Ibovespa futuro cai mais de 2% com guerra na Ucrânia; veja os impactos na economia

Clima de pessimismo e de aversão ao risco tomou conta dos mercados; VIX, "índice do medo", sobe 20,79%, pior nível desde abril de 2020

Vitor Azevedo

(Shutterstock)

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O Ibovespa futuro opera forte em queda no início do pregão desta quinta-feira (24). Às 9h05 o contrato com vencimento em abril recua 2,25%, aos 110.538 pontos, acompanhando a performance da bolsas no exterior.

Lá fora, o clima é de pessimismo e de aversão ao risco, por conta das novas incursões russas contra a Ucrânia. O VIX, conhecido como  o “índice do medo”, composto por opções de ações do S&P 500, avança 20,79% e está no pior nível desde abril de 2020.

Durante a madrugada, foram reportados ataques a uma série de cidades ucranianas, incluindo à capital Kiev – onde sirenes tocaram e moradores buscaram abrigo contra explosões. Moscou afirmou que as ofensivas não focaram cidades ou áreas civis, apenas alvos militares. Já há registro de mortes.

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Do outro lado, o presidente americano Joe Biden, também pela madrugada, prometeu duras sanções à Rússia, além de afirmar que “‘Putin escolheu uma guerra que trará perdas de vidas e sofrimento”. A União Europeia foi no mesmo caminho, com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, chamando a invasão de bárbara e afirmando que a Rússia usou “argumentos cínicos” para justificá-la. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, porém, afirmou que não há até então planos de enviar tropas à Ucrânia.

“Nesse momento, o ‘menos pior’ dos cenário é esperar que os russos façam na Ucrânia algo similar ao que foi feito na Criméia, quando após a ação militar foi seguido de plebiscitos e da anexação, ou até mesmo o reconhecimento de independência por lá”, comenta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “As sanções do ocidente serão severas ao país de Putin, com grandes restrições de comercialização, o que coloca à mesa um novo repique inflacionário”, comentou.

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A Rússia figura a lista dos maiores produtores de petróleo do mundo e também é responsável por quase todo o abastecimento de gás natural da União Europeia – o gasoduto Nord Stream 2, que liga o país à Alemanha, inclusive, já foi alvo de sanções anunciadas ontem pelo governo americano.

Com isso, os preços dos combustíveis fósseis disparara pela manhã. O barril WTI para março é negociado a US$ 99,79, com alta de 8,37%, às 8h30. No mesmo horário, o Brent para abril avança 8,53%, a US$ 105,10 – maior preço desde o início de 2014.

“A equipe de Estratégia Global da XP mantém a avaliação de que o Ocidente não se envolverá diretamente no conflito militar na Ucrânia, tendo como cenário base uma solução intermediária para o imbróglio geopolítico”, comenta a XP Investimentos, em seu morning call. “Considerando um cenário estressado de invasão da Rússia em grande escala na Ucrânia, os preços de energia, metais e alimentos tenderiam a exibir saltos adicionais, tornando ainda mais desafiadora a tarefa dos bancos centrais de controlar a pressão inflacionária“.

Apesar da perspectiva inflacionária, há, até então, uma aversão de investidores também aos títulos públicos e a contratos de juros. O rendimento dos treasuries americanos cai em bloco bem como os da Alemanha, maior economia europeia. Há fluxo de capital, porém, para metais preciosos – o ouro avança 3,20% e a prata sobe 3,59%.

“Temos uma alta do petróleo atingindo máximas nos últimos anos. Isso não somente traz pressão inflacionária nos custos de energia, mas também transporte e consumo de diversas outras coisas”, Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance. “Por outro lado, em cenário de tensão e guerra os consumidores ficam apreensivos e tendem a reduzir seu consumo em coisas mais supérfluas. Vai ser interessante ver esse equilíbrio na redução de demanda por um lado e do aumento da energia do outro”.

Enquanto isso, os ativos de risco despencam. Os futuros americanos de Dow Jones, do S&P 500 e da Nasdaq, recuam, às 8h40, respectivamente, 2,47%. 2,43% e 2,99%. Na Europa, o DAX, da Alemanha, cai 4,69%. O FTSE, do Reino Unido, tem baixa de 2,90%. O CAC 40, da França, retrocede 5,01%. O STOXX 600, de todo o continente, opera com menos 3,75%.

Na Ásia, todos os índices também fecharam no vermelho – Nikkei, do Japão, recuou 1,81%; Shanghai, da China continental, caiu 1,70%; HSI, de Hong Kong, despencou 3,21%; e Kospi, da Coreia do Sul, caiu 2,60%.

No cenário interno, investidores devem monitorar commodities

A guerra da Ucrânia apesar de ter estourado durante a madrugada já se faz sentir no Brasil – os ADRs da Petrobras (PETR3;[ativos=PETR4]) sobem, por exemplo, quase 4% no pré-mercado americano, com a companhia anunciando balanços e dividendos e também acompanhando a forte alta do petróleo.

“Vale também traçar um panorama da importância da Ucrânia no cenário internacional. Com uma das terras mais férteis do planeta, a Ucrânia é um destaque da agricultura europeia há séculos. Atualmente, o país é responsável pela produção de 13% do milho e 7% do trigo mundiais. Além disso, a Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de outros grãos, como cevada e centeio”, comenta Pedro Serra, head de research da Ativa Investimentos.

Segundo Serra, as companhias exportadoras de commodities agrícolas, como a SLC Agrícola (SLCE3) e a Brasil Agro (AGRO3) devem se beneficiar do problema geopolítico. Já companhias que dependem dessas commodities para produzir, como a Ambev (ABEV3) e a M Dias Branco (MDIA3) devem sentir um impacto negativo.

PNAD e balanços também devem fazer peso no Ibovespa futuro

Por fim, o Ibovespa futuro repercute ainda a publicação de que a taxa de desemprego PNAD contínua de dezembro ficou em 11,1%, menor do que o consenso de 11,2%.

A economia levemente mais aquecida do que o esperado, junto com a crise na Ucrânia fazendo peso na inflação, faz a curva de juros brasileira disparar. Na ponta curta e no meio da curva, a taxa do DI com vencimento em janeiro de 2023 sobe nove pontos-base, para 12,42%, e a do DI para o mesmo mês de 2025 sobe 17 pontos, a 11,42%. Na ponta longa, o rendimento dos DIs para 2027 e 2029 sobem, respectivamente, 18 pontos e 17 pontos, para 11,34% e 11,52%.

O dólar futuro avança 0,79%, a R$ 5,053. O dólar comercial sobe 1%, a R$ 5,054. O DXY, que mede a força da divisa americana frente a seus pares, sobe 0,97%.

Além da Ucrânia e da taxa de desemprego, investidores repercutem também os balanços de companhias como a Petrobras, a Ambev e a Ultrapar (UGPA3), que divulgaram seus resultados entre a noite de ontem e a manhã de hoje.

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