Investir em 2021: 3 carteiras de ações com as maiores promessas de pagamento de dividendos para o ano

Setor elétrico e financeiro novamente se destacam graças aos altos retornos e relativa previsibilidade

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O investidor brasileiro já há algum tempo sofre com um cenário desafiador por ser inédito no País: precisa ganhar dinheiro com investimentos sem poder contar com a rentabilidade fácil dos ativos mais seguros da renda fixa por causa do nível de atual dos juros.

Apesar da sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião da quarta-feira (9) de que a taxa básica de juros, Selic, não necessariamente ficará por muito mais tempo nesse patamar de 2% ao ano, as apostas ainda são de que não vá muito além dos 3% em 2021, conforme analisou recentemente Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos.

Vale lembrar que no último Relatório Focus, documento do Banco Central que compila as projeções dos economistas para os principais indicadores econômicos nacionais, a mediana das expectativas para a Selic ao final de 2021 ainda estava em 3,00% ao ano.

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Isso ocorre em um cenário no qual a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já supera os 4% em 12 meses. A projeção mediana dos economistas para o IPCA de 2021, de acordo com o Relatório Focus, é de que encerre o ano em 3,34%.

Uma inflação maior que o juro nominal oferecido pelo títulos mais seguros do mercado – como o Tesouro Selic (antiga LFT) – que seguem a Selic torna difícil ao investidor de perfil menos arrojado conseguir um rendimento que realmente aumente ou ao menos preserve seu patrimônio no tempo.

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Leia também: o que são proventos e dividendos – e como viver de renda com eles

Porém, na Bolsa, analistas explicam que é possível ganhar apenas com dividendos de determinadas ações um retorno maior que o pago pelos principais títulos de renda fixa.

Segundo Júlia Aquino, analista da Rico Investimentos, ao montar uma carteira baseada em empresas boas pagadoras de dividendos o investidor consegue ganhar tanto com a valorização das ações como com o reinvestimento dos proventos pagos aos acionistas.

“Você investe em uma ação e ela valoriza em um determinado período. Adicionalmente, ela também irá pagar dividendos de acordo com o lucro que a companhia obtiver em suas operações. Se você embolsar esse dividendo, você não ganha nada além dele, mas ao reinvestir na mesma ação pode aumentar o seu capital investido sem precisar tirar mais dinheiro do seu salário”, comenta Júlia.

É importante lembrar, contudo, que o valor das ações independente do pagamento de proventos é sempre variável e mesmo que a empresa pague bons dividendos a operação pode não compensar caso o preço do papel investido caia muito no horizonte temporal que o investidor quer manter aquela operação.

Portanto, a recomendação ao montar uma carteira de dividendos com o objetivo de ganhar da renda fixa e da inflação é sempre buscar o longo prazo e usar a estratégia como complementar para quem já tem algum capital mantido como reserva de emergência líquida em um ativo seguro e garantido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Levando isso em consideração, a pergunta a seguir é: em quais ações investir para receber os maiores dividendos?

Carteira de dividendos da XP

A equipe de análise da XP Investimentos tem suas ações preferidas quando se trata de dividendos e elaborou um relatório no qual lista as 25 ações que podem pagar em dividendos um retorno maior que a taxa Selic.

Para adaptarmos a “carteira” à realidade inflacionária brasileira restringimos a seleção para as 20 ações cujo dividend yield supera o IPCA previsto para o ano que vem no Relatório Focus.

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O relatório, assinado pelos analistas Maira Maldonado e Leonardo Pinto, destaca que as principais pagadoras de bons dividendos na Bolsa estão nos setores de energia elétrica, bancos e saneamento.

Confira a lista completa

Empresa Ticker Recomendação Preço-alvo Dividend yield* esperado em 2021
Engie EGIE3 Neutro R$ 41,00 8,1%
Sanepar SAPR11 Compra R$ 30,00 7,6%
AES Brasil TIET11 Compra R$ 17,00 7,3%
Banco do Brasil BBAS3 Compra R$ 43,00 7,0%
Cesp CESP6 Compra R$ 37,00 6,6%
Vale VALE3 Compra R$ 86,00 6,5%
Taesa TAEE11 Neutro R$ 30,00 6,3%
Cemig CMIG4 Neutro R$ 11,00 6,3%
Santander SANB11 Neutro R$ 32,00 5,7%
Bradesco BBDC4 Compra R$ 27,00 5,6%
BB Seguridade BBSE3 Compra R$ 35,00 5,6%
Itaú Unibanco ITUB4 Neutro R$ 29,00 5,5%
EDP Energias do Brasil ENBR3 Compra R$ 21,00 5,5%
Isa CTEEP TRPL4 Neutro R$ 23,00 5,4%
Cielo CIEL3 Neutro R$ 5,00 4,3%
Porto Seguro PSSA3 Neutro R$ 57,00 4,3%
Tenda TEND3 Compra R$ 37,20 3,7%
Petrobras PN PETR4 Compra R$ 32,00 3,6%
Petrobras ON PETR3 Compra R$ 32,00 3,6%
Copel CPLE6 Compra R$ 70,00 3,4%

*O dividend yield é a principal medida de rentabilidade dos dividendos e é obtida por meio da divisão do valor dos dividendos pelo preço da ação da companhia que os distribui

Dentre as ações acima, os analistas da XP analisaram com mais destaque as 10 maiores pagadoras de dividendos.

A primeira delas é a Engie (EGIE3), que atua na geração de energia elétrica e, conforme o relatório, destaca-se pela  capacidade diferenciada de se proteger dos efeitos de baixa incidência de chuvas, além de ter expandido sua atuação para os setores de transmissão de energia e transporte de gás.

“Acreditamos que após superar o período de incertezas no exercício de 2019, no qual a empresa reduziu a distribuição de proventos de inicialmente 100% para 56%, a Engie deverá retomar sua prática de distribuição de 100% do lucro líquido a acionistas”, concluem os analistas da XP.

Em seguida vem a Sanepar (SAPR11), empresa de saneamento do estado do Paraná. De acordo com a XP, a elevada distribuição de dividendos da Sanepar se deve à política de dividendos da companhia.

“A política prevê a distribuição do dividendo mínimo de 25% do lucro, além de 25% adicionais caso a situação financeira da empresa o permita (o que acontece desde 2012, com uma pausa em 2019).”

Em terceiro lugar vem a AES Brasil, antiga AES Brasil ([ativo=TIET11]), uma empresa que atua na geração de energia elétrica e é focada exclusivamente em energia renovável, com capacidade instalada de 3,7 Gigawatts. A empresa vem tentando diversificar seu portfolio para ficar menos exposta ao risco hidrológico e hoje tem plantas de energia eólica e solar.

De acordo com a XP, a AES Brasil apresenta lucros consistentes, embora possa haver um certo grau de volatilidade dependendo da incidência de chuvas.

“A companhia tem a prática de distribuir 100% do lucro líquido a acionistas com periodicidade trimestral. Destacamos como positivo que a empresa tenha mantido sua prática de distribuição de dividendos no patamar máximo no primeiro semestre de 2020 apesar do contexto atual de incertezas, o que reforça nossa visão de que a AES Brasil é uma das nossas preferidas como pagadora de dividendos.”

Logo depois vem o Banco do Brasil (BBAS3), que segundo a XP combina preço atrativo pela sua carteira de crédito e uma frente digital competitiva.

“Desta forma, acreditamos que haja poucas avenidas de crescimento de valor ao banco, tornando a distribuição de dividendos uma alternativa atrativa.”

A quinta ação em destaque é a da Cesp (CESP6), outra companhia que atua na geração de energia elétrica, desta vez com foco no estado de São Paulo. Para a XP, a empresa reforçou seu alto potencial de geração de caixa nos resultados do terceiro trimestre de 2020, o que deve culminar ou em maiores distribuições de dividendos ou em investimentos em oportunidades de crescimento.

“Além disso, em 2020 a CESP registrou uma redução de R$ 1 bilhão no total de passivos contingentes, dos quais R$ 154 milhões eram classificados como prováveis, implicando uma redução de 8% nas estimativas totais de passivos judiciais. Consideramos tal redução de passivos muito positiva, pois implica uma menor correção monetária destes processos em resultados futuros e, portanto, maiores lucros e potencial de distribuição de dividendos no futuro.”

