Ibovespa sobe 6,5% no semestre e dólar cai 4,2%: confira o que esperar para os próximos 6 meses

Bolsa avança na primeira metade de 2021, mas com um novo balanço de riscos desde que a reforma tributária e o Fed mais hawkish entraram no radar

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira (30), mas encerrou o primeiro semestre de 2021 com uma alta acumulada de 6,54%, enquanto o dólar caiu 4,16% no mesmo período. Essa primeira metade do ano foi marcada pelas discussões sobre inflação no âmbito global, ao mesmo tempo em que a vacinação contra o coronavírus ganhou tração e permitiu uma retomada econômica principalmente nos países desenvolvidos.

Nesta quarta, o que movimentou o mercado foram a repercussão de indicadores de emprego aqui e nos Estados Unidos e o noticiário político, com a informação da Folha de S. Paulo de que o representante de uma empresa vendedora de vacinas teria recebido o pedido de propina de US$ 1 por vacina de um funcionário do Ministério da Saúde.

Já sobre os indicadores, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,7% no trimestre móvel de fevereiro a abril, mantendo-se no recorde da série histórica iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número veio totalmente em linha com a média das projeções dos economistas compilada pela Refinitiv.

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Nos EUA, por outro lado, foram criadas 692 mil vagas no setor privado em junho, segundo o Relatório de Emprego ADP. O número veio acima da geração de 600 mil empregos esperada pelos economistas de acordo com a Refinitiv. O dado de maio foi revisado de 978 mil para 886 mil novos postos de trabalho.

Além disso, a CPI da Covid hoje teve o depoimento do empresário Carlos Wizard, que escolheu ficar calado e não responder às perguntas dos senadores usando o direito obtido por meio de um habeas corpus aceito por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Wizard supostamente seria um dos membros do “gabinete paralelo” que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. A comissão também decidiu convocar do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), suspeito de envolvimento em irregularidades na negociação de compra de vacinas da Covaxin pelo governo federal.

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Também no radar dos investidores, com o agravamento da crise hídrica e o pior cenário dos últimos 91 anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderá aumentar ainda mais a bandeira vermelha nível dois nas contas de luz nos próximos meses. O órgão regulador irá receber contribuições sobre a proposta de 1º a 30 de julho. O projeto em discussão prevê que a bandeira possa ser elevada para até R$ 11,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos a partir de agosto.

Por fim, de acordo com notícia veiculada pela Bloomberg no fim da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai insistir junto ao Congresso para que a alíquota do imposto sobre dividendos seja mantida em 20%. A medida supostamente ajudaria a financiar o novo Bolsa Família.

O Ibovespa teve queda de 0,41%, a 126.801 pontos com volume financeiro negociado de R$ 31,644 bilhões. O benchmark se valorizou em 0,46% no mês de junho.

Mais uma vez foram as ações de bancos como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC3; BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) que puxaram o desempenho negativo da Bolsa, ainda refletindo a proposta de taxação de dividendos inclusa na reforma tributária que o Ministério da Economia enviou à Câmara dos Deputados no começo da semana. Para mais destaques corporativos clique aqui.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
BIDI11 5.36367 77.79
PRIO3 2.89779 19.53
IGTA3 2.66497 40.45
PETR3 2.05526 30.29
MULT3 1.86389 23.5

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
BTOW3 -3.80372 66.26
COGN3 -3.56347 4.33
WEGE3 -3.08357 33.63
LAME4 -2.88029 21.58
MGLU3 -2.39963 21.15

Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,63% a R$ 4,972 na compra e a R$ 4,973 na venda depois de chegar a superar os R$ 5,00 na máxima intradiária. Todavia, no mês, a moeda dos EUA se desvalorizou em 4,82% ante o real. Vale lembrar que hoje foi dia de formação da Ptax, de modo que a volatilidade do câmbio acaba aumentando por conta da disputa entre comprados e vendidos no mercado futuro.

