Ibovespa Futuro vira para leve queda novamente na contramão do exterior; dólar cai a R$ 5,25

Pré-market mostra desempenho levemente positivo graças ao ânimo do investidor estrangeiro

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa Futuro vira para queda nesta quinta-feira (21) apesar do avanço dos futuros dos índices dos Estados Unidos. Os mercados internacionais seguem com ânimo por conta da expectativa de estímulos nos EUA agora sob a gestão do presidente Joe Biden.

O novo presidente deve começar a trabalhar imediatamente em sua proposta de pacote de auxílio de US$ 1,9 trilhão, que anunciou na semana passada. Biden também anunciou o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, pelo qual os participantes se comprometem limitar suas emissões de gases estufa como forma de reduzir a mudança climática. Prometeu também fazer com que o país se reintegre à Organização Mundial de Saúde (OMS).

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, Selic, em 2% ao ano, mas removeu o foward guidance (algo como prévia do que esperar para o futuro) de não reduzir o estímulo monetário.

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O Copom avaliou que o estímulo monetário “extraordinariamente elevado” segue adequado, mas adicionou “neste momento” no texto, sinalizando que pode iniciar um ajuste adiante.

“Acreditamos que a elevada incerteza sugere cautela ao reduzir o grau de estímulo. Contudo, os dados recentes – atividade melhor no final do ano passado, choque inflacionário se prolongando – e a sinalização do comunicado nos fazem acreditar que o Copom optará por antecipar o ciclo de alta de juros para maio (antes, agosto). Projetamos agora a taxa Selic em 3,5% no final de 2021 (antes 3%) e 4,50% em 2022 (antes 4%)”, aponta Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos (confira o relatório aqui).

Hoje, os investidores devem continuar atentos às sinalizações do governo em relação a austeridade fiscal, reformas e planos de vacinação. São esses três focos de incerteza que têm mantido o mercado brasileiro em um desempenho mais fraco que o global.

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Também no radar, o Banco Central Europeu (BCE) manteve sua taxa de refinanciamento em 0% ao ano, a taxa de depósitos em -0,5% e a taxa de empréstimo marginal em 0,25%. O BCE, com isso, confirmou sua política monetária expansionista, destacando no comunicado que as taxas continuarão no nível atual ou abaixo até que as perspectivas para inflação convirjam de maneira robusta para um patamar próximo de 2% ao ano.

Já as compras de títulos pela autoridade monetária europeia foram mantidas em 1,85 trilhão de euros para “preservar as condições favoráveis de financiamento”.

Às 9h59 (horário de Brasília), o contrato futuro do Ibovespa com vencimento em fevereiro de 2021 tinha  queda de 0,14%, a 119.520 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial cai 1,1% a R$ 5,2525 na compra e a R$ 5,2535 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em fevereiro tem perdas de 0,57%, a R$ 5,263.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 tem alta de 11 pontos-base a 3,32%, o DI para janeiro de 2023 sobe nove pontos-base a 5,02%, o DI para janeiro de 2025 avança três pontos-base a 6,48% e o DI para janeiro de 2025 registra variação positiva de dois pontos-base a 7,15%.

As bolsas asiáticas fecharam em território positivo, seguindo o desempenho americano na véspera por conta da posse de Biden. O Banco do Japão, em uma decisão amplamente antecipada, manteve a taxa de juros em -0,1%, e os juros de títulos do governo com vencimento em 10 anos em 0%.

Falta de insumos para produzir vacina no Brasil

O consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil divulgou, às 20h de quarta (20), o avanço da pandemia em 24 h no país.

A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 54.630, alta de 50% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 64.126 casos. A média móvel de mortes em 7 dias foi de 983, alta de 33% frente ao patamar registrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registradas 1.382 mortes, o maior patamar desde o dia 4 de agosto.

Com a piora de índices, o governo de São Paulo confirmou que reclassificará o plano da quarentena na sexta-feira (22). Com aumento da ocupação de leitos de UTI, Grande São Paulo e regiões do interior podem ter a classificação rebaixada de forma a adotar medidas mais restritivas.

O Brasil tem ao menos 14,8 milhões de brasileiros no grupo prioritário para a vacinação. Mas, até o momento, há apenas 10,8 milhões de doses da vacina contra covid no país. Assim, não há imunizante o suficiente para executar a primeira fase do plano de vacinação.

Em uma fala à comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para discutir o enfrentamento à pandemia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que não há prazo para receber do Instituto Serum, da Índia, as 2 milhões de doses da vacina desenvolvida por AstraZeneca e Universidade de Oxford, ou para receber insumos da China para produção local de vacinas.

A falta de insumos afeta a produção tanto da vacina da Universidade de Oxford, que tem no Brasil a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), quanto a CoronaVac, que no país será produzida pelo Instituto Butantan. Na terça (19), a Fiocruz afirmou que vai atrasar de fevereiro para março a entrega das vacinas, devido à demora na chegada de insumos. No mesmo dia, o governo indiano divulgou que daria início à exportação de vacinas, mas o Brasil ficou de fora da lista de países contemplados.

Até o momento, a CoronaVac e a vacina de Oxford são as duas únicas autorizadas para uso emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros membros do governo, inclusive Araújo, têm feito críticas ao governo chinês, colocando em dúvida a eficácia e a segurança do imunizante produzido no país.

