MRV (MRVE3): resultado evidencia “dois mundos” da construtora e ação fecha em queda de 4,89%; empresa destaca desafios no Casa Verde e Amarela

Enquanto segmento da companhia nos EUA (AHS) apresentou resultados "estelares", ainda que esperados, MRV Brasil mostrou resultado fraco

Lara Rizério | André Cabette Fábio

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O dia é de volatilidade para as ações da MRV (MRVE3) após o resultado do quarto trimestre de 2021, com os investidores digerindo as grandes diferenças entre os segmentos da companhia. As ações abriram a sessão desta quinta-feira (17) em alta, chegando a subirem 3,01%, a R$ 10,95. Contudo, os papéis passaram a ter queda, fechando em baixa de 4,89%, a R$ 10,11.

A companhia registrou um lucro ajustado de 322 milhões no 4º trimestre do ano passado, representando uma alta de 64% na comparação com mesmo período de 2020, com um resultado em que analistas de mercado destacaram os “dois mundos” para a construtora.

O Bradesco BBI apontou que os resultados foram vistos, ressaltando o faturamento recorde da MRV em 2021, com a diversificação de segmentos da MRV (AHS e Luggo) desempenhando um papel muito positivo em um ambiente muito desafiador para o Programa Casa Verde Amarela (CVA).

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Em termos de rentabilidade, a MRV Brasil mostrou fraqueza. A margem bruta deste segmento caiu 2,1 pontos percentuais e foi a 22,4%, já que o CVA enfrenta uma grande encruzilhada de custos desenfreados, com novas revisões de custos orçamentários e menor repasse da inflação para os preços. Contudo, para o BBI, essa queda veio até mesmo como um alívio em termos relativos depois que a Tenda (TEND3), que atua no mesmo segmento, registrou um trimestre desastroso com grandes revisões orçamentárias (o que levou a companhia a registrar margens brutas negativas no período e ver suas ações despencarem após o resultado).

Já a AHS, construtora da MRV nos EUA, conduziu a companhia a seu recorde de lucros anuais em 2021. As vendas anuais da AHS totalizaram 1.378 unidades, representando R$ 1,75 bilhão em VGV (Valor Geral de Venda).

O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) consolidado terminou 2021 a 13,7% (alta de 3,5 pontos percentuais em relação a 2021).

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A Luggo  (propriedades multifamiliares no Brasil) também ajudou nos resultados após o negócio com a Brookfield no quarto trimestre. O BBI lembra que em dezembro de 2021 a empresa anunciou um acordo entre o seu negócio de propriedade multifamiliar e a Brookfield para assegurar a venda de 5.100 unidades, representando R$ 1,26 bilhão em VGV
divididos em três fases. Os projetos serão vendidos à Brookfield no final da construção e o acordo teve início
com a venda de dois projetos totalizando R$ 105 milhões em VGV, com uma margem bruta de 29% e geração de
caixa de R$ 56 milhões.

Para o Itaú BBA, a MRV reportou um conjunto de resultados fraco, uma vez que os fortes números da AHS já eram antecipados. Uma receita líquida mais forte foi mais do que compensada por margens mais fracas e compensações fiscais mais baixas dos resultados de AHS e Luggo.

Analistas do Credit Suisse destacam que a MRV é a segunda empresa a apresentar margens deprimidas devido às pressões inflacionárias e à necessidade de revisões orçamentárias.

Por outro lado, a MRV está avançando com sucesso com o ramp up das operações das subsidiárias, tendo alcançado marcos importantes ao longo do trimestre e em 2021.

Eles ainda ressaltam ainda, como um fato a ser observado, que a empresa vem queimando uma quantidade significativa de caixa em seu negócios principais.

A Levante Ideias de Investimentos ressalta que a queima de caixa de R$ 150 milhões no trimestre é o principal ponto de preocupação do resultado reportado. A MRV optou por seguir nos últimos três meses de 2021 a mesma estratégia adotada ao longo do ano, de antecipar a compra e estocar materiais necessários para a construção, com o intuito de normalizar o
fornecimento e evitar atrasos nas obras. No entanto, esta medida levou a uma queima de caixa exacerbada no período.

