado por despesas financeiras mais altas.

O BofA vê as margens da MRV em contínuo avanço no segundo semestre. Melhor acessibilidade dentro do MCMV e custos estagnados devem apoiar o crescimento das margens, avalia o banco.

O segmento do mercado imobiliário de atuação com a baixa renda deve capturar no terceiro trimestre as novas regras do programa do governo federal, crê o Bofa.