Mobly (MBLY3) desaba 33,5%, C&A (CEAB3) salta 18% e mais: o que explica as reações “extremas” aos resultados?

Anima também registrou fortes ganhos e Zamp teve queda, em nova sessão de reações expressivas aos balanços do terceiro trimestre

Lara Rizério

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Enquanto o Ibovespa avançou mais de 1%, outras ações registravam movimentos ainda mais expressivos no período, muitas delas por conta dos resultados do terceiro trimestre de 2023 (3T23).

Entre dezenas de companhias que divulgaram o seu resultado entre a noite de quinta-feira (9) e a manhã desta sexta (10), algumas se destacaram com movimentos muito expressivos.

A Mobly (MBLY3) apareceu de longe como o principal destaque negativo da B3, fechando a sessão com queda de 33,51%, a R$ 2,56, na sessão após o balanço. Na sequência, Zamp (ZAMP3),  administradora das redes de fast food Burger King e Popeyes, figurou entre as maiores quedas entre as empresas que divulgaram resultado, fechando com baixa de 9,15%, a R$ 6,06.

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Já entre as altas, Infracommerce (IFCM3) saltou 14,08%, a R$ 1,62, enquanto Ânima (ANIM3) subiu 8,25%, a R$ 3,41, após chegar a saltar mais de 10% no intraday. Já C&A (CEAB3) disparou 18,11%, a R$ 7,24, puxando ainda mais o salto das ações em 2023.

Confira o que fez essas ações dispararem ou desabarem:

Mobly (MBLY3)

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A sessão é de forte queda para as ações da Mobly na esteira dos resultados.

A companhia apresentou prejuízo líquido de R$ 24,3 milhões no terceiro trimestre, alta de 26,3% em relação ao apresentado no mesmo período de 2022.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado recuou 13,7% e ficou negativo em R$ 5,6 milhões de reais na comparação com 2022, com margem em -4,5%. Por outro lado, a melhora no Ebitda, em relação a 2021, foi considerada “uma conquista significativa”.

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O Morgan Stanley aponta que a pressão sobre as vendas persistiu, com vendas de mercadorias brutas (GMV) em queda anual de 17%, à medida que as tendências desaceleraram, especialmente nas lojas Mobly. Já a receita ficou -11% abaixo do esperado pelo banco.

O declínio geral do GMV da Mobly de 17% ano a ano no 3T23 foi ligeiramente desfavorável versus a queda de 14% na mesma base no 2T23, aponta o Morgan.

No GMV online, as tendências melhoraram sequencialmente no marketplace, ou 3P, (-20% na base anual no 3T, versus  -40% no 2T), enquanto a loja virtual se deteriorou ainda mais (-25% no ano, versus -15% no 2T). “Ao todo, o GMV total ficou 11% abaixo da nossa estimativa, com a receita 13% abaixo da nossa previsão”, apontou.

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Além disso, com a desalavancagem operacional mais do que compensando o foco no controle de despesas, a margem Ebitda ajustada contraiu 140 pontos base em relação ao ano anterior, ficando 4,2 pontos percentuais abaixo da projeção da casa.

O Morgan também cita que a Mobly continua tendo como prioridade a gestão do fluxo de caixa, com foco nos custos de aquisição de clientes e nas despesas de capital, enquanto os saldos de caixa diminuíram no trimestre.

Para o Goldman Sachs, a Mobly relatou um conjunto fraco de resultados do 3T23, com as vendas 19% abaixo do consenso Bloomberg, impactadas negativamente por um cenário de demanda ainda desafiador para o setor moveleiro.

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“Embora a margem bruta tenha sido ligeiramente superior às expectativas, impulsionadas por melhores negociações com fornecedores e uma maior participação nos produtos de marca própria e importados do mix, a margem Ebitda ajustada deteriorada entrou em território negativo devido à desalavancagem operacional”, aponta o Goldman. Os analistas esperam mais detalhes sobre as perspectivas
para a geração de caixa daqui para frente, dada a aceleração anual na queima de caixa vista
neste trimestre (para -R$ 34 milhões versus -R$ 2 milhões no 3T22, excluindo os descontos de recebíveis).

O Goldman tem recomendação neutra para Mobly, com preço-alvo de R$ 2,50 (queda de 35% frente o último fechamento), enquanto o Morgan tem recomendação equalweight (equivalente à neutra), com preço-alvo de R$ 2,25, queda de 42%.

Zamp (ZAMP3)

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A Zamp, administradora das redes de fast food Burger King e Popeyes, registrou um prejuízo líquido de R$ 38,5 milhões em seu balanço referente ao terceiro trimestre de 2023. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o número foi de R$ 34,8 milhões, houve uma elevação de 10,7%.

A companhia registrou crescimento de receita líquida de 4,3% (quase 1,0% acima da expectativa). As vendas, no critério das mesmas lojas (SSS) do BK ficaram em linha com a estimativa do Bradesco BBI, enquanto a SSS Popeyes caiu para 1,6%, de 8,6% no 2T23, à medida que a indústria em geral continua a enfrentar dificuldades, devido ao fraco cenário de consumo.

