IRB: dados de julho dão sinal de que pior já passou, mas analistas ainda se dividem sobre futuro das ações na B3

Eleven reforça que atual patamar do papel é altamente especulativo e vê alto potencial de ganhos, enquanto outros analistas ainda veem incerteza no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Pouco menos de um mês após divulgar números do segundo trimestre que não agradaram os investidores, o IRB Brasil RE (IRBR3) viu as suas ações dispararem até 12,70% na Bolsa na sessão em meio a dados de julho que podem trazer mais luz para os ativos da resseguradora. Os papéis fecharam em alta de 9,57%, a R$ 6,30.

Segundo dados não auditados e enviados à Superintendência de Seguros Privados (Susep), a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 62,4 milhões em julho, conforme informou nesta quarta-feira (23) ao mercado.

Além de ser um prejuízo bem menor do que os R$ 292,6 milhões registrados no mês anterior, a companhia ainda abriu os números mostrando o impacto dos negócios descontinuados.

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Excluindo essas operações, o mês de julho registraria lucro líquido R$ 36 milhões, dado este que animou o mercado, conforme aponta Carlos Daltozo, co-head de Renda Variável da Eleven Financial. De acordo com o analista, havia uma incerteza sobre o impacto das operações descontinuadas fizessem efeito nos números da empresa. Agora, apresentado esse resultado, a sinalização é de que o pior pode ter ficado para trás para a resseguradora.

Os números também animaram uma vez que, segundo mensagem apresentada pela própria direção da companhia, ela só atingiria o “breakeven” (ponto que indica que os custos são iguais aos ganhos) a partir de setembro, com algumas melhores graduais mês a mês ao longo do terceiro trimestre. Neste sentido, apesar dos números ainda fracos, há sinais de que ela está melhorando, conforme aponta análise do Brasil Plural.

Também em destaque, o faturamento bruto em julho (prêmio emitido) somou R$ 1,5 bilhão, alta de 100,8% em relação ao mesmo período de 2019, sendo R$ 1 bilhão no Brasil e R$ 531 milhões no exterior – expansões respectivas de 133% e 58,8%.

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“O crescimento em julho de 2020, decorre da renovação, com crescimento de coberturas, de um contrato no segmento de petróleo emitido no mês”, afirmou a resseguradora em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A despesa de sinistro foi de R$ 638,3 milhões, com um índice de sinistralidade de 97,1% no mês de julho, revertendo a tendência observada no primeiro semestre de 2020, que apresentou uma sinistralidade de 108%. Quando excluídos os sinistros dos negócios não continuados, o índice fica em 73,2%.

Já para o Credit Suisse, apesar da melhora sequencial, as operações descontinuadas continuarão a pesar sobre os resultados por um bom tempo. Os analistas do banco seguem com recomendação underperform (desempenho abaixo da média) para os ativos IRBR3, apesar do preço-alvo de R$ 7,50 indicar um potencial de valorização de quase 30% em relação ao fechamento da véspera.

Vale ressaltar que, desde a última atualização do banco no final de agosto (durante a divulgação de resultado), justamente quando estavam cotados a R$ 7,50, até a sessão da véspera, os papéis caíram mais de 23%.

No ano, o IRB registra a maior queda do Ibovespa, com baixa de mais de 80%, em um 2020 marcado por uma tempestade perfeita na Bolsa ao ser alvo de cartas da gestora Squadra apontando uma série de “inconsistências” no balanço da companhia, além de polêmicas envolvendo a saída de Ivan Monteiro do Conselho, a polêmica envolvendo a suposta participação da Berkshire Hathaway em ações IRBR3 (desmentidas posteriormente pelo veículo de investimentos de Warren Buffett) e até ações da Polícia Federal (veja mais aqui).

Desde então, a nova gestão da companhia tem buscado mais transparência com os investidores e analistas e não tem negado que o caminho será árduo.

Porém, apesar do cenário incerto, Daltozo avalia que o atual patamar de negociação de ações, abaixo dos R$ 6,93 da operação de aumento de capital recente, é altamente especulativo e visto pelo analista como uma reação exagerada do mercado.

O analista ressalta que a companhia limpou o balanço e, quando resolver a pendência de liquidez regulatória com a Susep (veja mais clicando aqui), essa pode ser uma sinalização ainda mais efetiva de retomada da companhia. Vale ressaltar que, em teleconferência dos resultados do segundo trimestre, a companhia descartou uma segunda oferta de ações para lidar com a insuficiência de liquidez com a reguladora do setor.

A avaliação é de que, somente com a realização de recebíveis, o IRB poderia levantar cerca de R$ 500 milhões. Além disso, a empresa pretende se desfazer de ativos não financeiros que não se enquadram na categoria de ativos de liquidez.

A Eleven Financial possui recomendação de compra para os ativos IRBR3, com preço-alvo de R$ 20 ao final de 2021, 248% frente o fechamento da véspera. Daltozo ressalta que, obviamente, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da companhia não vai voltar a ser os de 40% observados antes das polêmicas sobre o IRB virem à tona, já que eram baseados em dados errôneos, mas veem o ROE próximo da casa dos 20%. “Lógico que será um retorno gradual, mas deve haver uma retomada, ainda mais considerando as vantagens competitivas da companhia”, aponta o analista.

Porém, ele destaca que ainda há um grau de desconfiança grande no mercado sobre os possíveis “esqueletos no armário”, uma vez que ainda existe pouca visibilidade sobre a possível rentabilidade dos contratos da resseguradora. O mercado ainda tem muitas dúvidas sobre o patamar de ROE do IRB.

O Brasil Plural, por sua vez, possui recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para os ativos, com preço-alvo de R$ 5,75 (upside de 30%).

A divisão do mercado se traduz na compilação das visões das casas de análise, segundo dados da Refinitiv, com 3 recomendando compra, 3 manutenção e 2 venda. Enquanto há quem destaque o potencial de recuperação com a companhia ajeitando a casa, há também quem espere para ver mais dados antes de ficar mais otimista com o IRB. Os dados de julho, a princípio, deram um bom sinal.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.