O sexto lugar fica com os papéis da mineradora Vale (VALE3), que apesar de poder ser impactada por uma eventual desvalorização no preço do minério de ferro tem grandes potenciais de gerar valor para seus acionistas.

“Esperamos um retorno com dividendos mínimo de 6,5% em 2021, considerando um preço de minério de ferro médio em US$ 100 por tonelada [contra US$ 151 atualmente]. Nós estimamos os dividendos aplicando a política retomada recentemente pela companhia: 30% da diferença entre o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] e os investimentos em manutenção. Em termos de valuation, vemos as ações em patamares atrativos.”

A seguir vem a Taesa (TAEE11), empresa que atua na transmissão de energia elétrica operando aproximadamente 14 mil quilômetros de linhas de transmissão e com presença em 18 estados do Brasil.

De acordo com a XP, a Taesa está em posição confortável para distribuir 100% dos lucros na forma de dividendos em 2021. “Dito isso, assumimos o pagamento mínimo de 50% previsto no estatuto por conservadorismo e, caso a empresa faça um anúncio nesse sentido, consideraríamos perfeitamente razoável.”

Em oitavo lugar vem mais uma elétrica, a Cemig (CMIG4), que atua nas três frentes possíveis desse segmento: geração, transmissão e distribuição. A companhia é originária de Minas Gerais, mas fornece energia para 24 estados e para o Distrito Federal.

O relatório da XP ressalta que apesar de momentos desafiadores para o segmento de distribuição de energia durante 2020 e a volatilidade macroeconômica generalizada provocada pela pandemia de Covid-19 a diretoria da companhia afirmou que irá manter sua política atual de distribuição de dividendos de 50% do lucro líquido.

A nona ação em destaque é a do Santander Brasil (SANB11), que apesar de ser  o banco com menor diversificação de receita entre os incumbentes, apresenta uma combinação de alta exposição ao crédito de varejo e níveis de inadimplência relativamente abaixo da média, conforme destacam os analistas da XP.

“Acreditamos que, enquanto não haja boas oportunidades para o banco empregar grandes quantidades de capital incremental com taxas de retorno altas, a distribuição de dividendos pode ser uma alternativa atrativa.”

Por fim, a décima e última ação analisada com maior nível de detalhe no relatório da XP é a do Bradesco (BBDC3; BBDC4). Segundo os analistas, o banco combina uma fonte diversificada de receitas, incluindo a maior seguradora do Brasil em market share, a terceira maior carteira de crédito do País, maior operação de varejo com 4,4 mil agências e sinergia entre seus negócios.

“Embora o banco tenha mostrado esforços em iniciativas como o banco Next, Ágora e Cielo, acreditamos que não haja claras oportunidades para o banco empregar grandes quantidades de capital incremental com taxas de retorno altas, tornando atrativa a distribuição de dividendos”, concluem os analistas.

Carteira de dividendos da Nord

Guilherme Tiglia, analista da Nord Research, explica que o cenário atual, no qual ainda persistem incertezas a respeito da segunda onda da pandemia apesar da aprovação de vacinas, é ideal para buscar ações de empresas mais resilientes e que conseguem lucrar mesmo em situações econômicas adversas.

“Os papéis que recomendamos na Nord não tiveram nenhum problema de caixa durante a pandemia. Inicialmente trabalhamos com premissas mais conservadoras, porém o modelo de negócios dos ativos que escolhemos se mostrou tão consistente que [as empresas] conseguiram obter bons retornos mesmo nos piores momentos”, explica.

Atualmente, a Nord aposta em três ações como recomendadas para uma carteira baseada em dividendos: Itaúsa (ITSA4), AES Brasil (que também é recomendada pela XP como descrito no tópico acima) e Banrisul (BRSR6).

No caso da Itaúsa, a ideia é comprar uma participação no maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco, e ter acesso ao invejável Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) da instituição – acima de 15% ao ano ao longo dos últimos anos -, mas com um desconto no preço das ações por se estar adquirindo participação na holding. “É comprar a mesma coisa, mas pagando mais barato”, defende.

O dividend yield esperado para Itaúsa em 2021 é de 7,5% ano ano, ou seja, mais de três vezes a taxa Selic.