Por outro lado, os preços mais baixos das commodities levaram a uma expansão da margem bruta de 1,50 ponto percentual, para 65,6%, 0,70 p.p. acima das suas expectativas.

No entanto, o BBI ressalta que o lento crescimento da SSS significou uma menor diluição de despesas fixas, o que levou a uma erosão da margem Ebitda de aproximadamente 1,40 ponto, para 6,5%.

“A Zamp registrou outra rodada de resultados fracos, mas amplamente alinhados com a expectativa. A SSS próximo de zero na marca principal da empresa (BK), pelo segundo trimestre consecutivo, pressionou a lucratividade e os resultados financeiros da Zamp”, aponta o banco.

A equipe de gestão alterou a estratégia para reduzir despesas excessivas e reduzir a estrutura empresarial para acelerar a geração de caixa.

“No entanto, estamos céticos de que a estratégia de redução de custos produza margens mais elevadas, uma vez que a marca BK carece de alavancagem operacional, devido ao nível limitado de vendas”, ressalta o BBI.

Os analistas ainda lembram que, atualmente, a Zamp enfrenta uma disputa de acionistas, já que a Mubadala aumentou recentemente a sua participação para 30%, à frente da FP Partners. Como não existe mecanismo de controle de dispersão acionária (poison pill), a Mudabala deverá continuar a aumentar a sua participação, o que acrescenta incertezas para a estratégia de longo prazo da empresa, cita. Assim, por enquanto, mantém visão conservadora sobre a tese, até que se tenham evidências de melhoria consistente das operações e recuperação do potencial de crescimento.

Já o Itaú BBA apontou que a empresa reportou resultados do 3T23 que ficaram em linha com suas expectativas para a receita, mas, apesar de uma expansão significativa da margem bruta, foi abaixo das suas previsões nos níveis de Ebitda e lucro por ação e em despesas acima do esperado.

C&A (CEAB3)

A C&A vê suas ações em forte alta. A companhia  teve prejuízo no terceiro trimestre de 2023, de R$ 44,2 milhões, uma queda de 28% em relação aos R$ 61,4 milhões negativos no mesmo período do ano passado. A receita líquida teve um crescimento de 9,6% na comparação anual e fechou em R$ 1,542 bilhão.

Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da companhia foi de R$ 195,6 milhões, alta de 40% ante o mesmo período do ano anterior.

A receita líquida teve um crescimento de 9,6% na comparação anual e fechou em R$ 1,542 bilhão.

Assim, a margem Ebitda ajustada (que inclui recuperação de créditos fiscais, receitas financeiras de fornecedores e outras receitas operacionais líquidas) foi de 12,7%, um aumento de 2,8 pontos porcentuais (p.p.) em relação ao terceiro trimestre de 2022.

Para o Bradesco BBI, a varejista apresentou outro conjunto de resultados sólidos, que é em certa medida uma continuação da tendência de melhoria de resultados desde o 4T22. No acumulado de 2023, os papéis saltam cerca de 200%.

“Os resultados ficaram acima das expectativas no faturamento e na rentabilidade, com boa geração de caixa (a dívida líquida reduziu R$ 142 milhões no trimestre)”, avalia a casa.

Na visão do BBI, o bom progresso contínuo em projetos estratégicos (push-pull, preços dinâmicos), que têm entregado estruturalmente fundamentos mais fortes, são fundamentais no atual ambiente difícil.

O banco aponta que a C&A foi o único player de lojas de departamentos de vestuário que apresentou crescimento e expansão de margem no 3T23.

Além disso, o desempenho da C&A nas faixas de renda mais alta, território tradicional da Renner LREN3, pode indicar que ela está se tornando uma concorrente mais forte.

A Genial destaca que a performance da vertical de vestuário superou as expectativas, com aceleração do ritmo de crescimento e contínuos ganhos de rentabilidade provenientes de melhorias nos modelos de distribuição e precificação.

A XP também reforça que a rentabilidade foi o destaque do resultado, com a margem bruta apresentando um crescimento de 2,4 pontos percentuais (p.p.) ano a ano impulsionada pelo business de varejo (+2,6 p.p), como resultado dos ganhos advindos do push&pull, implementação da ferramenta de precificação dinâmica, enquanto a margem Ebitda ajustada teve um crescimento de 3,1 pontos na base anual devido a menores despesas com vendas, principalmente em marketing, embora parcialmente compensadas por maiores despesas gerais e administrativas (+19% ano a ano) com gastos mais elevados em pessoal, centros de distribuição e projetos de tecnologia.

“Na operação de serviços financeiros, as vendas cresceram 17% enquanto o C&A Pay compensou os resultados fracos conforme espero do Bradescard (-84% na base anual), com a companhia ‘despriorizando’ o produto, enquanto as provisões e nível de inadimplência continuam pressionados, levando a resultados ainda negativos, em cerca R$ 32 milhões”, avalia.

