Mineradores amargam prejuízo com Merge do Ethereum após fase de vacas gordas: “não acreditava que ia acontecer”

Ao InfoMoney, mineradores contam como está situação após criptomoeda mais rentável do mercado adotar sistema mais ecológico

Paulo Barros

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Dono de um pequeno mercado no Rio de Janeiro, o jovem Yuri Castro, 26, viu na mineração de criptomoedas uma oportunidade de faturar em meio à disparada de preços em 2017. Após um período de baixa, o negócio voltou a decolar em 2020, ano em que o Ethereum (ETH) valorizou 464%. “Era basicamente o negócio da China, uma rentabilidade muito alta para um gasto muito baixo”, conta o minerador ao InfoMoney.

No entanto, tudo mudou após o Ethereum realizar a atualização Merge (Fusão, em português), responsável por quase zerar o consumo e as emissões da rede de computadores responsáveis por validar os dados de transações. Isso porque a migração envolveu justamente acabar com a mineração, dando lugar a máquinas que, em vez de placas gráficas potentes, precisam ter pelo menos 32 ETH (US$ 42,2 mil) em um cofre digital.

O Ethereum era, até 15 de setembro deste ano, quando ocorreu a atualização, a principal cripto de mineração doméstica, pois seu sistema aceitava placas de vídeo como as usadas por computadores voltados para jogos – no caso do Bitcoin (BTC), é preciso utilizar máquinas especializadas chamadas ASICs.

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Assim como o Ethereum, ainda restam diversas moedas que seguem permitindo a mineração. No entanto, pelo valor muito mais baixo dessas criptos, a rentabilidade da mineração é também muito menor. A mudança no sistema de validação do ETH, portanto, acabou com um negócio que vinha se mostrando rentável no Brasil, mesmo sem que o país tenha os custos de energia mais baratos do mundo, tampouco acesso facilitado a painéis solares.

“No ponto alto, eu controlava mais de 100 GHz de mineração de Ethereum, hoje, controlo 48 GHz”, conta Castro, que, após o boom de 2020, passou também a prestar consultoria a pessoas interessadas no negócio da mineração, recomendando equipamentos, explicando como montar e realizando monitoramento remoto.

Uma de suas clientes é a analista financeira Camila Leira, 32, também do Rio. “Quando entrei, em novembro do ano passado, o rendimento era por volta de R$ 3 mil por mês”, conta. Nesse ritmo, ela levaria pouco mais de um ano para recuperar os cerca de R$ 42 mil investidos no negócio – na prática, um conjunto de placas de vídeo sobre uma estante em um quarto fechado com ar condicionado o dia todo, alimentados por energia solar.

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No entanto, com o fim da mineração do ETH, o rendimento despencou para apenas R$ 200 mensais, o que acabou esticando o prazo de retorno do investimento para mais de uma década. “Hoje, tenho dois mil dólares [em criptos, cerca de R$ 10,7 mil] na carteira. Estamos esperando para ver o que acontece, como o mercado vai reagir. É um projeto para 10 ou 15 anos”.

Por usar energia solar, a situação de Camila nem é das piores. Isso porque, ao contabilizar o custo de energia elétrica, o rendimento atual da mineração de qualquer outro ativo digital fica negativo, deixando para trás um prejuízo de até R$ 400, por máquina, todos os meses.

Segundo Castro, pelo custo de eletricidade, muitas pessoas estão desistindo do negócio e vendendo suas placas no mercado mesmo após o preço desses produtos despencar com o excesso de oferta. “Ele acaba vendendo essas placas no prejuízo, pelo pânico do mercado”.

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O problema se agrava levando em conta que nem todos se prepararam para a guinada nesse mercado. Ainda que o Merge do Ethereum fosse conhecido há anos, muitos foram pegos de surpresa. “Eu mesmo antes não acreditava que ia acontecer, achava que poderia ser atrasada mais uma vez, como vinha acontecendo”.

Alguns mineradores ficaram no escuro até no momento em que a Fusão aconteceu. “Recebemos ligações de pessoas que não são nossos clientes perguntando o que havia acontecido, por que as máquinas estavam desligadas, por que haviam parado de minerar de ontem para hoje”, conta Castro.

“Eles não vinham acompanhando o mercado, talvez tenham sido levados pela emoção do ganho rápido, sem considerar que é um investimento de alto risco, que a mineração também se torna volátil apesar do capital investido em um equipamento”.

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Mesmo que alguns mantenham a esperança no futuro, por ora minerando criptos como Ravencoin (RVN), Ethereum Classic (ETC) ou até a novata Ethereum PoW (ETHW), a situação é de total incerteza. “No momento, podemos dizer que [a mineração] acabou para quem tem custo de energia”.

Paulo Barros

Editor de Investimentos