Índice criado por professores brasileiros consegue prever “crashes” na Bolsa

Sismógrafo da Bolsa elaborado por professores de engenharia do Insper e do ITA tem 89% de acertos

Gabriella D'Andréa

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SÃO PAULO – 1929, 1987 e 2008: o que os três anos têm em comum? Em todos esses momentos, o mercado de ações sofreu quedas vertiginosas, transformando riqueza em pó e levando investidores ao desespero. Apesar dos diferentes contextos históricos, todas essas crises eclodiram silenciosamente, pegando muita gente de supetão. Foi observando esses acontecimentos e a preocupação diária dos investidores com a volatilidade do mercado acionário que Marco Antonio Caetano, doutor em engenharia aeronáutica pelo ITA e professor do Insper, e Takashi Yoneyama, professor de engenharia do ITA, decidiram desenvolver um índice que rastreasse momentos de estresse na Bolsa – e que pudesse emitir um alerta para que os investidores não fossem mais pegos no contrapé.

Tudo começou em 1998, quando Caetano deu seus primeiros passos no mercado de ações através da análise técnica clássica. “Apesar de utilizar os gráficos, não conseguia enxergar quando haveria uma queda e comecei a perceber que essa era uma dificuldade da maioria dos acionistas”, relembra. Caetano se juntou a Yoneyama, seu então professor no doutorado, para criar uma ferramenta que tentasse antecipar as oscilações do mercado de ações utilizando como base a chamada “transformada de Fourier” – metodologia utilizada para captar os sinais mais fortes através das frequências e amplitudes das ações. Nos primeiros testes da ferramenta, ambos encontraram uma falha: a modalidade não apontava o momento exato da mudança de frequência na bolsa.

A segunda tentativa surgiu com as chamadas “wavelets” (ondaletas). Assim como o método anterior, a ferramenta busca captar as variações emitidas pelos papéis do mercado, exibindo-as na tela do computador. A diferença está no fato de que as ondaletas são mais dinâmicas, o que transmite maior verossimilhança com o momento atual da Bolsa. “Assim como um aparelho celular está sempre em busca da antena mais próxima para captar sinal, a ‘wavelet’ busca as frequências que estão mais em alta no mercado, traduzindo-as em um conjunto de informações, a fim de extrair padrões”, explica o professor do Insper.

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Posteriormente, as ondaletas foram jogadas na tela do computador na forma de espectros -imagens que se assemelham a uma chapa de pulmão e apontam a freqüência separada pela intensidade do mercado. Após perceber mudanças bruscas nos gráficos em meados de 2001 e 2002, Caetano passou a estudar outros métodos, com a finalidade de aperfeiçoar sua criação e disseminá-la entre pequenos investidores.

A inspiração surgiu do método criado pelo físico Didier Sornette. Em busca dos pontos exatos nos quais havia uma virada da Bolsa, o professor do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique adaptou o modelo utilizado em sismógrafos (aparelhos que registram a intensidade dos terremotos) para detectar momentos de pequenas amplitudes na variação dos preços, mas em alta velocidade, sinalizando a chegada de uma provável reviravolta no mercado acionário.

“Ao testar o modelo tomando como base a crise de 2008, percebemos que já no final de 2007 o espectro dava sinais de estresse no mercado, o que foi reforçado em março e abril do ano da crise”. Partindo dessas conclusões, em 2009, Caetano e Yoneyama montaram o IMA (Índice de Mudanças Abruptas), juntamente de Raul Ikeda Gomes da Silva, sócio e desenvolvedor da plataforma IMA-online, cuja função primordial é sinalizar pontos de saída ou “crash” (queda abrupta) e de entrada (compra) na Bolsa de Valores de São Paulo.

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Diferenciados pelas cores azul e vermelho, o IMA crash (vermelho) aponta o melhor momento para venda do papel enquanto o IMA entrada (azul) indica oportunidade de compra de uma ação. No gráfico é possível ver uma escala que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo o índice estiver de 1, maior a probabilidade de a Bolsa despencar. Em contrapartida, quanto maior a proximidade do 0, mais chances o mercado tem de se recuperar e gerar bons retornos aos acionistas.

Como acompanhar?
Para os investidores que desejam incluir em suas análises mais uma ferramenta, o IMA está disponível no site www.mudancasabruptas.com.br em duas versões: o diário e o intradiário. A primeira é disponibilizada gratuitamente após o fechamento de cada pregão da Bovespa. Além do principal índice da Bolsa, o Ibovespa, o IMA também segue o Dow Jones, um dos principais termômetros do mercado americano. “A versão diária é mais indicada para aqueles que investem no longo prazo, já que não é preciso acompanhar as oscilações minuto a minuto”, sugere Caetano.

Para acessar o intraday, os interessados devem fazer uma assinatura mensal, disponível no site. Nesse caso a atualização é feita a cada 15 minutos, e, além do Ibovespa, é possível acompanhar outras nove ações do índice separadamente: Gerdau, Itaú, Petrobras, Vale, Usiminas, Banco do Brasil, BM&FBovespa, Cielo e PDG. “Mas já estamos nos programando para incluir outras 30 ações até o final deste ano”, diz o professor do Insper. E, diferentemente do IMA diário, essa versão é ideal para investidores que realizam operações no curto prazo.

 Àqueles que se sentem inseguros em relação à eficácia do sistema, Caetano garante que o índice de acertos é alto. “Desde que o site foi criado, há quatro anos, já se passaram 1.161 dias de observações, dos quais 75 apontaram sinais de ‘crash’. Desse total, o IMA anteviu 67 movimentos futuros”. Ou seja, o índice de acertos foi de 89,3%. O especialista também explica que o tempo médio para o evento rastreado ocorrer é de cerca de dois dias e meio, o que propicia uma boa margem de tempo para se preparar para a turbulência no mercado.

A invasão dos robôs
O índice desenvolvido pelos professores é apenas mais um caso dentre outros que têm como pano de fundo a penetração dos algoritmos e a busca por maior eficiência nas negociações no mercado de ações. Um exemplo emblemático dos novos métodos que têm sido desenvolvidos são os robôs presentes em muitas corretoras de valores.

Visando negociações de alta frequência, robôs de diferentes instituições financeiras disputam por milionésimos de segundos a execução de ordens, seja de compra ou venda, no menor tempo possível. “Mais do que uma tendência, esses algoritmos são uma ferramenta para um novo momento de mercado”, afirma o diretor de produtos da Clear Corretora, Roberto Lee.

Com diferentes funções, esses robôs têm sido cada vez mais utilizados no mercado brasileiro, principalmente os que realizam operações casadas (compra e venda quase simultânea) e aqueles que monitoram o mercado, disparando ordens quando um determinado cenário –estipulado pelo investidor – se concretiza. Um terceiro tipo, que rastreia distorções entre taxas e preços entre diferentes instituições, ainda não é comum no Brasil, pois diferentemente do mercados americano, que é caracterizado por sua fragmentação, aqui só há uma empresa de intermediação de negócios com ações, a BM&FBovespa.

“Acredito que esses algoritmos são uma tendência crescente devido à facilidade de negociar e ao barateamento de custo das operações, assim como foi o home broker há mais de uma década”, diz Lee. Apesar de toda novidade causar alvoroço e algum ceticismo, o especialista afirma que as ferramentas de algoritmos não apresentam perigo ao investidor. “O robô é simplesmente um método mais eficiente e barato para executar as operações. Se o investidor tem uma estratégia bem definida e sabe seu objetivo, não há o que temer”.

Essa matéria foi publicada na edição 49 da revista InfoMoney, referente ao bimestre março/abril de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.