Japão sinalizou para ciclo de aperto ao elevar rendimento de títulos, dizem analistas

Iene disparou perante o dólar e rendimentos dos bônus japoneses avançaram com decisão do BoJ

Mitchel Diniz

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Apesar de não ter elevado as taxas de juros de forma direta, o Banco Central do Japão (BoJ, na sigla em inglês) fez, nesta terça-feira (20), um movimento entendido como início de um aperto monetário. A autoridade ampliou o teto da curva de juros com a qual trabalha desde 2016.

Com a mudança, os rendimentos do bônus do governo japonês (JGB) com prazo de 10 anos podem chegar a 0,5%, o dobro do teto anterior, que era de 0,25%.

Na prática, foi uma decisão considerada apenas técnica, pois a taxa básica de juros do país permanece negativa em 0,1% ao ano. Porém, ao dobrar o teto para juros dos títulos, o BoJ poderá deixar de ser, em breve, o único banco central de relevância que não endureceu sua política monetária.

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Em coletiva de imprensa, o presidente do BoJ, Haruhiko Kuroda, reafirmou que a decisão não foi uma elevação de juros e disse que ampliará o plano de compra de títulos.

Ele explicou que a ampliação da banda tem objetivo obter uma formação mais suave de toda curva de juros.

“O movimento de hoje pode criar maior volatilidade em mercados financeiros e de capitais no exterior. Os investidores japoneses podem continuar a vender títulos estrangeiros com cobertura cambial e comprar mais ativos do próprio país”, escreveram os analistas do JP Morgan.

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“Vemos essa decisão como uma grande surpresa, pois esperávamos que qualquer ampliação da banda fosse feita sob nova  liderança do BoJ a partir da primavera do próximo ano”, explicou o Goldman Sachs.

Os rendimentos dos bônus japoneses saltaram mais de 15 pontos-base e o dólar despencou perante o iene após a decisão. O JP Morgan acredita que a moeda japonesa pode apreciar  ainda mais nos próximos dias ou semanas.

“Mas continuamos céticos sobre uma apreciação significativa por conta desse movimento de hoje do BoJ”, ressalvam os analistas.

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Para a Levante Ideia de Investimentos, a reação do mercado ao que pode ter sido apenas uma decisão técnica do Banco do Japão confirma que os investidores ao redor do mundo estão na expectativa de grandes mudanças continuando em 2023.

Os analistas da casa explicam que o sistema de controle na curva de juros no Japão foi implementado para permitir que a inflação subisse.

“A declinante economia japonesa sofria com uma deflação prolongada apesar dos juros negativos. Ao estabelecer um sistema de controles, o BoJ facilitaria a formação de uma curva de juros e a ‘normalização’ das condições financeiras.”

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Para a equipe da Levante, o Japão está em uma “encruzilhada econômica”. O país é bastante dependente do petróleo, cujos preços arrefeceram em relação às máximas do ano, mas não devem baratear mais do isso. A economia japonesa também segue em ritmo fraco.

“As autoridades monetárias japonesas foram enfáticas em dizer que a decisão não significa uma retirada do programa de estímulo, e que as compras de títulos públicos prosseguirão normalmente. Ainda é cedo para saber. No entanto, a reação do mercado ao que pode ter sido apenas uma decisão técnica do Banco do Japão confirma que os investidores ao redor do mundo estão na expectativa de grandes mudanças continuando em 2023”, finalizam.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados