Fed vê avanços no combate à inflação já admite fim do ciclo de alta, dizem economistas

Sumário de projeções e tom adotado no comunicado e nas falas de Jerome Powell sugerem que cortes de juros podem ser antecipados

Roberto de Lira

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Os economistas captaram uma mudança na comunicação do Federal Reserve nesta quarta-feira (13), com o reconhecimento de que os Estados Unidos podem já ter atingido o pico de juros em seu ciclo de alta e que agora é uma questão de tempo para que a flexibilização comece. Os especialistas observaram esses sinais em comentários sobre a trajetória da inflação e também ao analisar os novos dados do Sumário de Projeções Econômicas (SEP, na sigla em inglês).

Sobre o comunicado após a decisão de manutenção dos juros, Débora Nogueira, economista chefe da Tenax Capital, destacou que o Fomc reconheceu uma inflação mais baixa, algo já esperado, inseriu no texto que houve uma discussão sobre o que faria com o viés de aperto.

“Teve um parágrafo em que deixou em aberta a possibilidade de ajuste adicional de política monetária. Ele fala “se tiver algum”, então ele faz uma moderação desse viés de aperto, o que não era consensual”, comentou.

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Esse trecho foi alvo da primeira pergunta feita a Jerome Powell na coletiva de imprensa. O jornalista quis saber se o acréscimo da expressão “algum reforço adicional” poderia significar que os aumentos das taxas estão praticamente encerrados e que o Comitê está abandonando uma tendência restritiva e adotando uma posição mais neutra.

O presidente do Federal Reserve respondeu admitindo que o atual ciclo de juros americanos está “provavelmente no pico do ciclo ou perto dele”.

Sobre as projeções, Débora disse que a mudança mais importante é que aumentou o número do corte de juros esperados para 2024. “Na reunião de setembro, que foi a última em que o Fed divulgou a projeção, havia reduzido essa quantidade, mas agora voltou a aumentar, então é muito importante. O Fed está percebendo um ambiente mais benigno”, afirmou.

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“Isso é uma boa notícia para o mundo emergente e para a política monetária brasileira. O que poderia ser um grande obstáculo para uma futura flexibilização mais profunda nossa era justamente uma política monetária mais restritiva do Fed. E estamos tendo uma mudança importante da percepção do Fed reverberada por essas projeções.”

Para Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, viu o Fomc optando por um tom mais “dovish” no documento emitido imediatamente após o anúncio da decisão de juros, iniciando o texto apontando para um arrefecimento mais intenso do nível de atividade econômica nos últimos meses, contrariando o ritmo forte de crescimento observado ao longo do terceiro trimestre.

“Além disso, foi mantido o trecho, em que a autoridade monetária classificava como positiva a desaceleração recente do mercado do trabalho do país, ainda que a taxa de desemprego tenha permanecido baixa”, destacou.

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Por fim, ela lembrou que o nível de inflação também foi avaliado de maneira positiva, com o arrefecimento dos preços sendo reconhecido no trecho final do primeiro parágrafo do documento, embora, assim como no caso do mercado de trabalho, siga apontada como incompatível com os objetivos de longo prazo da instituição.

Em termos prospectivos, não houve nenhuma mudança expressiva na comunicação frente ao que havia sido feito na reunião anterior, com o Fed apontando que seguirá monitorando o comportamento dos indicadores de inflação, mercado de trabalho e expectativas para tomar suas decisões no futuro.

“Vale reforçar que, mesmo neste cenário aparentemente mais ameno, seguimos acreditando que o início do ciclo de corte de juros deve ocorrer em um momento posterior ao que as projeções do mercado atualmente sugerem.”

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Andressa Durão, economista da ASA Investments, avaliou que o Fomc fez pequenas alterações no comunicado, mas que grande destaque ficou para a revisão da trajetória de juros, abaixo do esperado.

Ela destacou ainda que na entrevista coletiva, ainda que tenha mantido a mensagem de cautela e não querer fechar completamente a porta para um possível aperto necessário, Jerome Powell também apresentou linguagem “dove”, ao sinalizar que atingiram o pico da taxa juros e afirmar que houve discussões sobre o início do ciclo de cortes.

“O Fed parece estar bastante confortável com o processo de desaceleração da inflação e a mudança de tom hoje sugere antecipação do início do ciclo de cortes. Acreditamos, então, que podem começar a cortar 25 bps na reunião de maio, com chances de antecipar o corte para março, a depender dos próximos dados de inflação.”

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Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, lembrou que os membros do Comitê passaram a projetar uma redução de 0,75 ponto percentual ao longo de 2024. “Antes, a previsão era de 0,5 ponto percentual. Com isso, a projeção passa a ser de juros menores ao final do ano que vem”, destacou.

Ela disse ter visto um Powell cauteloso no início da entrevista, mas que ele reconheceu que as decisões tomadas até aqui parecem estar conduzindo a inflação em direção à meta.

“Powell acrescentou que as discussões sobre cortes ainda precisam evoluir, minimizando as chances de uma redução nos juros já no começo do ano. Na nossa visão, um novo aumento de juros é improvável e o início do ciclo de cortes só deve ocorrer a partir de meados de 2024 e de forma gradual”, previu, atribuindo isso ao fato de a inflação deve seguir persistente em razão de um mercado de trabalho que deve desaquecer lentamente.