Mesmo com Fed sinalizando corte dos estímulos, bolsas avançaram: qual a interpretação do mercado?

Tom mais hawkish, normalmente, vem acompanhando de queda de índices, o que não aconteceu dessa vez

Vitor Azevedo

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Nessa quarta-feira (15), o Federal Reserve, Banco Central americano, sinalizou que acelerará a retirada de estímulos econômicos nos Estados Unidos. Apesar disso, os principais índices mundo afora registraram fortes altas após o anúncio. O S&P 500, índice das maiores empresas do país, por exemplo, fechou o pregão de ontem com alta de 1,63%; o Ibovespa também fechou em alta, de 0,63%, que se estende nesta sessão.

As falas inéditas de que 2022 pode contar com três altas do juros nos EUA, e não duas como divulgado anteriormente, e de que o processo de recompra de títulos públicos no país deve acabar em março não desanimaram os investidores. É comum quando um banco central traz um tom mais hawkish, sinalizando uma política monetária mais austera, com maior taxa de juros e menor demanda, os ativos de risco recuarem.

“Tudo levaria a crer que o mercado teria uma reação muito adversa. Não é muito racional e pode ser algo pontual. Não significa que daqui a duas semanas a interpretação vai ser tão boa assim. Vamos ter alta de juros na maior economia do mundo, obviamente isso pressiona outros mercados pelo diferencial desses juros”, comenta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

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Historicamente, sinalizações de altas dos juros, bem como as decisões, tendem a derrubar as bolsas. Os títulos públicos americanos são vistos, mundialmente, como ativos livres de risco e quando há um aumento dos yields (prêmios) pagos por eles, investidores tendem a aumentar suas posições nesses ativos e a retirarem capital de companhias e outros títulos mais voláteis.

Além disso, quando o acesso ao crédito é dificultado pela alta dos juros, companhias, normalmente, se tornam menos lucrativas. Como já mencionado, há uma queda da demanda e as empresas também tendem a gastar mais com suas dívidas, que são muito atreladas às taxas de juros dos países.

De acordo com a CM Capital, pode ter pesado na “surpresa positiva” o fato de a formação do Fed para o próximo ano ser vista como mais conservadora, o que gerou expectativas de arrochos ainda maiores que os sinalizados.

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Assim, uma interpretação possível é também de que o discurso do presidente do Federal Reserve foi menos agressivo do que o esperado pelo mercado. “O mercado leu o discurso do Powell como um ‘bate e assopra’. Apesar do tom hawkish, o presidente do Fed garantiu que será cauteloso, esperando a consolidação da economia para iniciar o tapering, e que caso ele interprete que uma movimentação mais dura foi errada não terá problema em voltar atrás”, explicou Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset.

Para o gestor, a fala de que o Fed não irá elevar a taxa de juros antes de finalizar o tapering também foi positiva. Apesar de o documento apontar que a instituição irá acelerar o ritmo de corte de estímulos com recompra de títulos por mês (de US$ 15 bilhões para US$ 30 bilhões e assim sucessivamente), finalizando o processo em março, há um alívio, uma vez que parte do mercado acreditava em uma alta da taxa de juros já em fevereiro.

“Outro ponto importante de destacar é que a gente tem de aguardar. A expectativa para a reunião era muito grande e o mercado fez sua primeira leitura. Agora, os investidores devem esperar os próximos indicadores de inflação e emprego para ver se a movimentação anunciada pelo Fed será suficiente”, pontua Leite.

O Morgan Stanley, em relatório, foi no mesmo caminho. “A ênfase permanece na dependência de dados macroeconômicos. Se a inflação permanecer elevada, com PCE encerrando 2022 em 2,7%, então está claro que a maioria dos diretores será a favor três aumentos nas taxas de 25 pontos-base”, comentaram os analistas do banco.

Leia mais: Retirada de estímulos e alta de juros nos EUA podem afetar fluxo de capital, mas evitam problemas mais graves

Hoje, contudo, após dados americanos mostrarem, mais uma vez, a economia avançando (apesar de mostrarem também uma desaceleração), os índices ganharam tendência de queda.

A visão do Morgan Stanley, nesse ponto, é um pouco otimista. “Nossa previsão de decolagem no terceiro trimestre de 2022 está ligada de maneira importante a nossa previsão de que o núcleo da inflação começará a esfriar a partir de fevereiro do próximo ano, fornecendo ao Fed mais espaço para respirar após o fim da redução”, escreveram.

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