Ibovespa volta a subir com investidores atentos à PEC Emergencial; confira mais 3 fatores que movem o mercado

Mercado registra desempenho errático em meio ao noticiário político e às notícias internacionais

Marcos Mortari Ricardo Bomfim

Gráfico de cotações de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – A sessão é de forte volatilidade para o Ibovespa, com o índice variando entre queda de 1,20% e alta de mais de 1% nesta quarta-feira (10).

Às 16h41 (horário de Brasília), o Ibovespa avançava 0,95%, a 112.393 pontos, com os investidores monitorando a votação de destaques da PEC Emergencial na Câmara dos Deputados. No radar do mercado, o destaque do PT que suprimia o gatilho para congelamento de salários, considerado o “coração” da proposta, foi rejeitado por 319 votos a favor e 181 contra. Além disso, outro destaque que tentava suprimir limite de R$ 44 bilhões para auxílio emergencial também foi rejeitado.

Mais cedo, o índice chegou a cair mais de 1% com a notícia de que o governo discutiu acordo para diminuir a potência fiscal da PEC, permitindo a promoção de servidores quando a cláusula de calamidade estiver acionada.

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Hoje, os investidores também repercutem o discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o dado de inflação dos Estados Unidos e a queda das ações de exportadoras. Veja mais a seguir:

PEC Emergencial

Se o noticiário com a aprovação com 341 votos a favor e 121 contra da PEC Emergencial em primeiro turno na Câmara gerou ânimo no mercado, agora já há mais preocupação. Hoje são analisados os destaques ao texto, principalmente os da oposição.

Um destaque do PDT que retira da PEC Emergencial a previsão de desvinculação de fundos orçamentários foi aprovado porque o governo não conseguiu os 308 votos necessários para derrubá-lo, foram 302 contra e 178 a favor. Cabe interpretação agora sobre se seria necessário levar o texto de volta ao Senado por conta da alteração.

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De acordo com a equipe de análise da XP Política, essa derrota da equipe econômica pede mais atenção aos próximos destaques. “Tinha espaço para o governo ter colocado mais votos na urna se mais tempo fosse dado. O problema agora é uma descoordenação no Plenário derivada desta derrota”, escrevem os analistas.

Depois disso, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), anunciou em plenário a construção de um acordo para permitir a progressão de carreira e promoção de todas as categorias do funcionalismo público de todos os entes da federação.

O movimento representa uma nova desidratação no texto e ocorreu porque o governo temia ser derrotado na votação destaque apresentado pelo PT, que retirava da proposta o artigo que trata de gatilhos para a União, estados e municípios em momentos de calamidade pública. O destaque foi rejeitado, conforme queria o governo

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Pelo acordo, que não atendeu às demandas de partidos da oposição, mas foi acolhido por parlamentares da bancada de segurança pública, os deputados rejeitariam a proposta do PT e um novo destaque supressivo deverá ser apresentado no segundo turno de votação da PEC, promovendo as modificações negociadas.

O relator da proposta, deputado Daniel Freitas (PSL-SC), fez um apelo aos parlamentares para modificarem suas posições, evitando “estrago maior”, e detalhou os termos do acordo, que envolverá a retirada de três trechos de seu parecer.

“Reitero apelo feito pelo líder do governo de que, neste destaque, sejam reconsiderados alguns votos de alguns deputados, pois o governo entende que vai abrir mão, mesmo prejudicando, de forma substancial, algumas questões desta PEC”, disse.

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Segundo ele, a retirada de trechos do texto acordada “vai permitir a todas as categorias” progressões de carreira e promoções. Por se tratar de destaques supressivos, o deputado argumentou que a proposta não sofreria atrasos e não precisaria ser novamente votada pelo Senado.

Após a votação de destaques a PEC ainda precisa ser analisada em segundo turno, com necessidade de apoio de pelo menos 3/5 dos membros da casa legislativa (ou seja, 308 votos).

Discurso de Lula

O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez um pronunciamento e uma entrevista coletiva na sede do sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP). Lula criticou o presidente Jair Bolsonaro e defendeu o investimento do Estado na economia, posicionando-se contra as privatizações, mas adotou um discurso conciliador em diversos temas.

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“Nunca ouviram falar privatização da minha boca. Venderam a nossa BR Distribuidora (BRDT3). Vocês já viram o Guedes falar em desenvolvimento? Só falam em vender”, comentou. Para Lula, o que vai fazer a dívida pública diminuir em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é o crescimento econômico via investimento público.

Por outro lado, quando questionado a respeito de uma aproximação com o empresariado como a realizada em 2002, quando o vice-presidente foi José Alencar, Lula afirmou ser necessário construir uma frente ampla para governar o País.

“Quando eu fui candidato em 2002 eu tive como vice o José Alencar. Foi a primeira vez em que fizemos uma aliança entre o capital e trabalho. E, sinceramente, sem nenhuma falsa modéstia foi o momento mais promissor da história desse País”, disse.

Lula disse ainda que é possível construir um programa envolvendo os setores conservadores em questões como vacina e auxílio emergencial. “Conversas com conservadores sobre os problemas do povo podem gerar efeitos extraordinários. ”

Sobre a condução da pandemia, Lula criticou duramente Bolsonaro. “Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República, tomem vacina”, disparou.

Na véspera, a Segunda Turma suspendeu devido ao pedido de vistas do ministro Kassio Nunes Marques a sessão que julgava a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro nesses processos quando o placar estava em 2 a 2.

Em relação ao tema, Lula elogiou os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski pelos votos proferidos no processo de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. “Ontem, eu fiquei feliz porque vi a verdade proferida na íntegra por dois ministros da Suprema Corte. Antes, o Gilmar e o Lewandowski não apareciam.”

Exportadoras

Os futuros do minério de ferro na China caíram para o menor nível em quatro semanas nesta quarta-feira, pressionados por medidas mais duras contra poluição no principal polo siderúrgico de Tangshan, além de alívio em preocupações quanto à oferta da matéria-prima.

O contrato mais negociado do minério de ferro na bolsa de commodities de Dalian, para entrega em maio, encerrou o pregão diurno em baixa de 5,2%, a 1.040,50 iuanes por tonelada (US$ 159,82), após ter recuado mais cedo ao menor nível desde 8 de fevereiro, a 1.022 iuanes. Na bolsa de Cingapura, o primeiro contrato operava praticamente estável, a US$ 157,60 por tonelada após queda de 5,9% na véspera.

“A política de restrição à produção de alto-fornos na área de Tangshan se tornou mais rígida, mas prazo envolvido é relativamente curto, e o impacto na demanda por matérias-primas pode ser relativamente limitado”, disseram analistas da Sinosteel Futures em nota.

O governo de Tangshan, na província de Hebei, ao norte do país, editou diversas regras de controle de emissões desde fevereiro, restringindo a operação de usinas siderúrgicas. Do lado da oferta, persistentes preocupações com o fornecimento de minério de ferro foram aliviadas com um aumento nos estoques de produto importado nos portos chineses, que atingiram máxima de três meses de 129,50 milhões de tonelada na semana passada, segundo dados da SteelHome.

Com isso, as ações da Vale (VALE3) e de siderúrgicas caem nesta sessão. Para mais destaques de ações clique aqui.

Inflação nos EUA

O Departamento de Estatísticas Trabalhistas revelou que Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), cresceu 0,4% em fevereiro, em linha com o esperado, e atingiu 1,7% em 12 meses, reduzindo os temores de que a inflação no país fique fora de controle.

Com a informação, as bolsas dos EUA passaram a subir ao mesmo tempo em que o rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro do país cai a 1,55% ao ano. Vale lembrar que quando os juros dos treasuries sobem os ativos de renda variável tendem a se desvalorizar, pois os títulos considerados mais seguros do mundo (por serem emitidos pelo governo da maior economia global) ganham em atratividade.

Ainda nos EUA, ficam no radar as expectativas são pela votação na Câmara de Representantes dos Estados Unidos do pacote de US$ 1,9 trilhão em estímulos contra os impactos econômicos do coronavírus.

Desempenho de Bolsa, dólar e DIs

Às 15h11 (horário de Brasília), o Ibovespa tinha queda de 0,44%, a 110.838 pontos. Na máxima, o benchmark chegou a bater 112.382 pontos e na mínima atingiu 110.533 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial opera em queda de 1,22% a R$ 5,7256 na compra e a R$ 5,7266 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em abril registra perdas de 1,57% a R$ 5,715.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 sobe sete pontos-base a 4,07%, o DI para janeiro de 2023 tem alta de 11 pontos-base a 5,88%, o DI para janeiro de 2025 avança 15 pontos-base a 7,50% e o DI para janeiro de 2027 registra variação positiva de 14 pontos-base a 8,13%.

Mais destaques: coronavírus no Brasil

Pelo 11º dia seguido, o país bateu na terça (9) seu recorde na média móvel de mortes por Covid em 7 dias, com a marca de 1.572, alta de 39% em comparação com a média de 14 dias antes. O patamar de 1.500 mortes na média de 7 dias havia sido ultrapassado pela primeira vez no dia anterior.

Foram registradas 1.954 mortes por Covid na terça, também um recorde para um dia isolado. Este patamar foi atingido apesar de o estado de Goiás não ter divulgado o número de mortes, apenas o de novos casos.

As informações são do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h de terça o avanço da pandemia em 24 h no país.