O dólar futuro com vencimento em julho avançou 0,93% a R$ 5,002 e encerrou seu período de negociação. A partir de amanhã o contrato que vale é o para agosto, que se valoriza em 0,35% a R$ 4,988 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu oito pontos-base a 5,68%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de 12 pontos-base a 7,06%, o DI para janeiro de 2025 avançou 11 pontos-base a 8,06% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de sete pontos-base a 8,49%.

Lá fora, as bolsas americanas fecharam predominantemente em território positivo. O índice Dow Jones subiu 0,61% a 34.502 pontos, o S&P 500 teve alta de 0,13% a 4.297 pontos e o Nasdaq recuou 0,17% a 14.503 pontos. Na primeira metade de 2021, o S&P acumula alta de mais de 14%.

As expectativas de que o Federal Reserve manterá por algum tempo ainda as taxas de juros dos EUA próximas de zero e as compras mensais de títulos em US$ 120 bilhões ajudaram a manter o otimismo hoje, com avanço especialmente das ações de empresas ligadas à reabertura da economia como Walmart e Boeing.

Também no noticiário internacional, o Índice do Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) oficial relativo ao setor de manufatura na China desacelerou, pontuando 50,9 em junho, levemente abaixo em relação a 51 pontuados em maio. Qualquer valor acima de 50 indica expansão; abaixo, retração. O desempenho no país vem sendo afetado pela ressurgência de casos de Covid na província de Guangdong, que afetou o funcionamento portuário.

As bolsas europeias, na contramão de Wall Street, recuaram nesta quarta em meio à chegada da variante delta, indiana, do coronavírus, que preocupa os líderes da região. Indonésia, Malásia, Tailândia e Austrália estão enfrentando surtos e apertando as restrições, enquanto Espanha e Portugal anunciaram restrições para turistas britânicos não vacinados.

Na quarta, o Escritório para Estatísticas Nacionais do Reino Unido confirmou a queda de 1,6% no Produto Interno Bruto (PIB) do país relativo ao primeiro trimestre, levemente abaixo da expectativa. O investimento em negócios caiu 10,7% na comparação trimestral, prejudicado por medidas de distanciamento social.

A agência governamental também afirma que as economias das famílias britânicas teve forte alta no período, o que alimenta a expectativa de que haja gastos por conta da demanda reprimida, conforme a economia reabre.

O que moveu a Bolsa nos últimos 6 meses?

Logo no começo do ano, o rali do final de 2020 provocado pela retomada da economia brasileira e pela melhora nos resultados das empresas se estendeu e durou até o dia 14 de janeiro, quando o Ibovespa encerrou a sessão cotado a 123.481 pontos.

A maior alta da Bolsa no período ocorreu no dia 7 de janeiro, quando o benchmark disparou 2,76% em meio ao otimismo com a valorização das commodities. A Vale (VALE3), naquele pregão, viu seus papéis dispararem 7% após o minério de ferro bater US$ 171,69 a tonelada. Também trouxe otimismo a informação de que a eficácia da coronavac era de 78% para casos leves da Covid-19.

No entanto, o movimento seguinte foi de correção até os 110.035 pontos no dia 26 de fevereiro em meio às preocupações com a alta no rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos diante das preocupações de que com os estímulos fiscais propostos pelo governo do democrata, Joe Biden, a inflação da maior economia do mundo fosse disparar.

Um grande fator de estresse nesse meio tempo foi a intervenção do presidente Jair Bolsonaro no comando da Petrobras (PETR3; PETR4). Bolsonaro demitiu o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, em uma sexta-feira, 19 de fevereiro, depois do fechamento da Bolsa, devido ao aumento nos preços da gasolina e do diesel, algo que estava tornando descontente um importante grupo de apoio do atual governo: os caminhoneiros.

