Apesar de Copom retirar “forward guidance”, BC não deve subir juros logo, dizem analistas

Analistas ainda projetam alta da Selic apenas no 2º semestre, mas após comunicado desta quarta, sinais apontam que ciclo pode começar antes

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Apesar de seguir o que esperava a maioria dos analistas ao manter a Selic em 2% ao ano, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) chamou atenção por anunciar o fim do chamado “forward guidance” (prescrição futura).

Com esse mecanismo, o Banco Central se comprometia a não elevar os juros enquanto as expectativas e projeções de inflação de seu cenário básico se mantivessem abaixo do centro da meta no horizonte relevante. E apesar do fim dessa prescrição, analistas apontam que os juros podem não subir já na próxima reunião.

O próprio Comitê reiterou em seu comunicado que o fim do “forward guidance” não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros, “pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.

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Para a equipe da XP Investimentos, a decisão do BC foi “um pouco hawkish”, com um comunicado indicando que a autoridade monetária está “mais dependente de dados”. Para os analistas, a ênfase do comunicado nas incertezas de crescimento no primeiro trimestre, assim como o fim do “forward guidance”, mostram um BC se preparando para iniciar um ciclo de alta de juros já na primeira metade do ano.

Caio Megale, economista-chefe da XP, ressaltou que, apesar desses indícios, o BC não terá pressa para elevar a Selic. Contudo, deve antecipar o ciclo de ajuste.

“Acreditamos que a elevada incerteza sugere cautela ao reduzir o grau de estímulo. Contudo, os dados recentes – atividade melhor no final do ano passado, choque inflacionário se prolongando – e a sinalização do comunicado nos fazem acreditar que o Copom optará por antecipar o ciclo de alta de juros para maio (antes, agosto). Projetamos agora a Selic em 3,50% no final de 2021 (antes 3,00%) e 4,50% em 2022 (antes 4,00%)”, apontou em relatório (confira aqui).

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Já para Helena Veronese, economista-chefe da Consulenza Investimentos, a decisão de hoje mostrou que a piora do cenário sanitário no curto prazo fez com que o risco fiscal voltasse ao radar do BC.

“Em paralelo, a autoridade monetária não deve iniciar imediatamente seu processo de alta de juros: a atividade fraca e ainda pendente de estímulos deve fazer, a nosso ver, com que tal processo se inicie apenas no segundo semestre do ano”, aponta a economista.

Diante dessas dúvidas sobre quando tem início o ciclo de alta de juros, Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, destaca que serão as expectativas sobre a velocidade do Copom em subir a Selic que irão fazer preço no mercado daqui para frente.

“Caso o IPCA continue surpreendendo positivamente e/ou o risco fiscal aumente ainda mais, o BC será forçado a acelerar a alta da Selic para patamares acima de 3,5% antes do final desse ano”, afirma.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.