Em outubro, Bolsonaro chegou a desautorizar o anúncio pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, de que o governo federal compraria doses da CoronaVac. Além disso, o governo brasileiro não apoiou a proposta indiana de suspender temporariamente as patentes sobre suprimentos de combate à covid, como forma de acelerar a vacinação mundial.

Em sua fala na Câmara, o ministro Araújo negou a existência de problemas políticos e diplomáticos que tenham influenciado o atraso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), conversou na quarta com o embaixador chinês, Yang Wanming, e afirmou, no entanto, que não vê obstáculo político, mas técnico, que justifique a demora para a liberação de insumos para produção de vacinas no Brasil. “Ele [embaixador chinês] abriu a conversa já relatando que, de forma nenhuma, haveria obstáculos políticos para a exportação dos insumos da China” afirmou Maia. O embaixador afirmou que trabalha junto ao governo chinês para acelerar a liberação dos insumos.

Segundo a Folha de S. Paulo, o presidente Jair Bolsonaro pediu uma chamada telefônica com o líder chinês Xi Jinping para fazer um apelo pela liberação dos insumos para fabricar vacinas contra Covid no Brasil.

Disputa na Câmara e Senado

Sob críticas pela atuação do governo no combate à pandemia e na execução do plano de vacinação, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em solenidade do 80º aniversário do Comando da Aeronáutica, na base aérea de Brasília, que está sendo “atacado”.

“Dependendo de onde vem esses fogos, tenho certeza de que estamos no caminho certo (…) Eu prego e zelo pela união de todos, pelo entendimento, pela paz e pela harmonia. Mas os poucos setores que teimam em remar no sentido contrário, tenho certeza, vocês perderão”, disse o presidente.

“Hoje, nós temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo. E a grande base nossa para cumprir essa missão são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica. Porque vocês, jovens militares que estão à nossa direita, são o caldo do que é o povo brasileiro.” O elogio aos militares foi feito dois dias após Bolsonaro afirmar que “quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as Forças Armadas” .

Em reportagem de bastidores, o jornal Valor afirma que o ministro da Economia Paulo Guedes conseguiu convencer o presidente Jair Bolsonaro a vetar um artigo do PLP 135 de 2020, de autoria do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que muda a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O artigo proibia que recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, voltados para ciência e tecnologia, fossem contingenciados, ponto revertido pelo veto de Bolsonaro. Assi, Guedes garante mais espaço para contingenciamento de recursos e para respeitar o teto de gastos.

Na disputa pela presidência do Senado, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) busca fazer aproximação com empresários e setores da sociedade civil. Seu plano é criar uma mobilização “orgânica”, “de fora para dentro” do Legislativo, afirma o jornal Valor. O rival Rodrigo Pacheco (DEM-MG) voltou a viajar para estados buscando consolidar votos conquistados.

O candidato à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) esteve na quarta no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde se encontrou com deputados. Mais cedo, ele afirmou que, se eleito, sua prioridade será resolver a questão orçamentária, em detrimento da covid.

“Temos problema por enquanto localizado no Amazonas, sério, no Norte do país. Temos uma atenção especial, estamos envidando todos os esforços. É mais um problema de gestão local do que nacional (…) O sistema de saúde do Amazonas tem 70% de ocupação num período normal. Então qualquer estresse ele superlota”, disse. O rival Baleia Rossi (MDB-SP) busca apoio de ACM Neto e FHC para reduzir dissidências na votação de seus partidos.

Radar corporativo

O noticiário corporativo é movimentado para a Vale, com a expectativa de uma nova audiência de conciliação com Minas Gerais para realizar um acordo de reparação sobre Brumadinho. Na véspera, a mineradora assinou um acordo com a Mitsui, permitindo que as partes estruturem a saída da Mitsui da mina de carvão de Moatize e do Corredor Logístico de Nacala, como um primeiro passo para o desinvestimento da Vale do negócio de carvão. Os investidores também repercutem se o incêndio em um dos carregadores de navios da mineradora  no Terminal Ponta da Madeira (MA), na semana passada, pode impactar a previsão de produção da companhia para este ano

A Vale também teve a preferência dentre as ações de mineração e siderurgia reiterada pelo Bradesco BBI, com o preço-alvo sendo elevado para R$ 120. Contudo, o banco destacou que o momentum é mais forte para as siderúrgicas, com a recomendação para Usiminas sendo elevada para outperform, sendo a nova top pick entre as siderúrgicas, mas também mantendo Gerdau como outperform. Também entre as recomendações, o Bradesco BBI reduziu a recomendação de Sanepar para underperform (desempenho abaixo da média do mercado).

Entre outros destaques, a construtora Cury atingiu R$ 448,1 milhões em vendas contratadas brutas, 20,6% acima frente os últimos três meses de 2019.

A São Martinho, por sua vez, informou que seu conselho de administração aprovou a implantação de uma fábrica de etanol de milho em Quirinópolis (GO), com investimentos estimados em cerca de R$ 640 milhões e início da operação previsto para novembro de 2022.

A fabricante de pás eólicas Aeris está perto de fechar negócio de cerca de R$ 2,5 bilhões com a espanhola Siemens Gamesa, afirma o jornal Valor. O contrato é válido até 2023, e prevê o fornecimento de pás eólicas com capacidade para produzir três gigawatts de energia elétrica. Já a Hypera Pharma comunicou que o Cade aprovou a aquisição de medicamentos da Takeda Pharmaceutical International, condicionada à venda do produto Xantinon.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.