Mercado financeiro: preparem seus corações e mentes

Neste momento, creio que o mercado financeiro e de capital inicia um período de relevante ajuste para baixo nos preços

Francisco Petros

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SÃO PAULO – Em meados de 1997 eu tive o privilégio de encontrar em Londres o professor Ralf Dahrendorf (1929-2009), então diretor da London School of Economics. O Professor Dahrendorf foi daqueles intelectuais alemães que passou pela história no século XX e captou os fatos e soube analisá-los de forma holística, com visões substantivas a respeito da política e da economia. Naquela ocasião, conversei com ele sobre as crises sistêmicas que estavam permeando o capitalismo financeiro, dentre as quais a crise asiática. Era um assunto que o fascinava, mesmo que não fosse sua especialidade – ele dedicou-se muito mais à sociologia política na sua carreira intelectual.

Além disso, naquele tempo já se questionava se havia uma “bolha especulativa” no mercado de empresas tecnológicas (as denominadas dotcoms) dos EUA, representadas pelo Índice Nasdaq, bolha essa estourada em 1999. Lembro-me de uma frase que o professor soltou em meio a agradável conversa: “bolhas especulativas são de fácil detecção, mas é muito difícil saber que tamanho ela terá. Portanto, é quase impossível prever quando ela estourará”.

Neste momento, creio que o mercado financeiro e de capital, neste final do ano de 2015, inicia um período que combinará três “grandes dúvidas” dos agentes: (i) haverá crescimento mundial num contexto de evidente desaceleração da economia chinesa?; (ii) o atual valor dos ativos nos países centrais do capitalismo, EUA à frente, se justifica face às expectativas de crescimento? (iii) os países emergentes persistirão com crescimento econômico sustentável no longo prazo bem acima dos países desenvolvidos?

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Estas três inquietações dos agentes já estão presentes no mercado, mas ainda não de forma completa. A volatilidade aumentou por conta destas questões – basta analisar os índices de Volatilidade da Bolsa de Chicago, o VIX e o Índice de Volatilidade do Nasdaq, o VXN. Todavia, creio que ainda estamos num período inicial de “teste” a respeito dos fundamentos de longo prazo do mercado.

Sejam quais forem as “respostas” às questões que menciono acima, os principais mercados mundiais devem fazer um ajuste para baixo nos próximos dois ou três meses. A meu ver tal ajuste não será pequeno, pois na minha opinião os valuations dos ativos de renda variável (ações norte-americanas, notadamente) e de renda fixa (especialmente os ativos dos emergentes) estão muito elevados. O que quero arriscar dizer é que a “bolha” que existe no mercado será estourada. Não será um processo tão grave quanto a crise de 2008, mas para o Brasil os efeitos serão extremamente relevantes, dada a fragilidade dos nossos fundamentos econômicos e, é claro, políticos.

Também deve ser observado um outro aspecto deste ajuste: há forte fluxo negativo, fruto de resgates de recursos de investidores em fundos, seja nos principais mercados de ações, seja nos mercados emergentes. Aqui importa salientar que resgates volumosos como os atuais acentuam os “movimentos naturais” de ajuste de preços dos ativos, sobretudo quando há enorme quantidade de pessoas físicas que investiram em ativos nos últimos anos. Este tipo de investidor é mais nervoso o que contribui para acentuar o incremento “natural” de volatilidade por conta dos riscos.

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Em meio a tudo isso temos a mudança da política monetária do Federal Reserve, o banco central dos EUA. As decisões daquela autoridade são no sentido de um contínuo ajuste da taxa de juros básica nos próximos anos, mas de forma suave. Ou seja, a “mão do fed não será pesada”, mesmo porque não há enormes riscos de a inflação subir, mas há riscos relevantes para a atividade econômica. Esse sentido do ajuste da política monetária americana contribuirá para mudanças relevantes na composição dos portfólios de ativos de risco (serão reduzidos) e sem risco (serão aumentados) dos investidores.

O Brasil há de sofrer muito mais com os efeitos deste processo que sumariamente descrevi acima. Por aqui, formou-se um consenso político de que não deve haver consenso mínimo para que o país vá à frente. A corrupção generalizada no meio político paralisou as decisões em todas as esferas do Poder Estatal e o governo está enfraquecido pelos seus erros passados e pelo necessário ajuste presente. Neste contexto, não resta dúvida que seremos atingidos com mais vigor pelo que, acredito ser, um ajuste substantivo nos preços dos ativos negociados nos mercados financeiros e de capital.

Infelizmente, estamos com a autoestima baixa. Agora nos preparemos para uma baixa do mercado que creio haverá de ocorrer, mesmo que esta previsão careça de reparos sobre a sua razoabilidade, como me ensinou o Prof. Dahrendorf, há muitos anos.