Itaú tem surpresas positivas no 2º tri e revisa projeções para cima, mas concorrência segue sendo questão para analistas

Analistas do Credit Suisse e do Bradesco BBI mostraram otimismo com ação do banco, enquanto XP destaca cautela em meio ao cenário disruptivo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Depois do Santander Brasil (SANB11), desta vez foi o Itaú Unibanco (ITUB4), o maior banco privado do país, a divulgar os seus números do segundo trimestre de 2021, considerados positivos pelos analistas e mostrando recuperação após o baque no lucro no ano passado em meio à pandemia do coronavírus, que levou a um forte aumento nas provisões para as perdas.

Isso ainda que a ação não tenha um bom desempenho na Bolsa no pós resultado, com os papéis também impactados pelo cenário externo e pelos riscos fiscais. Após chegar a subir 3,15% na máxima do dia, a R$ 31,43, os papéis amenizaram na sessão desta terça-feira (3), chegaram a cair, mas fecharam com ganhos. Os ativos ITUB4 fecharam em alta de 0,98%, a R$ 30,77.

O lucro líquido ajustado do Itaú atingiu R$ 6,54 bilhões, aumento de 2,3% em relação ao último trimestre e 55,6% maior que o resultado apresentado no segundo trimestre de 2020.

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Já a rentabilidade medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido foi a 18,9%, ante 18,5% no primeiro trimestre de 2021, com a surpresa positiva vindo de maior receita líquida de juros (em alta de  2,8%), menores despesas com provisões (queda de 8,2%) e melhores receitas com tarifas (alta de 2,8%), conforme destaca o Bradesco BBI.

A Levante ressalta que houve uma melhora do indicador ROE em relação ao segundo trimestre de 2020 (13,5%), com o indicador tendo caído muito no primeiro trimestre de 2020, atingindo 12,8%. O banco mostrou uma evolução gradual em todos os trimestres subsequentes, mas ainda abaixo do ROE visto no quarto trimestre de 2019, de 23,7%, no pré-pandemia.

Contudo, os números foram parcialmente compensados por maiores despesas operacionais (alta de  2,7%) e uma maior taxa efetiva de imposto de 36,2%, aponta o Bradesco BBI.

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A carteira de crédito ficou praticamente estável em relação ao trimestre anterior e atingiu R$ 909,1 bilhões, um crescimento de 12% na base anual. A inadimplência acima de 90 dias ficou estável em 2,3%. Os analistas da Levante apontam que, apesar dessa estabilidade ser positiva, é importante notar que o prazo de diversos empréstimos foi prorrogado, desta forma é possível vermos uma deterioração deste número no segundo semestre.

Já a margem financeira, diferença entre os juros que são cobrados nos empréstimos realizados pelo banco e os juros pagos pelo banco em suas captações, do banco cresceu 0,8% em relação ao trimestre anterior e 5,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, alcançando R$ 18,8 bilhões, com o número sendo positivamente impactado pelo aumento no volume de crédito.

Os números foram praticamente em linha com o esperado pelos analistas da XP mas, de acordo com eles, houve uma surpresa positiva. A instituição financeira foi capaz de produzir um resultado sólido e, ao mesmo tempo, melhorou a qualidade dos ativos e o índice de cobertura – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões.

As provisões vindo em linha com o esperado combinado com uma menor inadimplência impactaram positivamente o índice de cobertura do banco, atingindo 283%. As provisões para perdas com empréstimos caíram 39,6% em relação ao ano anterior, para R$ 4,7 bilhões.

Além dos números do trimestre, o banco também revisou para cima algumas linhas de suas projeções para o resultado de 2021, o que dá uma indicação positiva sobre a visão da instituição para o ano.  O Itaú revisou sua projeção de crescimento do crédito para 8,5-11,5% (de 5,5-9,5% anterior) e receita líquida de juros com o mercado para R$ 6,5-8,0 bilhões (de R$ 4,9-6,4 bilhões), e revisou para baixo seu guidance de encargos de provisão para R$ 19,0-22,0 bilhões (de R$ 21,3-24,3 bilhões). Entretanto, o guidance para a margem financeira com clientes foi mantido em projeção de alta entre 2,5-6,5%, as receitas com tarifas em alta entre 2,5-6,5%, as despesas operacionais em -2,0 a + 2,0% e a taxa de imposto em 34,5-36,5%

O Credit Suisse também destaca que os números vieram sólidos, com uma forte performance de receita puxada por maior margem financeira (NII) e taxas. Sobre o aumento das projeções para crédito, os analistas do banco avaliam que o  crescimento de empréstimos em todas as linhas e nas pequenas e médias empresas deve pavimentar o forte ambiente de receitas para os próximos meses com NII acelerando ainda mais no segundo semestre, aponta o Credit.

