Ibovespa no azul, Wall Street no vermelho em 2022: já dá para dizer que “o jogo virou”?

Bolsa brasileira sobe com commodities em alta, queda do dólar e dos juros: mas até quando esse cenário vai durar?

Mitchel Diniz

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O ano de 2022, até agora, tem sido positivo para o Ibovespa, que subiu mais de 4% do primeiro pregão do ano até ontem (19). Nem parece a mesma Bolsa que começou janeiro caindo por dias seguidos, ameaçando perder o patamar dos 100 mil pontos. Aquela, que caiu 11,92% em 2021 e foi incapaz de acompanhar a performance positiva das Bolsas no exterior, sobretudo as de Nova York, com o S&P500 subindo 27% no mesmo período.

O jogo, por fim, parece ter virado. Enquanto o Ibovespa retoma o maior patamar em três meses, os índices em Wall Street estão no vermelho. O índice de referência S&P 500 cai quase 6% neste ano.

Agora, a Bolsa brasileira não está tão em desvantagem em relação às Bolsas americanas, ainda que siga bastante descontada, na avaliação dos analistas do mercado financeiro.

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Mas por que só agora o Ibovespa conseguiu engatar um movimento de alta consistente e não acompanhou, antes, o bom desempenho das Bolsas internacionais?

Os analistas explicam que um dos principais gatilhos para a alta da Bolsa agora em janeiro é a valorização das commodities no mercado internacional.

O petróleo já atingiu o maior patamar em sete anos, beirando os US$ 90 e alguns analistas acreditam que a matéria-prima possa chegar aos US$ 100 em breve. O minério de ferro, por sua vez, volta a oscilar próximo do patamar de US$ 130.

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As empresas do segmento de commodities, contando com as gigantes Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3;PETR4), respondem por cerca de um terço do peso do índice. Logo, com as matérias-primas renovando máximas no mercado internacional, é natural que as ações do setor acompanhem essa valorização.

Os bancos também têm peso relevante no índice (em torno de 25%) e também se destacaram entre as maiores altas da Bolsa nas últimas semanas.

Para os analistas, as ações são beneficiadas por um movimento de rotation, em que investidores trocam ativos da carteira, substituindo ações de empresas de crescimento por companhias de valor, consolidadas.

Enquanto bancos e commodities têm mais de 50% do peso da Bolsa brasileira, os dois setores, juntos, respondem por menos de um quarto do peso do índice S&P 500, por exemplo.

César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, explica que o movimento vem do apetite do investidor estrangeiro por essas large caps brasileiras(empresas de grande valor de mercado).

“Quem está comprando é o gringo. O investidor local está vendendo, pois ainda tem muito resgate, com um movimento de equity para a renda fixa [por conta dos juros mais altos]”, afirma Mikail.

Do primeiro pregão do ano até o último dia 18 de janeiro, o estrangeiro ingressou na Bolsa comprando R$ 184,2 bilhões e o fluxo do período (menos as vendas de R$ 170,2 bilhões) ficou positivo em aproximadamente R$ 14 bilhões, segundo dados da B3.

“Se o gringo para de entrar, o mercado desliza de novo”, diz Mikail.

Mercado americano está caro

Analistas do UBS afirmam, em relatório, que embora estejam otimistas com as perspectivas para as Bolsas americanas, enxergam “uma série de fatores” que vão impulsionar o mercado internacional de ações [fora dos EUA] nos próximos anos.

“Recomendamos que os investidores mantenham uma carteira globalmente diversificada, com cerca de 40% de sua alocação de ações em outros mercados desenvolvidos e emergentes”, escreveram os analistas.

Pietra Guerra, analista da Clear Corretora, destacou no programa Radar InfoMoney (veja o programa completo no vídeo acima) ter uma visão construtiva para a Bolsa brasileira e os mercados americanos, reforçando também a importância da diversificação.

Já o UBS explica que o mercado americano ganhou vantagem nos últimos anos graças a uma combinação de taxa de juros em queda, melhores valuations, expansão de margens de lucro e um dólar forte. Porém, agora, os analistas veem uma inversão desses fatores, citando que os ventos favoráveis provavelmente passarão a ser ventos contrários.

Vale lembrar que o Banco Central dos Estados Unidos (o Federal Reserve) se prepara para subir juros no próximo mês de março, aumentando o rendimento dos treasuries, e encerrando o seu programa de compras de títulos, reduzindo a liquidez dos mercado;

“O mercado de ações dos EUA parece caro em relação ao seu pares internacionais”, declara o UBS em relatório. O banco calcula que o S&P 500 é negociado a valores 22,6 vezes o consenso de estimativa para ganhos de 2022, o que representa um prêmio de 84% sobre o índice MSCI de Mercados Emergentes.

Muito cedo para falar em tendência

Com o ingresso de capital estrangeiro, o dólar vem caindo e chegou na menor cotação desde o início de novembro. Os juros têm recuado junto, já que a valorização do real traz alguma expectativa de arrefecimento da inflação por aqui. A combinação é favorável para a Bolsa.

Contudo, ainda que, em parte, a alta das commodities seja um gatilho positivo para ações de peso do Ibovespa, essa escalada de preços é também um ponto de preocupação. No Brasil, os combustíveis são reajustados seguindo uma política de paridade de preço internacional.

“O petróleo nesse ritmo vai pressionar inflação e aumenta o risco de uma intervenção do governo na Petrobras”, afirma Flávio Aragão, sócio da 051 Capital.

E se o aperto monetário continuar rigoroso no Brasil, as perspectivas para os bancos podem não ser tão boas quanto parecem.

“O problema dos bancos é que se os juros subirem muito, naturalmente haverá mais provisões, por conta do risco de inadimplência. Isso influencia em lucros trimestrais e pode provocar um ajuste de preços”, ressalva Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Isso sem falar na alta de juros nos Estados Unidos, que promete impactar o fluxo de capital, fazendo com que investimentos em ativos de rixo migrem para o Tesouro Americano.

Para Fabricio Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, a Bolsa precificou alguns riscos políticos no passado e agora está correndo atrás do prejuízo.

Leia também: O que esperar para o Ibovespa em 2022? Confira as projeções dos analistas e as ações em destaque

“O mercado antecipou bastante a questão eleitoral no ano passado, bem como precificou os riscos fiscais. Tudo isso foi descontado nas cotações dos ativos e, à medida que o cenário vai ficando mais claro, a Bolsa vai recompondo os excessos e ajustando a rentabilidade, ao reconhecer alguma melhora pela frente”, afirma.

Resta saber até quando, em pleno ano de eleição, vão haver melhoras para o Ibovespa continuar se apoiando.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados