Ibovespa segue euforia e bate máxima histórica após Fomc e apesar de Copom “conservador”: até onde o índice pode ir?

Analistas seguem otimistas com a Bolsa brasileira, com cenário de queda de juros e também de olho no exterior

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Mesmo com algumas análises de que o Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe sinais mais hawkish (duros) com relação à política monetária na véspera, o Ibovespa seguiu a euforia do último pregão e renovou sua máxima histórica de fechamento nesta quinta-feira (14), com a continuidade das altas em meio ao cenário de corte de juros por aqui e também com a visão de corte de juros pelo Federal Reserve.

O índice fechou com ganhos de 1,06%, a 130.842 pontos, após ter renovado máxima intradiária logo durante a manhã, quando encerrou o dia aos 131.259 pontos.

Cabe ressaltar que o movimento de fortes ganhos teve início ontem. Na última quarta, o Ibovespa teve uma sessão de ânimo ao subir 2,42%,  aos 129.465 pontos, maior nível de fechamento desde 24 de junho de 2021, então aos 129.513 pontos.

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Com isso, o benchmark da Bolsa precisaria de apenas de uma alta de 0,98% para bater a sua cotação máxima de fechamento anterior, que aconteceu em 7 de junho de 2021, quando atingiu os 130.776 pontos (a máxima intradia naquela sessão foi de 131.190 pontos), o que ocorreu nesta quinta.

Na véspera, o movimento de euforia aconteceu após a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 16h (horário de Brasília).

Conforme esperado, o BC americano manteve, em decisão unânime, a taxa de juros de referência na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. E o gráfico de pontos, mais aguardado do que o próprio comunicado, mostrou que 15 dirigentes do Fed veem juros entre 4,25% e 5% em 2024 – e que a maioria dos dirigentes espera juros entre 3% e 4% até o fim de 2025.

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Em suma, a leitura do mercado, ante as indicações de tarde do Fed, é de que os juros na maior economia do mundo, de fato, já passaram do ponto mais alto do ciclo de elevação dos custos de crédito e, para frente, tendem a ser acomodados em níveis mais compatíveis ao apetite por risco – ou seja, haverá cortes na taxa de referência dos EUA, logo adiante, como antecipava o mercado.

De acordo com dados da CME, o mercado vê agora 76,1% de chance de que o Federal Reserve iniciará cortes de juros já em março de 2024. Os ganhos se acentuaram com a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, que começou às 16h30, em que os sinais ‘dovish’ acabaram prevalecendo na leitura do mercado.

“Ontem foi o dia do pivô do Fed, de mudança de discurso. Sinalizou que o ciclo de altas terminou e sinalizou um de cortes. Mercado já aposta em baixas para março”, explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “O destaque ficou para o relatório dos dot plots. Na última reunião, os diretores, na média, viam uma média de taxa de juros de 5,1% para o próximo ano e, agora, esse número é de 4,6%, com 11 diretores vendo mais três cortes”.

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“O mercado rapidamente teve a leitura de que o ciclo de cortes vai começar. A treasury para dez anos, por isso, afundou. Foi para baixo de dez anos. E, a partir dai, é óbvio que as Bolsas tiveram altas muito fortes”, completa Gala. Hoje, o título do tesouro americano vincendo em 10 anos fechou a 3,913%, com menos 12 pontos-base.

Por lá, os dois últimos pregões também foram de altas – ontem, no entanto, também mais expressivas. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,43%, 0,26% e 0,19% nesta quinta.

Logo após o Fed, depois do fechamento do mercado de ontem, foi a vez da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os juros. A expectativa de consenso era por um novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, trazendo a taxa de juros de referência no Brasil de 12,25% para 11,75% ao ano, o que ocorreu.

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Contudo, o comunicado veio ligeiramente mais duro do que o esperado pelo mercado, refletindo a manutenção de uma postura cautelosa por parte do comitê no processo de condução da política monetária, mesmo diante da melhora da conjuntura econômica global e doméstica no período entre reuniões.

“Se por um lado, o comunicado do Copom deixa sinalizado que há pouca margem para a aceleração do ritmo de corte de juros, a decisão do Fed abre espaço para observamos uma Selic ao final do ciclo abaixo de dois dígitos. Nesse contexto, mantivemos a nossa projeção de Selic terminal em 9,75% a.a., entretanto, retiramos o viés altista em relação ao nosso cenário base, em função da antecipação dos cortes de juro nos EUA do final do ano para a virada do primeiro para o segundo semestre de 2024”, apontou a Genial Investimentos em análise.

