Ibovespa tem pior semana desde março e fecha outubro em queda após chegar a subir 7,7% no mês; dólar cai a R$ 5,73

Mercado encerra o mês em um tom muito mais pessimista do que começou, com o Ibovespa em seu menor patamar em um mês; entenda o que ocorreu

Ricardo Bomfim

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (30) e consolidou um recuo de 0,69% em outubro, mês no qual o índice chegou a subir 7,73%, batendo nos 101.917 pontos. Na semana, o Ibovespa caiu 7,22%, em seu pior desempenho desde o período entre 16 e 20 de março.

O início da virada se deu na última sexta (23), dia em que após quatro altas consecutivas o benchmark teve desvalorização de 0,65%.

Na época, a sequência de boas sinalizações vindas do Congresso e do governo americano elevaram as expectativas para a aprovação de um pacote trilionário de estímulos contra os impactos econômicos do coronavírus. Até quinta, o que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, diziam é que um acordo estava “quase lá”.

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Todavia, veio o fim de semana e as negociações esfriaram. Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que os estímulos sairiam depois das eleições presidenciais no dia 3 de novembro.

Para piorar, a segunda onda do coronavírus, até então mero temor, tornou-se realidade ao longo da semana. Na terça-feira, a Itália anunciou restrições como o fechamento de bares e restaurantes, causando protestos.

Já na quarta foi a vez de Alemanha e França aprovarem novos lockdowns e restringirem o comércio e a circulação de pessoas por um mês, demolindo projeções mais otimistas de uma recuperação em V dessas economias passado o grande pânico de março.

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Graças às novas restrições, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e de diversos países europeus divulgados nesta sexta acabaram sendo vistos como notícia velha pelo mercado hoje.

Nesta sexta, o Ibovespa caiu 2,72%, a 93.952 pontos, menor patamar de fechamento desde 29 de setembro, quando o índice encerrou a sessão cotado em 93.580 pontos. O volume financeiro negociado na sessão hoje foi de R$ 30,327 bilhões.

Enquanto isso, o dólar comercial teve queda de 0,47% no dia, a R$ 5,737 na compra e R$ 5,738 na venda. No mês, a moeda americana se valorizou em 2,17% em relação ao real, e na semana a apreciação do dólar foi de 1,97%. O dólar futuro com vencimento em dezembro registrava baixa de 0,7%, a R$ 5,744 no after-market.

A estabilidade um pouco maior do câmbio em relação à Bolsa neste momento refletiu a briga entre comprados e vendidos em dia de formação da Ptax. No intraday, a moeda dos EUA chegou a bater R$ 5,80.

Além dos temores relacionados à Covid-19, o pregão também foi marcado por um desmonte de posições antes das eleições presidenciais nos EUA na terça e por uma baixa nas ações de empresas de tecnologia nos EUA.

As ações da Apple despencaram 5,6% depois da companhia reportar um declínio de quase 20% nas vendas de iPhone e os papéis da Amazon recuaram 5,5% mesmo após os fortes números no terceiro trimestre.

O país também enfrenta novos recordes em infecções diárias pelo coronavírus. A média móvel de sete dias atingiu a marca inédita de 76.590 novos casos por dia, segundo a universidade Johns Hopkins.

Já no Brasil, o ministro da Economia Paulo Guedes voltou a criticar na quinta-feira a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), desta vez por supostamente financiarem um estudo que daria apoio a “ministro gastador”.

Segundo informações divulgadas pela imprensa, Guedes tem criticado nos bastidores o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, afirmando que Marinho atua para ampliar os gastos públicos e desrespeitar a regro do teto.

Vale destacar que, na segunda-feira, o mercado brasileiro fechará no feriado de finados, sem poder reagir a eventuais desdobramentos da Covid-19, que volta a bater recorde nos EUA às vésperas da eleição presidencial da próxima semana.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu três pontos-base, a 3,45%, o DI para janeiro de 2023 ficou estável, a 5,04%, o DI para janeiro de 2025 teve baixa de um ponto-base, a 6,77%, e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de um ponto-base, a 7,57%.

Sobre o PIB da zona do euro, a economia do bloco de moeda única cresceu 12,7% no terceiro trimestre de 2020 ante o segundo, de acordo com dados preliminares divulgados nesta sexta-feira pela agência oficial de estatísticas da União Europeia, a Eurostat.

O resultado superou a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam avanço de 9,4% no período.

Na comparação anual, o PIB do bloco sofreu contração de 4,3% entre julho e setembro, bem menor do que a queda de 7% projetada pelo mercado. No segundo trimestre, o PIB da zona do euro teve retração de 11,8% ante os três meses anteriores, diante dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.

Queda de vendas

O jornal o Estado de S. Paulo destacou hoje a queda de até 10% nas vendas das redes de atacarejos nas últimas semanas. Citando o diretor de mercado da Apas (Associação Paulista de Supermercado), o jornal afirma que as vendas dos supermercados também têm caído.