Os analistas do BBI ponderam que a alavancagem da dívida líquida (incluindo pagamento com cartão Bradescard) permanece um tanto alta em 2,6 vezes do Ebitda ajustado ex IFRS16 LTM, o que combinado com a ausência de lucro líquido considerável até 2025, de acordo com as estimativas, continua sendo o principal obstáculo para uma visão mais positiva da casa.

“No futuro, as principais questões a monitorar são (i) até que ponto ainda é possível melhorar esses projetos estruturais, o que é imperativo para o processo de desalavancagem em curso, (2) as tendências de rentabilidade da divisão de serviços financeiros da C&A, atualmente em processo de ramp-up (aumento de produção) e o seu (3) impacto potencial nas vendas a varejo quando a penetração estabilizar”, avalia o BBI.

Assim, os analistas seguiram com recomendação neutra para o ativo, ainda que elevando o preço-alvo para 2024 de R$ 7 para R$ 8 de forma a incorporar algumas das melhorias de margem do 3T23 em seu modelo. A XP também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 6, enquanto Genial tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 8,20.

Infracommerce (IFCM3)

A Infracommerce, empresa especializada em soluções de e-commerce, teve prejuízo ajustado de R$22,6 milhões no terceiro trimestre deste ano, uma diminuição anual de 41,3%.

Mas, mais do que a redução do prejuízo, a alta do Ebitda, que em termos ajustados totalizou R$ 65 milhões no 3T23, um crescimento de 164,4% em relação ao 3T22, animou o mercado.

“O Ebitda ficou acima da nossa projeção e do consenso”, apontou o Citi. Por outro lado, a receita líquida apresentou uma ligeira diminuição sequencial e ficou abaixo de suas estimativas, à medida que o crescimento B2B desacelerou para +10% ao ano (de +19% no 2T23).

“Por outro lado, as medidas para conter as despesas gerais e administrativas (o número de funcionários caiu 17% ano a ano) geraram ganhos de margem consideráveis ​​e a margem Ebitda situou-se em 22% (+11 p.p. frente o 3T22 e +4,7 p.p. na base trimestral), mais do que compensando a perda de receitas”, afirmam.

Com o capex reduzindo 55% ano a ano, para R$ 23 milhões, o Ebitda menos capex permanece em tendência de alta consistente. No entanto, as despesas financeiras continuam a se deteriorar, o que prejudica os resultados e impede que os ganhos operacionais se traduzam em geração de caixa (dívida líquida + lucros devidos apresentaram um aumento de R$ 3 milhões, para R$ 608 milhões).

O prejuízo líquido do 3T23 foi ligeiramente melhor que o prejuízo de R$ 28 milhões do 2T23, aponta ainda o Citi. O banco tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 3,50 para os ativos.

Anima (ANIM3)

A Ânima (ANIM3) registrou aumento de 168,2% no lucro líquido ajustado no terceiro trimestre de 2023 em relação a igual período do ano passado, saindo de R$ 12,9 milhões para R$ 34,6 milhões.

O Ebitda ajustado foi de R$ 308,2 milhões, crescimento anual de 9%. Isso levou a uma alta da margem Ebitda ajustada de 1,6 p.p. (pontos percentuais), para 32,8%.

O Itaú BBA apontou que os resultados do terceiro trimestre da Ânima foram positivos, tanto operacionalmente quanto financeiramente. A companhia foi capaz de mostrar uma performance sólida no segmento de ensino à distância, que mostrou uma forte expansão de ticket (preço) médio no trimestre, e na Inspirali (vertical de medicina).

Além disso, foi vista também uma boa expansão de rentabilidade bruta devido à diluição de custos com pessoal e aluguéis, principalmente.

“O Ebitda ajustado ficou 6% acima das nossas expectativas e mostrou um aumento de 1,5 ponto porcentual (pp) em bases anuais”, avalia.

Apesar de despesas com marketing e provisões para devedores duvidosos (PDD) terem aumentado, o BBA destacou uma boa diluição de despesas com pessoal no período. Isso levou a um lucro líquido ajustado melhor do que esperava.

“No entanto, o principal destaque foi a forte geração de caixa da empresa. O capital de giro apresentou melhora com a redução dos dias de recebíveis em 14 dias em base anual, também impactado pela normalização de contas a receber de períodos anteriores e pela cessão de direitos creditórios junto ao Pravaler. Excluindo estes efeitos, os dias de contas a receber teriam caído sete dias de qualquer forma”, aponta.

Assim, a melhora no capital de giro foi crucial para a boa geração de caixa nesse trimestre. Isso fez também com que a companhia apresentasse uma redução na alavancagem financeira de 3,9 vezes a dívida líquida sobre Ebitda nos últimos 12 meses (métrica utilizado para checar o nível de dívida comparado ao resultado operacional) para 3,4 vezes nesse trimestre.

O banco segue com recomendação de “compra” para ANIM3, com preço-alvo de R$ 8 ao final de 2024.

O BBI também reiterou recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 5,50 (upside de 75%) após o balanço, com principal destaque para o Ebitda ex IFRS.16.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.