Com a intervenção, o mercado temeu que a política de paridade dos preços dos combustíveis com a cotação internacional do petróleo estivesse com os dias contados. As ações da petroleira desabaram 21,51% no pregão de 22 de fevereiro, puxando a Bolsa para baixo. O Ibovespa teve sua pior queda do ano naquela data, recuando 4,87%.

Já a segunda maior desvalorização do principal índice da B3 veio no dia 8 de março, quando por uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve anuladas as suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato. O desenho de uma corrida eleitoral em 2022 polarizada entre Bolsonaro e Lula, identificado com uma postura intervencionista na economia, fez o Ibovespa cair 3,98% em 8 de março.

No entanto, o início de um novo ciclo de alta na Bolsa veio logo depois, em 11 de março, quando o presidente americano, Joe Biden, sancionou um pacote de US$ 1,9 trilhão em estímulos para combater os impactos do coronavírus na economia. O benchmark da B3 subiu 1,96%.

Entre março, abril e maio, a Bolsa teve uma forte lateralização diante da Segunda Onda do coronavírus. Em 8 de abril morreram 4.249 pessoas de Covid no país, o maior número desde o início da pandemia.

Com o arrefecimento da pandemia e fortes dados econômicos, o Ibovespa engatou uma tendência de alta a partir de 1º de junho, quando houve a surpresa positiva com o resultado do PIB do primeiro trimestre. Os economistas não esperavam a expansão de 1,2% da atividade do Brasil na comparação com o quarto trimestre de 2020. O indicador deixou investidores otimistas e o Ibovespa subiu 1,63% no dia.

Junho também foi importante porque trouxe consigo a aceleração no ritmo de vacinação da população brasileira, que saltou para 1 milhão de doses injetadas diariamente.

O único pregão neste mês que causou um pouco mais de preocupação foi o de 17 de junho, quando decisões combinadas do Federal Reserve e do Comitê de Política Monetária (Copom), com sinalizações mais hawkish (favoráveis a elevar juros para conter a inflação) levaram o Ibovespa a cair 0,93%.

O que esperar para o 2º semestre

Segundo Júlio Erse, gestor da Constância Investimentos, o principal tema do primeiro semestre foi a inflação no mundo, que levou investidores a acompanharem com avidez o sobe e desce da curva de juros dos títulos do Tesouro americano.

De agora em diante, na avaliação dele, outras temáticas como a tramitação no Congresso da reforma tributária assumirão maior importância. “Hoje é o que pode fazer os preços daqui descolarem para melhor ou para pior em relação ao desempenho das bolsas mundiais”, analisa.

Para Erse, se o projeto continuar como está pode se tornar “um arrasto” para as empresas que geram caixa e lucro, pois elas distribuirão dividendos menores para seus acionistas. Por outro lado, ele ressalta que é uma reforma que simplifica um pouco o sistema tributário, e essa é a direção correta que o país precisa tomar.

“Nenhum governo conseguiu passar reformas tributárias importantes. Se o Congresso aprovar é um bom sinal para a agenda reformista e para a governabilidade da atual gestão”, defende. Erse diz que seu cenário-base para o ano inclui a aprovação da reforma tributária ainda em 2021 ou pelo menos antes das eleições do ano que vem.

O gestor acredita que o cenário continua benigno para investimentos porque houve revisões de expectativas nos últimos três meses que sustentaram o otimismo com a situação macroeconômica brasileira.

“É o caso da evolução da relação dívida/PIB e possibilidade de quebra do teto de gastos. Com a atividade melhor e a arrecadação maior, a questão fiscal fica mais para frente, ainda mais com o espaço que a inflação criou no Orçamento para o ano que vem”, comenta.

Na mesma linha, a XP atualmente mantém sua projeção de Ibovespa aos 145 mil pontos no final de 2021. Os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li apontam que a bolsa brasileira não está somente barata no absoluto e no relativo, mas ela também está com menor risco.

“As empresas do Ibovespa desalavancaram significativamente ao longo dos anos e, hoje, têm balanços muito mais sólidos do que no passado, além de continuarem a oferecer retornos atrativos”, avaliam.

