Lucros das empresas de saúde da Bolsa devem seguir pressionados no quarto trimestre de 2022, apontam analistas

Setor que passa por forte movimento de consolidação enfrentou trimestre atípico; Credit prevê recuperação lenta em 2023

Mitchel Diniz

Publicidade

A Covid-19 não foi um problema para as empresas do setor de saúde no quarto trimestre de 2022, como ocorreu um ano antes. Mas o período foi marcado por uma sazonalizade atípica que promete se refletir nos resultados das empresas. Com a Copa do Mundo sendo realizada no final do ano, foram menos dias úteis, sobretudo para hospitais e centros de diagnósticos. As operadoras de plano de saúde, por sua vez, continuam com dificuldades para reduzir suas taxas de sinistralidade.

O Itaú BBA prevê melhora na rentabilidade dos planos de saúde, mas com uma frequência ainda bastante alta. “Dessa forma, avaliamos que a sinistralidade deve diminuir em uma base trimestral, mas a alta frequência ainda deve se refletir nos resultados do trimestre”, escreveram os analistas Vinicius Figueiredo, Lucca Marquezini e Felipe Amancio.

De acordo com eles, a alta frequência pode resultar em taxas de ocupação um pouco acima da média histórica em hospitais e diagnósticos. Mas não o suficiente para compensar a dificuldade em diluir custos fixos, o que tende a aumentar pressão sobre a rentabilidade no trimestre.

Continua depois da publicidade

O fluxo de recebíveis das empresas e a desalavancagem financeira, em um momento de taxa de juros elevadas, também vão estar no radar.

O Credit Suisse avalia que o ano de 2022 foi um período difícil para o setor de saúde no Brasil. As empresas ainda dependem de ajustes de ticket para normalizar a rentabilidade, em um cenário macroeconômico restrito.

“Esperamos que o 4T22 ainda apresente ajustes de preço insuficientes para pagadores e provedores”, escreveram os analistas Mauricio Cepeda e Pedro Caravina.

Continua depois da publicidade

Leia mais: 

Eles lembram que o período é marcado pela sazonalidade e que quartos trimestres costumam ser melhor para pagadores do que para provedores.

“As comparações anuais também são afetadas pela influência da Covid em 2021 – positiva para provedores, negativa para pagadores”, destacam.

Continua depois da publicidade

Para 2023, a equipe de análise do Credit espera que a recuperação do setor seja lenta. O ano promete ser difícil para teses de crescimento, como Hapvida (HAPV3), Rede D’Or (RDOR3) e Dasa (DASA3), mas pode favorecer casos mais estáveis, como Hypera (HYPE3), Fleury (FLRY3) e Odontoprev (ODPV3).

Leia mais:

O Safra vê desafios para o setor no curto prazo, citando o impacto da desaceleração econômica na geração líquida de empregos, o que também reduz as adições nos planos de saúde.

Continua depois da publicidade

“No entanto, os preços atuais das ações incorporam amplamente essas dificuldades em nossa opinião”, escreveram os analistas.

Os analistas Caio Moscardini e Guilherme Gripp, do Santander, acreditam que segmentos de oncologia, planos odontológicos e farmacêuticos devem apresentar resultados melhores do que planos de saúde, hospitais e diagnósticos.

Segundo eles, os pagadores de assistência médica enfrentam um índice de perdas persistentemente alto.

Continua depois da publicidade

“Nossas verificações de canal indicaram um índice de sinistralidade médica persistentemente alto no 4T22, ainda impulsionado por maior frequência e pressões inflacionárias”, escreveram, em relatório. Isso, de acordo com os analistas, parece ter levado a um aumento da utilização da capacidade dos hospitais.

“Em resposta a pressões de custo mais altos, em nossa opinião, os pagadores podem ter adiado os pagamentos, afetando negativamente as contas a receber em hospitais, diagnósticos e provedores de oncologia”.

No segmento hospitalar, ainda segundo os analistas do Santander, o impacto negativo da Copa do Mundo no calendário do quarto trimestre possivelmente foi compensado por uma semana cheia de trabalho entre o Natal e o Réveillon.

“Com isso, esperamos que as taxas de ocupação e margens sigam a sazonalidade histórica, o que implica em queda sequencial”, afirmam.