Os dados de varejo mais fracos do que o esperado e os sinais de arrefecimento da inflação acabaram abrindo margem para a queda dos juros futuros pela manhã e para visões de que o Copom pode estender o corte de juros, ainda que o comunicado do BC brasileiro tenha sido mais conservador.

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No entanto, ao longo do dia, sinalizações em relação ao fiscal brasileiro pesaram na curva local, que acabou fechando majoritariamente em alta. Os DIs para 2025 ganharam quatro pontos-base, a 10,11%, e os para 2027, 11 pontos, a 9,81%. As taxas dos DIs para 2029 foram a 10,24%, com mais cinco pontos, e as dos para 2031, a 10,52%, com mais quatro pontos.

O Congresso Nacional votou hoje pela derrubada do veto integral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao projeto de lei que prorroga até 2027 a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia. A medida deve ser mais um entrave na busca do Governo Federal pelo zeramento do déficit no próximo ano e aumento o risco fiscal. O ministro da Economia, Fernando Haddad, demonstrou insatisfação.

A alta dos DIs brasileiros, no entanto, não foram suficientes para minguar o otimismo com os ativos de risco.

Otimismo continua para 2024, mas há alertas

Analistas de mercado seguem positivos com a Bolsa brasileira, já de olho também em 2024.

Para a XP, o ciclo de corte de juros no Brasil é um dos fatores que contribuem para a sua visão otimista para a bolsa brasileira.

“Entendemos que ainda há espaço para a Bolsa valorizar daqui para frente. Para o ano que vem, temos como valor estimado de valor-justo do Ibovespa em 142 mil pontos para 2024. Além disso, continuamos vendo o valuation de ações brasileiras como descontadas, com o P/L [múltiplo de preço sobre o lucro] em 8,0 vezes, ainda com um desconto significativo versus sua média histórica de 11 vezes”, avaliam Fernando Ferreira e Jennie Li, estrategistas que assinam o relatório da XP sobre o tema.

Olhando para setores, os estrategistas da casa que, historicamente, alguns tendem a ser mais sensíveis aos ciclos de juros, como: Saúde, Educação, Imobiliário, Financeiro, Varejo e Transportes.

A Guide Investimentos também tem a visão de que o Ibovespa ainda está “barato” em termos de valuation, como relação preço/lucro e outros indicadores.

“Além disso, o fluxo para ações tem sido baixo nos últimos anos: os investidores estão pouco alocados de forma geral, o que abre espaço para mais valorização”, aponta Mateus Haag, analista da casa.

A Guide mantém visão positiva pro Ibovespa para os próximos meses, particularmente em 2024, com um target de 155 mil pontos para o índice.

“A queda dos juros (tanto no Brasil quanto no exterior) deve favorecer os investimentos em renda variável. Além disso, a queda dos juros tem um impacto direto no lucro das empresas no Ibovespa”, aponta, ressaltando ainda que a economia segue crescendo (ainda que em ritmo lento), o que também favorece a renda variável.

“Por fim, vale destacar que a alocação atualmente em ações é baixa nos fundos brasileiros, o que favorece a alta do Ibovespa no curto prazo”, avalia.

Voltando ao curto prazo, José Faria Jr., diretor da Wagner Investimentos, avalia que o rali poderá prosseguir por mais tempo com a visão de mudança de visão sobre o Fomc, mas há fatores de atenção num prazo mais longo ao olhar para os EUA.

“Poderemos ter ambiente muito diferente em meados do próximo ano. Recessão poderá vir com piora do mercado de trabalho em meio ao fim do dinheiro guardardo da pandemia (cheques pagos por Trump e Biden) ou pela condição financeira mais frouxa, que poderá, no limite gerar uma nova onda de inflação”, aponta.

Enquanto isso, ao olhar para o câmbio, a tendência é de baixa para o dólar no médio e longo prazos com o discurso mais conservador do Copom.

“Este discurso é bom para o real, já que juros caindo de forma menos rápida ajuda a nossa moeda a se valorizar”, avalia. O dólar comercial fechou em leve queda de 0,07%, a R$ 4,914 na compra e na venda.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.