Além disso, a redução dos riscos fiscais nos últimos dois meses, vacinação contra a Covid-19 em andamento, e dados econômicos melhores do que esperado (com destaque para o PIB do primeiro trimestre) finalmente devem permitir investidores a focar menos nas preocupações macro e mais nos fundamentos, escrevem a equipe da XP.

Já a equipe de estratégia do Banco Inter tem uma projeção para o índice de 142 mil pontos até o final do ano. Os estrategistas apontam que, ao observarem os lucros estimados para 2021 das ações que compõe o Ibovespa, o múltiplo preço sobre lucro fica em 18,5 vezes, abaixo dos 20 vezes da média histórica.

O BB Investimentos, por sua vez, tem a projeção do Ibovespa a 140 mil pontos ao final do ano. “Não podemos deixar de lado o processo de vacinação em andamento e a reabertura das economias, o que leva o mercado a rever as projeções de lucros das companhias. Temos percebido que as novas ondas de contaminações têm produzido um impacto menor sobre a mobilidade e o crescimento, o que implica em dinâmicas menos desfavoráveis em termos de mercado de trabalho e crédito”, apontam os estrategistas da instituição.

Apesar disso, há também fatores de risco no radar. De acordo com Jennie Li, da XP, a variante indiana da Covid-19, conhecida como delta, de transmissibilidade maior que as outras cepas, é o principal foco de temores para o mercado, especialmente na Europa.

“Os dados econômicos recentes vieram fortes nos EUA, e o mercado esperava que houvesse um grande impulso da atividade europeia durante o verão no hemisfério Norte, mas se a variante delta continuar se disseminando no ritmo atual pode ser que não seja a hora de afrouxar medidas de isolamento no continente”, analisa Jennie.

A percepção de Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, é parecida. Para Jason, o evento maior que poderia impedir a Bolsa de continuar subindo depois dos 130 mil pontos é uma terceira onda da pandemia. “Se isso se converter em algo mais sério pode jogar por água abaixo a expectativa de recuperação, o que gera um problema global”, explica.

De todo modo, diante desse novo balanço de riscos, a equipe de análise do Bradesco BBI reduziu o grau da sua recomendação overweight (mais peso na carteira do que a média do mercado) para o Brasil devido ao texto da reforma tributária.

A manutenção do status overweight, por outro lado, deve-se à melhora nas perspectivas para o crescimento econômico do país. “De um ponto de vista de estratégia para ações, achamos que a maior probabilidade de surpresas no [Produto Interno Bruto] PIB do país estão na direção de uma expansão de 6% em 2021”, escrevem os analistas.

Para eles, uma consequência disso foi a redução no risco fiscal, com uma revisão nas projeções para a relação dívida pública pelo PIB de 89% para 81% até o fim do ano. Além disso, os analistas do Bradesco enxergam riscos políticos menores devido à estabilização nas taxas de aprovação do governo. Por fim, o aumento no ritmo da vacinação desde 8 de junho seria um fator a mais para trazer boas perspectivas para a economia.

“A média de injeções diárias passou de 687 mil em maio para 1 milhão em junho e a média-móvel de sete dias recentemente chegou a estar em 1,2 milhão”, escrevem os analistas do Bradesco. O preço-alvo do banco para o Ibovespa é de 135 mil pontos ao fim de 2021 e de 150 mil pontos no final de 2022, números que os analistas dizem parecerem “conservadores”, mas que fazem sentido diante dos riscos envolvidos no resultado das eleições do ano que vem.

Sobre esse terceiro fator de risco, as eleições, Jennie e Vieira concordam que há pouco impacto imediato. “É algo que todos estão de olho, mas não é o centro das preocupações. A volatilidade deve aumentar em 2022, mas por enquanto não tem havido grande movimentação na Bolsa depois de cada pesquisa eleitoral”, ressalta a estrategista da XP.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.