Em relação a preços, o Santander espera que a tendência positiva, iniciada durante o 3T22, continue durante o 4T22.

“No futuro, no entanto, grandes aumentos de preços podem ser difíceis de implementar, uma vez que os pagadores podem continuar enfrentando índices de sinistralidade médica acima dos níveis históricos”.

Hapvida

A companhia divulgará seus resultados do quarto trimestre nesta terça-feira (28), após o fechamento da Bolsa. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 155,67 milhões e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 627,7 milhões.

Nas previsões do Itaú BBA, a Hapvida deve continuar apresentando um forte ritmo de crescimento líquido orgânico, com crescimento gradual do ticket médio, em linha com o aumento de preços. Apesar da sazonalidade mais fraca, o BBA espera que a frequência elevada, acima do normal, reduza a sinistralidade em 140 pontos-base na comparação com o terceiro trimestre.

O BBA prevê lucro líquido de R$ 118 milhões e receita de R$ 6,541 bilhões para a Hapvida no trimestre.

O Santander estima receita de R$ 6.506 milhões, crescimento de 11% em bases anuais. A casa também acredita que as adições líquidas podem chegar a 108 mil novos membros. Os preços dos planos de saúde devem continuar aumentando após recentes ajustes, na ordem de 5% na comparação anual e de 2% em relação ao terceiro trimestre.

A casa prevê ainda margem Ebitda ajustada de 9,5%, o que representa um aumento de 150 pontos-base na comparação trimestral e uma queda de 180 pontos em bases anuais.

“Em nossa opinião, a Hapvida pode continuar a enfrentar pressões na margem Ebitda, com um maior índice de sinistralidade médica, maiores despesas gerais e administrativas”, escreveram os analistas.

O Santander acredita que a sinistralidade da Hapvida tenha chegado a 72% no quarto trimestre, acima da média histórica. “No entanto, ainda esperamos que o índice de sinistralidade médica diminua em uma base trimestral”.

Sobre as despesas gerais e administrativas, o Santander vê tendência de diluição no quarto trimestre. A casa observa que o período foi marcado por despesas não recorrentes, relacionadas ao efeito retroativo de renegociações salariais ocorridas no trimestre anterior.

Olhando para frente, o Santander espera uma maior diluição das despesas, com as sinergias da fusão com a NotreDame Intermédica. Por fim, os analistas da casa calculam que a Hapvida deve apresentar lucro líquido ajustado de R$ 197 milhões no período.

O Credit Suisse prevê lucro líquido ajustado de R$ 238 milhões para companhia e acredita que a linha final do balanço deve continuar impactada pelas despesas financeiras. As frequências, maiores que o normal, devem reduzir o efeito positivo da sazonalidade na sinistralidade.

O JP Morgan, por sua vez, prevê um lucro líquido ajustado menor, de R$ 68 milhões.

Rede D’Or

A empresa divulgará seus resultados em 27 de março, após o fechamento da Bolsa. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 267,69 milhões e Ebitda de R$ 1,381 bilhão.

O Itaú BBA espera que  taxa de ocupação da rede de hospitais atinja 76,4%, ficando ligeiramente melhor que média histórica. O quarto trimestre também deve apresentar um aumento sequencial de 2% no ticket médio, em comparação com o terceiro tri, reflexo de um efeito residual de aumento de preços realizado no período.

A sazonalidade fraca do trimestre deve levar a uma queda de 80 pontos-base na margem Ebitda da companhia. Do lado do seguro saúde, da recém-adquirida SulAmérica, o BBA acredita que as frequências ainda alta serão um empecilho para a melhoria da sinistralidade – prevendo queda de apenas 200 pontos-base no índice.

O BBA prevê lucro líquido de R$ 246 milhões para a Rede D’Or no quarto trimestre, uma queda de 39,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. A receita líquida deve ficar em R$ 6,108 bilhões, com crescimento anual de 18,9%. Para o Ebitda, a previsão é de alta de 16,5%, a R$ 1,469 bilhão.

O Santander prevê receita líquida de R$ 5,743 bilhões, alta de 12% na comparação anual e queda de 5% em relação ao terceiro trimestre.

