JPMorgan: desta vez é diferente – ações do Brasil devem se beneficiar de corte do Fed

Banco revisou períodos de afrouxamento monetário do Fed desde 1998 para identificar o desempenho histórico dos mercados

Felipe Moreira

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Divulgação / Pixabay
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Com a proximidade da retomada do ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, esperada na reunião do Federal Reserve (Fed) em 17 de setembro, o JPMorgan reiterou a recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para ativos brasileiros e alguns mercados da América Latina, destacando que grande parte dos movimentos na região é influenciada por eventos globais.

O banco revisitou períodos de afrouxamento monetário do Fed desde 1998 para identificar o desempenho histórico dos mercados. “As conclusões não são totalmente robustas, pois normalmente os cortes do Fed ocorreram durante crises, provocando fuga para ativos considerados mais seguros, valorização do dólar e depreciação das moedas da América Latina, com consequente aumento da inflação e das taxas de juros locais”, explicam analistas.

Ainda assim, a equipe do JPMorgan acredita que o ciclo atual é diferente, pois ocorre em um contexto de “pouso suave” (desaceleração da economia sem grandes percalços) nos EUA e dólar mais fraco, favorecendo cortes de juros na América Latina e potencializando retornos positivos no mercado de ações.

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O banco também destaca a aproximação do ciclo de afrouxamento no Brasil, prevista para dezembro, que pode ter impacto relevante sobre o Ibovespa.

Setores e ações

Olhando para os setores, a instituição mantém underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) em commodities e overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) em setores cíclicos domésticos, considerando que, apesar da desaceleração do crescimento, a inflação está caindo, favorecendo a renda disponível, enquanto países da região já cortam taxas, com o Brasil prestes a aderir. Os setores com maior overweight são Imobiliário, Financeiro, Consumo Discricionário e Utilities.

No nível de ações, o JPMorgan removeu o Banco do Brasil (BBAS3) da carteira e adicionou o Nubank (BDR: ROXO34). A instituição entende que o BB não deve se recuperar rapidamente devido à deterioração recente da qualidade de ativos do agronegócio, que impacta lucros, rentabilidade e dividendos. O Nubank, por outro lado, tem mais potencial de valorização, com a operação no México atingindo o ponto de equilíbrio ainda neste ano.

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No Brasil, também foi removida a Rumo (RAIL3), devido a perspectivas operacionais fracas e ausência de gatilhos no curto prazo.

Contexto do afrouxamento do Fed

Nos últimos 30 anos, a maior parte dos ciclos de afrouxamento ocorreu em ambientes de crise, como a do fundo LTCM, crise russa, 11 de setembro, bolha das pontocom, Crise Financeira Global (2008) e Covid-19. Esses eventos normalmente geraram fuga para ativos mais seguros, valorizando o dólar. Além disso, países da América Latina enfrentavam turbulências significativas durante os períodos de afrouxamento, levando alguns a elevar taxas para conter a depreciação de suas moedas.

Desempenho no primeiro corte do Fed

O JPMorgan analisou se o corte atual representa o primeiro de um ciclo ou a continuidade do ciclo iniciado em setembro de 2024. A equipe identificou que, historicamente, os mercados apresentaram bom desempenho no mês anterior ao primeiro corte, no mês do corte e imediatamente após. Nessa janela, mercados emergentes superaram os desenvolvidos em 12,4%; a Ásia teve desempenho superior à LatAm e, dentro da região, o Brasil se destacou com alta média de 16,9%.

Desempenho durante o ciclo completo de afrouxamento

Geralmente negativo, pois abrange períodos de crise e não a recuperação posterior, quando o Fed entra em pausa. O afrouxamento durante a Crise Financeira Global terminou em dezembro de 2008, três meses após o colapso do Lehman. O ciclo guerra comercial / Covid terminou em março de 2020, no início da pandemia. A grande exceção é o ciclo mais recente, que apresentou desempenho amplamente positivo em diversos ativos, tendência que o JPMorgan acredita que se manterá.