Já a AES Brasil, antiga AES Tietê, foi colocada na carteira porque além de apresentar resiliência e boas projeções de pagamento de dividendos ainda é atrativa em termos de valuation, ou seja, negocia com um preço por ação menor que o projetado como valor justo pelos analistas.

“Olhamos para o yield, mas não isoladamante. AES Brasil tem mais margem de segurança do que uma Taesa (TAEE11), que apesar de ser uma ótima empresa e atuar em um segmento ainda mais seguro em termos de rentabilidade, está melhor precificada pelo mercado”, comenta.

O dividend yield projetado para AES é de 8% ao ano para 2021, o que corresponde a quatro vezes a Selic atual de 2% ao ano.

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Por fim, o Banrisul foi escolhido para o portfolio por ser um banco estatal bem focado na região do Rio Grande do Sul e com um negócio muito sólido, estável e bem focado em concessão de crédito para a pessoa física.

“A situação fiscal do estado passa por um estresse, mas mesmo assim o banco passou bem por isso. Ele gera caixa, tem um ROE interessante, entretanto é um negócio que não é disruptivo, a força das suas operações se provam resultado a resultado”, diz Tiglia.

O yield esperado para Banrisul é de 7% ao ano para 2021.

Empresa Ticker Dividend yield projetado para 2021
AES Brasil TIET11 8%
Banrisul BRSR6 7%
Itaúsa ITSA4 7,5%

Carteira de dividendos da Rico Investimentos

A Rico Investimentos tem uma carteira de dividendos diferenciada, que mostra quais ações além de estarem entre as maiores pagadoras de dividendos ainda fazem parte da Seleção Estrelas da Bolsa e da Seleção Estrelas Ascendentes.

Conforme a equipe de análise da Corretora explica em relatório, as Estrelas da Bolsa são assim chamadas reunindo a convicção e a posição dos gestores, assim como a recomendação fundamentalista dos analistas do mercado.

Já as Estrelas Ascendentes são as small caps (empresas de menor valor de mercado na Bolsa) com maior potencial de valorização com maior potencial da bolsa selecionadas unindo critérios qualitativos das empresas a uma abordagem quantitativa, que possibilita olhar para todo o mercado em busca dos nomes mais promissores.

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Outro ponto relevante da tabela da Rico é o balanço de recomendações, que leva em conta a proporção de bancos, corretoras, consultorias e casas de análise que tem recomendação de compra, neutra ou de venda para as ações de cada empresa. Esse balanço é feito com base em dados colhidos na plataforma da Bloomberg.

Empresa Ticker Percentual de Recomendações de compra Percentual de Recomendações neutras Percentual de Recomendações de Venda Dividend yield projetado para 2021 Destaque
Copasa CSMG3 33% 61% 6% 12,4% Estrela ascendente
Taesa TAEE11 21% 57% 21% 8,6%
Vale VALE3 94% 6% 0% 8,2% Estrela da Bolsa
Engie EGIE3 44% 50% 6% 8%
Sanepar SAPR11 71% 21% 7% 7,8%
Vivo VIVT3 100% 0% 0% 7,6% Estrela da Bolsa
AES Brasil TIET11 7% 60% 33% 7,5%
Banrisul BRSR6 53% 47% 0% 7,4%
ISA CTEEP TRPL4 29% 57% 14% 7,3%
BrasilAgro AGRO3 100% 0% 0% 7,2%
SLC Agrícola SLCE3 40% 60% 0% 6,8% Estrela ascendente
CPFL CPFE3 80% 20% 0% 6,4%
Metalúrgica Gerdau GOAU4 86% 14% 0% 6,3% Estrela da Bolsa
Banco do Brasil BBAS3 80% 20% 0% 6,1%
BB Seguridade BBSE3 75% 25% 0% 6,1%
Alupar ALUP11 92% 8% 0% 5,9%
CESP CESP6 87% 13% 0% 5,8% Estrela da Bolsa
Cemig CMIG4 60% 40% 0% 5,7%
Banco ABC Brasil ABCB4 78% 22% 0% 5,6%
Copel CPLE6 31% 69% 0% 5,5%

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.