Os analistas acreditam que um eventual impacto negativo da Copa do Mundo tenha sido compensado por um calendário mais favorável, com uma semana cheia entre o Natal e o Ano Novo.

“Como resultado, esperamos que a sazonalidade da taxa de ocupação persista, indo a 76,7%”, escreveu a equipe de análise.

O Santander também afirma não ver nenhuma adição material em termos de leitos hospitalares. Na verdade o banco enxerga a Rede D’Or administrando de maneira ativa o volume de leitos em operação por conta da sazonabilidade mais fraca do quarto trimestre – o que também não implica em uma redução.

Os analistas também lembram da companhia ter mencionado que somente uma pequena parte dos contratos – equivalente a 10% das receitas – tiveram reajustes de preço no quarto trimestre. E acreditam que o período foi marcado por um número menor de cirurgias complexas no mix, o que tende a deixar a conta do paciente mais baixa.

“Mesmo assim, esperamos que a média da receita bruta por diária de paciente tenha aumentado em 3,3% na comparação anual, para R$ 9,582, e tenha se mantido estável na comparação trimestral”.

Por fim, o Santander acredita que a linha final do balanço deve continuar pressionada por despesas com juros altos. O banco prevê lucro líquido ajustado de R$ 246 milhões, uma queda de 42% na comparação anual.

O Credit Suisse espera que a empresa tenha resultados positivamente impactados por ajuste de preços, mas ofuscado por uma piora no mix de procedimentos e menor ocupação sazonal. “A Covid em 2021 criou uma difícil base de comparação”, escreveram os analistas.

Segundo eles, a inflação deve continuar comprimindo as margens da Rede D’Or, dada a uma evolução insuficiente no valor dos tickets.

Fleury (FLRY3)

A rede de laboratórios e centros de diagnósticos divulgará resultados no dia 16 de março. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 33,13 milhões. O Ebitda previsto é de R$ 254,85 milhões e a receita, de R$ 1,156 bilhão.

“Esperamos resultados ligeiramente negativos, com um crescimento orgânico tímido e redução na alavancagem operacional, típica do quarto trimestre. O crescimento da unidade de negócios de novos serviços deve continuar impactando as margens”, diz relatório do Credit Suisse.

O Itaú BBA também espera crescimento orgânico de um dígito baixo, por um lado impulsionado pelas receitas de unidade de atendimento, de outro afetado pelos negócios B2B. Segundo a casa, as margens devem sofrer no trimestre por conta da desalavancagem operacional.

Para o Santander, as receitas e margens do Fleury tendem a ser afetadas pelo período da Copa do Mundo, que reduziu os dias de de trabalho durante os meses de novembro e dezembro. Por isso, o crescimento da receita deve desacelerar para a casa de um dígito. Contrações de margem também são esperadas por conta da desalavancagem operacional e pressão de custos de materiais.

Qualicorp (QUAL3)

A companhia divulgará resultados no dia 28 de março. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido reportado de R$ 44,48 milhões. O Ebtida previsto é de R$ 212,57 milhões e a receita, de R$ 489,01 milhões.

“A empresa deve reportar outro conjunto de perdas relacionadas à saúde no trimestre”, diz o relatório do Itau BBA. A casa estima que a Qualicorp tenha perdido 44 mil beneficiários no período, diante de um cenário difícil para adições líquidas e de altas taxas de cancelamento.

O BBA acredita que a perda de receita pode ser de 9%, chegando a R$ 475 milhões, abaixo do consenso Refinitiv. A previsão também é de queda de 4,1 ponto percentual na margem Ebtida, para 45,9%. O lucro líquido, por sua vez, deve sofrer uma queda de 37% , para R$ 32 milhões.

O Credit Suisse também espera outro trimestre negativo. A casa acredita em desaceleração tanto das adições líquidas quanto das taxas de cancelamento. Contudo, essa combinação deve resultar em perda líquida de “vidas'”.

As receitas devem recuar, quanto os custos podem permanecer estáveis em bases nominais, ainda assim pressionando as margens,

“A empresa está mudando sua estratégia para maior rentabilidade, negociando crescimento para se tornar uma tese de conversão de caixa”, explicam os analistas do Credit.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados