Lucros da Tencent superam estimativas, e acalmam receios de crise na China

(Bloomberg) — Os lucros da Tencent superaram as estimativas do mercado depois que a publicidade em vídeo no WeChat impulsionou o crescimento, um sinal de que os consumidores chineses estão recorrendo às mídias sociais e aos jogos, apesar da recessão nacional.

A operadora do WeChat relatou crescimento em todas as divisões: de jogos e publicidade até fintech, gerando um ganho de 10% na receita, para 154,6 bilhões de yuans (US$ 21,4 bilhões) no trimestre de setembro. O lucro líquido caiu 9% menos do que o esperado, refletindo o aumento dos gastos com conteúdo e um grande ganho único no trimestre do ano anterior, quando a Tencent divulgou que reduziria sua participação na Sea Ltd. uma representação da Tencent como seu maior acionista, subiu mais de 6% na Europa.

Os resultados podem ajudar a atenuar as preocupações de que a China, o maior mercado da Internet do mundo, tenha perdido força após anos de turbulência regulamentar e econômica. Os dados sugerem que os gastos com custos mais baixos e com lazer permanecem resilientes, apesar das retrações em segmentos que vão do luxo às viagens ao exterior. Os investidores temem que a economia chinesa possa entrar numa espiral deflacionária, um receio reforçado pelos gastos abaixo do esperado em plataformas de comércio eletrônico durante o festival de compras do Dia dos Solteiros deste ano.

A publicidade online, normalmente associada ao clima econômico, foi a divisão da Tencent que mais cresceu, com um ganho de 20% nas receitas. Isso foi impulsionado em parte pelo crescente envolvimento dos usuários nas contas de vídeo do WeChat, onde o total de visualizações aumentou 50% durante o trimestre. Isso é uma boa notícia para a Tencent, que há anos tenta se defender de uma acusação da ByteDance Ltd., proprietária da TikTok, sobre a mídia online.

Com isso, as margens brutas da empresa aproximaram-se dos 50%, níveis não vistos desde 2018. O seu lucro líquido ajustado, que exclui os excepcionais, aumentou 34%. Os executivos continuarão a procurar formas de devolver dinheiro aos acionistas, apesar de já terem distribuído cerca de US$ 24 bilhões aos investidores este ano. A empresa, por enquanto, prefere recompras em vez de dividendos ou vendas de ativos, uma vez que as avaliações são historicamente baixas, disse o presidente Martin Lau a analistas em uma teleconferência.

O “nível atual de margem bruta é sustentável e acreditamos que há espaço para crescer ainda mais”, disse o diretor de estratégia, James Mitchell.

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De um modo mais geral, porém, o consumo chinês permanece fraco devido a uma infinidade de ventos contrários, desde um mercado imobiliário em ruínas até ao aumento do desemprego entre os mais jovens. A pressão deflacionista piorou em Outubro, alimentando as expectativas de que a segunda maior economia do mundo necessita de mais estímulos. E o próprio ritmo de expansão da Tencent permanece bem longe do pico pré-Covid. Parte do crescimento do trimestre veio do exterior, depois que as receitas de jogos internacionais aumentaram 16%.

Resultados das chinesas

Na quinta-feira, Alibaba (BABA34) e NetErase vão divulgar seus resultados em outro conjunto de sinais sobre o desempenho do comércio eletrônico e dos jogos durante a reabertura pós-pandemia. O varejista online JD.com relatou na quarta-feira resultados que superaram as expectativas.

“A melhoria substancial ano após ano na margem bruta aponta para ganhos estruturais de lucro impulsionados por uma mudança no mix de receitas”, disse Vey-Sern Ling, analista do Union Bancaire Privee. Mas “a resposta positiva das ações também sublinha o quão baixas foram as expectativas, um fator a levar em consideração na divulgação dos resultados de empresas de tecnologia da China nos próximos dias”.

A Tencent espera que seus principais negócios, desde jogos até pagamentos, sejam menos vulneráveis ​​à crise, à medida que os consumidores continuam gastando em itens de baixo custo. Espera-se que a monetização por sucessos de verão, incluindo Valorant e Lost Ark, acelere durante o restante deste ano, enquanto a maior editora de jogos do mundo expande Honor of Kings – seu produto mais lucrativo – para mais gêneros.

Há sinais de que a Tencent está rechaçando a incursão de seu principal rival nas redes sociais nos jogos. A ByteDance está considerando a venda do Moonton, um estúdio de alto nível que comprou por US$ 4 bilhões há poucos anos, no que seria a maior retirada da operadora TikTok do espaço.

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A longo prazo, a Tencent junta-se a grande parte do setor tecnológico chinês na exploração do potencial da IA ​​generativa. Seu grande modelo interno de linguagem, Hunyuan, está agora integrado a mais de 180 serviços, incluindo pesquisa e marketing on-line. Juntamente com o “arquiinimigo” Alibaba, a empresa sediada em Shenzhen também fez múltiplas apostas em empresas iniciantes de IA domésticas na chamada “guerra de cem modelos”, ajudando a criar novos unicórnios como Baichuan. Na quarta-feira, a empresa se comprometeu a continuar investindo.

Lau disse que a Tencent não ficará sem os chips de última geração essenciais para o treinamento de IA, que Washington acaba de proibir de vender na China. A empresa acumulou um dos maiores estoques de chips Nvidia Corp. H800 do país, o suficiente para treinar pelo menos algumas gerações de Hunyuan, disse ele.

Por enquanto, o WeChat continua sendo um motor de crescimento mais confiável do que qualquer incursão de IA.

O super aplicativo da China é creditado por ter projetado uma reviravolta nas vendas de anúncios, depois que seu curto feed de vídeo atraiu usuários e profissionais de marketing de volta do Douyin da ByteDance, disse Mitchell.

Mas o gêmeo chinês do TikTok, entretanto, está invadindo rapidamente o território do WeChat, adicionando serviços do mundo real, como comércio eletrônico e entrega de comida.

As ações da Tencent despencaram cerca de 25% desde a máxima de janeiro, ficando atrás do Hang Seng Tech Index, apesar das recompras e dividendos deste ano. O maior acionista da Tencent, Prosus, continua a ser uma vantagem, uma vez que o braço de investimento holandês da Naspers Ltd. tem vindo gradualmente a desfazer-se da sua participação na Tencent para financiar as suas próprias recompras.

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