IRB: com outra má notícia e queda de 80% da ação em 2020, desconfiança aumenta e analistas abandonam projeções

Cenário para a empresa de resseguros parece cada vez mais incerto; última má notícia foi fiscalização da Susep

Lara Rizério

Fachada do IRB (Divulgação)

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SÃO PAULO – Mais uma má notícia para o IRB (IRBR3). Na última segunda-feira (11), as ações da companhia de resseguros voltaram a registrar um dia de pesadelo na bolsa, com queda de quase 15%, com novidades que conseguiram elevar ainda mais o grau de desconfiança dos investidores e analistas.

Em comunicado na última segunda-feira, o IRB anunciou que a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) instaurou uma fiscalização especial devido a insuficiência de liquidez regulatória da companhia. Isso porque as provisões técnicas estariam abaixo do mínimo que a reguladora exige.

O regulador exige ativos líquidos suficientes para fazer frente as provisões técnicas realizadas pela resseguradora (representativas de eventuais sinistros, Art. 89 do Decreto Lei nº 73/66).

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“A notícia é vista como negativa pelo mercado, com implicações de possível intervenção por parte da SUSEP através da nomeação de um diretor e fiscalização de provisões”, avalia Marcel Campos, analista da XP Investimentos em relatório.

O analista aponta que, no caso do IRB, como 43% dos prêmios são emitidos internacionalmente, há dois agravantes: i) as provisões técnicas para eventuais sinistros aumentaram com a valorização de moedas estrangeiras frente ao real; e ii) consequentemente, a liquidez necessária para fazer frente a tais provisões também aumentou. O próprio IRB destacou em comunicado que a situação decorreu por conta dos efeitos da variação cambial sobre as provisões técnicas da companhia em moeda estrangeira, tendo em vista o cenário causado pelo coronavírus, bem como o aumento das provisões de sinistros a liquidar no primeiro quadrimestre de 2020.

“A decisão poderá ser revertida assim que as provisões técnicas se adequarem às normas vigentes, a critério da Susep”, disse a resseguradora, acrescentando que a questão foi avaliada em reunião extraordinária do conselho de administração no último dia 8 para a busca de alternativas. O IRB ainda disse entender que a decisão da Superintendência não afeta a administração regular dos seus negócios.

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Contudo, algumas medidas podem ser tomadas pelo regulador, aponta o analista da XP. Entre elas: i) nomear, por tempo indeterminado, um diretor fiscal; ii) fiscalizar cumprimento de contratos e iii) verificar a exatidão do cálculo da reserva técnica.

A XP ressalta ainda que a solvência da empresa não é o ponto de questionamento. Em comunicado, o IRB afirmou “que a companhia observa elevado índice de solvência e de volume de ativos livres”, explicando que, em virtude de determinadas características, esses ativos não são aceitos pelo órgão regulador para coberturas das provisões técnicas e da margem adicional de liquidez regulatória.

Campos lembra ainda que a fiscalização não tem relação com “o caso Squadra”, o estopim para todas as polêmicas que vêm ocorrendo dentro da empresa desde o começo de fevereiro. Vale lembrar que, em duas cartas abertas ao mercado, a gestora contestou os números da companhia ao apontar indícios de que os lucros normalizados (recorrentes) seriam significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras do IRB, entre outros pontos.

Conforme avalia o analista da XP, a Squadra não questionou em sua análise a liquidez ou solvência da resseguradora, enquanto a Susep não é reconhecida por analisar a adequação do nível de provisionamento das reguladas, ponto este questionado pela gestora carioca. Mas, agora, a situação pode mudar, por conta das possíveis medidas que a Superintendência poderá adotar.

Assim, o noticiário para o IRB fica ainda mais nebuloso, tornando menos provável uma recuperação de suas ações após a queda superior a 80% no ano até o fechamento da última segunda-feira (11), a maior baixa do Ibovespa em um período já bastante negativo para o índice.

Tal notícia gera ainda mais incerteza não só pelo fato em si, mas sim pela ausência de esclarecimentos em um cenário em que os analistas já se mostravam reticentes com a companhia após a saída de executivos em meio à polêmica de que eles teriam inventado que a Berkshire Hathaway investiu na empresa, sendo seguida por uma operação da Polícia Federal em meados de março na sede da empresa.

Desconfiança aumenta

Em meio a uma enxurrada de notícias negativas para a empresa nesses três meses e meio, os analistas de mercado se mostram cada vez menos confortáveis em traçar teses de investimento para a companhia.

O Itaú BBA foi o último deles, colocando a recomendação da ação da companhia em revisão na última segunda-feira ao avaliar que o caso Susep é mais um que levará o mercado a questionar a governança corporativa da empresa e suas práticas contábeis (como foi o caso durante o mandato de sua antiga administração, que terminou em março de 2020).

“Embora o IRB Brasil tenha deixado claro que é capaz de cobrir provisões técnicas, esclareceremos com a administração quais são os seus próximos passos são de uma perspectiva regulatória”, avalia a equipe de analistas do Itaú BBA, encabeçada por Marco Calvi.

Além disso, apesar de estar apenas parcialmente relacionado aos números de 2020, essa situação provavelmente suscitará novas perguntas sobre as práticas contábeis da empresa.

Assim, destacaram, após os eventos dos últimos meses, os analistas não acreditamos que o modelo e a recomendação atual que possuem para o IRB refletem suas perspectivas de curto ou longo prazo. “Portanto, estamos analisando o IRB até que tenhamos melhor visibilidade”, afirmam.

Dessa forma, o Itaú BBA se junta a outras casas de análise, como Bank of America, XP e Safra, que também colocaram as recomendações em revisão em meio aos imbróglios enfrentados pela companhia desde fevereiro, indicando a falta de confiança dos analistas em conseguir analisar a resseguradora com os dados disponíveis.

Campos, da XP, ressalta ainda que dois pontos principais sobre o caso Susep precisam de maior esclarecimento.

O primeiro ponto é quanto do aumento nas provisões e sinistros a liquidar identificado pela SUSEP vem do aumento do dólar. e quanto vem de uma possível deterioração na sinistralidade da resseguradora.

O segundo ponto é sobre as possibilidades além da venda de ativos, em um cenário em que os administradores dizem estar comprometidos a encontrar alternativas para solucionar a questão, na maior brevidade possível, mesmo no atual cenário adverso. “A resseguradora ainda possui alguns shoppings, bem como um imóvel no Ibirapuera e terrenos no Rio de Janeiro. Porém, ressaltamos que a venda destes imóveis neste momento de mercado poderia destruir valor para o acionista”, avalia o analista da XP.

Assim, ele espera que a volatilidade para as ações continue no curto prazo, uma vez que esse é o terceiro evento sem grandes esclarecimentos desde que a nova gestão (ainda interina, tendo como CEO da empresa Antônio Cassio dos Santos) assumiu, em março. Os outros eventos ressaltados por Campos são o primeiro prejuízo mensal reportado pela resseguradora desde 2016 para a Susep neste primeiro trimestre e o adiamento da divulgação dos resultados do primeiro trimestre para 18 de junho.

Volatilidade parece ser mesmo a palavra de ordem para o IRB. Após a queda de 14,82% na véspera, as ações registraram ganhos de 4,42%, a R$ 8,04, nesta terça-feira, depois de terem chegado a subir 11,30% na máxima do dia. Porém, ainda longe de recuperar da derrocada dos papéis no ano, de 79,36%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.