A média móvel de novos casos em sete dias foi de 68.167, alta de 38% em relação ao patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia houve 69.537 diagnósticos.

Até a segunda, 8.736.891 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a Covid no Brasil, o equivalente a 4,13% da população. A segunda dose foi aplicada em 2.975.266 pessoas, ou 1,41% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.

Na terça, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgou uma edição extraordinária do boletim sobre a lotação de UTIs (unidades de terapia intensiva) no país durante a pandemia. Segundo o documento, 20 das 27 unidades da federação têm taxas de ocupação iguais ou superiores a 80%, patamar considerado crítico. Destas, 13 têm ocupação igual ou superior a 90%. Em Santa Catarina, há 395 pacientes aguardando transferência para leitos de UTI.

Dentre as 27 capitais, 25 estão com ocupação igual ou superior a 80%, e 15 delas acima de 90%. Apenas Belém e Maceió têm taxas abaixo de 80%, em 75% e 73%, respectivamente.

Na terça, o Ministério da Saúde, comandado pelo general Eduardo Pazuello, enviou um ofício à embaixada da China no Brasil, em que pede ajuda para comprar 30 milhões de doses da vacina da farmacêutica chinesa Sinopharm.

O secretário-executivo da Saúde, Elcio Franco, afirma no ofício que o Brasil corre o risco de paralisar a vacinação contra a Covid devido à falta de imunizantes.

Também na terça, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL), enviaram um ofício ao general Pazuello em que demandam informações sobre a vacinação contra a Covid.

Na segunda, Pazuello alterou pela quarta vez a sua previsão sobre o número de imunizantes que devem estar disponíveis no Brasil em março, para entre 25 milhões e 28 milhões. Em fevereiro, o ministro da Saúde havia afirmado que 46 milhões de doses estariam disponíveis em março.

Reportagem de capa do jornal Folha de S. Paulo aponta que há ao menos 11 indícios que poderiam ser usados como prova de que a cúpula do Ministério da Saúde tinha conhecimento sobre a grave de escassez de oxigênio em hospitais em Manaus e foi omissa.

Os indícios estão presentes em um relatório assinado pelo próprio ministro, em um documento da secretaria-executiva da pasta, em um plano de contingências montado para lidar com a crise no Amazonas, em relatórios de grupos independentes enviados ao estado e em documentos da fornecedora de oxigênio White Martins, contratada pelo governo para abastecer as unidades de saúde.

O general Pazuello é suspeito de crimes e investigado em inquérito no STF pela sua atuação no enfrentamento da pandemia, que também é questionada pelo Congresso.

Radar corporativo

A temporada de resultados segue no radar. A BR Distribuidora registrou lucro liquido de R$ 3,148 bilhões no quarto trimestre de 2020, ante R$ 96 milhões no mesmo período do ano passado. Em 2020, o lucro líquido somou R$ 3,905 bilhões, alta de 76,6% na comparação com 2019.

Já a Raia Drogasil teve lucro de R$ 198,5 milhões no último trimestre do ano passado, 38,5% superior frente igual período de 2019. Entre janeiro e dezembro, o valor foi de R$ 579,3 milhões, alta de 6,7% no comparativo anual. A receita líquida avançou 16%, a R$ 5,55 bilhões.

A Allpark, dona da rede de estacionamentos Estapar, teve prejuízo líquido de R$ 15,9 milhões no quarto trimestre, alta de 150,8%, ante o prejuízo de R$ 6 milhões reportados em igual período de 2019. No ano, as perdas somaram R$ 170,7 milhões, quatro vezes maior do que os R$ 42,6 milhões reportados um ano antes.

A Totvs  acertou a compra da empresa de programas de automação de marketing RD Station, com a desenvolvedora de softwares de gestão fazendo o maior negócio de sua história, fortalecendo sua aposta no negócio de performance empresarial. O acordo anunciado nesta terça-feira prevê o pagamento de R$ 1,86 bilhão, sujeito a ajustes, a ser pago na conclusão da transação, por cerca de 92% do capital da RD, avaliada em cerca de R$ 2 bilhões. Criada em 2011, a RD tem receita líquida prevista para 2021 de cerca de R$ 206 milhões.

Ainda no radar do mercado, um mês após a assinatura do acordo R$ 37,68 bilhões entre Vale, autoridades de Minas Gerais e da União, para reparar e indenizar os danos provocados pela tragédia na cidade de Brumadinho, o governo mineiro é alvo de pressão das empreiteiras que devem colocar as obras em andamento.

O acordo prevê o uso de R$ 11,06 bilhões para retomar obras de infraestrutura paralisadas nos últimos anos por falta de verba. Mas as empreiteiras afirmam que as licitações ocorreram há entre quatro e cinco anos, e que, desde então, houve disparada dos preços. As informações são do jornal Valor.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.