O Bradesco BBI também afirma que continua vendo tendências positivas para a receita líquida de juros nos próximos trimestres, à medida que o crescimento dos empréstimos segue acelerando  devido a uma melhor combinação, enquanto as receitas de tarifas também foram uma surpresa positiva.

Disrupção e iniciativas

Os bancos podem ter apresentado recuperação após a turbulência com o coronavírus, mas um outro fator que ameaça o setor segue sendo acompanhado de perto pelos investidores.

Conforme ressalta a Levante, a competição no setor vem sendo debatida há bastante tempo e sendo incentivada pelos órgãos reguladores, principalmente com a entrada das fintechs e bancos digitais. “Enquanto outros players, como o Bradesco (BBDC4), tentam criar um banco digital separadamente, o Itaú investe em se tornar mais ágil e operar de maneira mais parecida com as fintechs”, avaliam os analistas da casa de research.

Eles ainda apontam que, com o avanço no cronograma do open banking, as instituições financeiras mais estabelecidas, em especial os adquirentes, têm seu lucro mais ameaçado, uma vez que o compartilhamento dos dados beneficia os novos entrantes, que antes tinham poucas informações.

No entanto, o novo ambiente também se mostra uma oportunidade para que os grandes bancos possam utilizar sua inteligência de dados para concessão de crédito para expandir sua oferta para além de seus clientes. “Dessa forma, podemos entender este novo cenário tanto como uma ameaça quanto uma oportunidade para o banco”, avaliam.

A XP destaca ainda que a iniciativa iVarejo, uma estratégia de omnichannel do banco que permitirá aos clientes interagir com o banco por meio de suas operações físicas e digitais integradas, segue avançando no seu esforço de integrar as agências físicas do banco com o seu superapp. O banco atingiu a maior pontuação de net promoter score (o NPS, ferramenta que mede a satisfação dos clientes) em seu aplicativo, o que os analistas da XP veem com bons olhos, já que o mundo digital será o principal campo de batalha para absorver novos clientes no futuro.

Porém, a recomendação da XP para as ações ITUB4 segue neutra, com preço-alvo de R$ 28, ou queda de 8% em relação ao fechamento de segunda-feira, principalmente devido à visão sobre a concorrência e a disrupção no setor. Na semana passada, a casa reforçou sua recomendação para os ativos, avaliando que a composição da receita do Itaú é altamente suscetível a disrupções, dado: i) mais empréstimos para o varejo passivos para serem modelados (open banking); ii) um maior percentual de tarifas de varejo; e iii) uma operação de seguro fraca. “Dito isso, acreditamos que tanto a concorrência (cartões e tarifas de varejo principalmente) e ameaças regulatórias (banco aberto e pagamento mais rápido) representam uma ameaça maior para o Itaú”, reforçaram.

O Credit Suisse, por sua vez, reitera recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 39, ou alta de 28% frente o fechamento de segunda, destacando valuation atrativo e forte momentum  para lucros.

O valuation considerado atrativo também é um dos motivos para o Bradesco BBI manter recomendação de compra com preço-alvo de R$ 38, 24,7% acima do fechamento de segunda, avaliando que o Itaú está bem preparado para apresentar forte crescimento de lucros e expansão do ROE no futuro. Também na semana passada, o banco retomou a cobertura para o setor, destacando o Itaú como favorito entre as grandes instituições.  Segundo os analistas, o crescimento do crédito e um melhor mix de produtos devem levar a uma melhor qualidade dos resultados até pelo menos o quarto trimestre de 2022, afirmaram os analistas na ocasião.

De acordo com compilação da Refinitiv, de quinze casas que cobrem o papel, nove possuem recomendação de compra e seis de manutenção, com um preço-alvo médio de R$ 34,91, alta de 14,5% em relação ao fechamento da véspera.

Entre os otimistas, está a expectativa com a aceleração do crédito e maiores lucros com retomada da economia em meio ao aumento da vacinação, com a expectativa também de que o banco conseguirá ter um bom desempenho em meio à maior concorrência. Por outro lado, entre os mais cautelosos, a expectativa é de um cenário desafiador ainda pela frente.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.