Além da estocagem de materiais, contribuíram negativamente para o resultado: i) a alteração no normativo da Caixa Econômica Federal, que passou a condicionar o recebimento da medição da obra ao registro do Financiamento à Construção, que causou um impacto de R$ 141 milhões no decorrer do ano; e ii) o atraso na averbação do Habite-se (documento necessário para construção de obra) em função dos efeitos da pandemia do COVID-19, que resultou em um montante de R$ 75 milhões não recebidos.

A companhia encerrou o ano com uma dívida líquida de R$ 2,7 bilhões com índice de dívida líquida sobre Ebitda de 1,9 vez, ainda a patamares confortáveis em termos de alavancagem.

“Em relação às perspectivas para a MRV, acreditamos que a atual conjuntura é desafiadora para as companhias do
setor atualmente, com as mesmas devendo sofrer com o aumento persistente dos custos de construção”, aponta a Levante.

Na mesma linha, o Credit Suisse mantém visão negativa para o setor, pois não vislumbra uma perspectiva melhor para o aumento dos custos. Dessa forma, permanece neutra na ação, com preço-alvo de R$ 15, ainda que com potencial de alta de 41% em relação ao fechamento da véspera.

Já o Itaú BBA tem recomendação outperform (desempenho acima da média) para o papel, com preço-alvo de R$ 19,30, um avanço de 82% em relação ao fechamento da véspera.

O Bradesco BBI também tem recomendação outperform para os ativos, com preço-alvo de R$ 21, um potencial de alta de 98% em relação ao fechamento da véspera. Em janeiro, os analistas do banco destacaram o valuation descontado da companhia e que, ao comprar MRV, o acionista poderia levar a AHS e a Luggo “por centavos”.

AHS com participação maior, desafios no CVA

Em teleconferência após resultado, os executivos da companhia destacaram os desafios para a MRV Brasil e o cenário mais promissor para a AHS.

Rafael Menin, CEO da companhia, afirmou que a falta de ajuste à inflação do programa Casa Verde e Amarela vem diminuindo muito os volumes, de uma média de 30 mil para 15 mil nos últimos quatro meses. Ele avaliou que, com um ajuste adequado à inflação, o volume pode aumentar.

Ele afirmou que a empresa está sendo mais seletiva com os lançamentos, e que isso deverá continuar caso não haja mudanças em 2022. “Existe uma tentativa de manter os lançamentos desde que continuemos com uma margem mínima”, disse. Mas reconheceu que pode haver redução de volumes.

Para o CEO, o CVA está desequilibrado quanto à inflação, sem ajustes a 7 anos (considerando o período em que se chamava Minha Casa Minha Vida). Ele afirmou que, após reuniões ministeriais, há previsão de ajuste em abril, mas muito inferior às necessidades. E que, se não houver um ajuste novo neste ano, é provável que haja o menor volume de contratações nos últimos 13 anos, quando o programa foi lançado.

Ele afirmou que houve um desalinhamento em renda, juros e inflação e que, para voltar ao volume de 30 mil imóveis, deveria haver um ajuste bem maior. E disse que não espera um ajuste no curto prazo que leve à volta a este volume.

Contudo, ponderou que, com a falta de ajuste por um longo período, diminuiu a concorrência no setor. Assim, em caso de ajuste a MRV poderá ter grandes vantagens competitivas.

Eduardo Fischer, co-presidente, afirmou que o setor de construção é um grande gerador de empregos e que programas como o Casa Verde e Amarela devem ser debatidos em ano eleitoral. Assim, está otimista quanto a ajustes.

O CFO da MRV, Ricardo Paixão, afirmou que o poder de compra de quem pertence às rendas mais baixas caiu muito com o aumento do custo da construção.

Já com relação à AHS, o tom foi de maior otimismo. Menin afirmou que, com o bom desempenho e o dólar valorizado, o braço AHS Residential, que atua nos Estados Unidos, poderá responder no futuro por 60% do lucro líquido da empresa.

Questionado sobre as previsões de vendas do AHS Residential em 2022, o CFO da MRV Ricardo Paixão afirmou que um empreendimento entrou em venda nesta virada de ano e mais 3 devem entrar até o final do ano. Assim, o volume de unidades parecido com o de 2021, que foi de 1.378 unidades, com VGV (valor geral de vendas) de R$ 1,75 bilhão.

Paixão afirmou que o mercado está aquecido e vem sendo possível vender por preços cheios, além de esperar melhora de margens para este ano.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.