De acordo com a reportagem, o movimento se deve à disparada na inflação dos alimentos. Em outubro, a prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, atingiu 0,94%, mais do que o dobro da inflação registrada em setembro e a maior alta para o mês em 25 anos. O destaque é para a carne bovina, que teve alta de 4,83%, o óleo de soja, com alta de 22,34% e o arroz, com alta de 18,48%.

Ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua live semanal na quinta-feira, a ministra da Agricultura Tereza Cristina afirmou que novas safras devem reduzir o preço de arroz até janeiro.

Na quarta-feira, o Banco Central decidiu por manter no piso recorde de 2% a taxa de juros Selic, mesmo com a aceleração da inflação. O movimento está em linha com a expectativa de economistas.

Outro fator citado pelo jornal como responsável pela queda nas compras é a redução desde setembro de R$ 600 para R$ 300 o auxílio emergencial. Agora, o governo busca articular com o Congresso formas de criar um novo programa de transferência de renda, em substituição ao auxílio e ao Bolsa Família. O desafio é fazê-lo sem estourar o teto de gastos.

Além disso, o Estadão afirmou que o governo vem estudando propor um benefício voltado especificamente a trabalhadores demitidos durante a pandemia da covid-19, mas que não tiveram acesso ao seguro-desemprego ou ao auxílio emergencial.

O benefício seria uma contraproposta à demanda de centrais sindicais pela prorrogação do seguro-desemprego em duas parcelas, o que custaria até R$ 16,7 bilhões. De acordo com o jornal, técnicos da área econômica estimam preliminarmente em 256 mil o número de trabalhadores que perderam o emprego entre 20 de março e 30 de setembro.

Guedes versus bancos

Durante audiência no Congresso na quinta-feira (29), o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) estaria financiando estudos para que “ministro gastador” pudesse enfraquecê-lo.

“A Febraban é uma casa de lobby muito honrada, o lobby é muito justo. Mas tem que estar escrito na testa, ‘obby bancário’, que é para todo mundo entender do que se trata. Inclusive financiando estudos que não tem nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias. É importante dizer isso. Financiando ministro gastador para ver se fura teto, para ver se derruba o outro lado”.

Guedes não citou nenhum nome específico. Mas no geral, veículos de imprensa interpretaram que ele pareceu fazer uma referência velada ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Enquanto Guedes defende respeito ao teto de gastos, Marinho defende financiar obras públicas e aumentar gasto para impulsionar a recuperação da economia após a pandemia de covid.

Horas após a fala do ministro, o portal UOL publicou uma reportagem em que afirma que teve acesso a cópia do contrato para realização do estudo mencionado por Guedes. Ele seria financiado por Febraban e outras 10 entidades, e deve ser realizado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em acordo de cooperação com o Ministério do Desenvolvimento Regional.

O custo é de R$ 20 milhões, e o resultado deve ser um conjunto de propostas para recuperação econômica após a pandemia, e a conclusão deve ser em até dois anos. Ele deve trazer novas propostas de modelos de negócios, com espaço para investimentos públicos e privados e redução de desigualdades.

Ele também criticou os bancos por se oporem à criação de um novo tributo sobre transações digitais, que vem sendo comparado à antiga CPMF. Guedes vem tentando criar um imposto do tipo desde 2019, uma espécie de compensação pela extinção ou redução de contribuição de 20% das empresas sobre a folha de salários à Previdência.

Em meados de outubro, o ministro já havia afirmado que os próprios bancos estariam cobrando uma espécie de tributo do tipo, em referência às tarifas TED e DOC, cobradas sobre transações.

“A Febraban é quem mais subsidia e paga economistas para dar consultoria contra esse imposto, mas a Febraban está fazendo isso porque quer beber essa água que os bancos bebem. Vê aí as transferências que vocês fizeram no mês passado. Os bancos cobram 2%, 1%, 3%. A exceção é grande cliente. Quando ele tem R$ 10 milhões [na conta] ele não paga. O banco cobra 10 vezes mais pela TED do que o imposto que nós estamos querendo pelo tráfego digital”, afirmou.

Radar corporativo

A Suzano Papel e Celulose reportou prejuízo líquido de R$ 1,157 bilhão no terceiro trimestre de 2020. O valor representa queda de 66,54% na comparação com o prejuízo líquido de R$ 3,460 bilhões de igual período do ano anterior. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 29, em balanço enviado à CVM.

A empresa reportou ainda prejuízo líquido atribuído aos sócios da empresa controladora de R$ 1,160 bilhão. O valor representa queda de 66,47% na comparação com o prejuízo líquido atribuído aos controladores de R$ 3,460 bilhões em igual período do ano anterior.

A Lojas Americanas registrou lucro líquido consolidado de R$ 49,9 milhões no terceiro trimestre de 2020, um avanço de 3,5% em relação ao mesmo período de 2019. Em 9 meses, a rede de varejo acumula prejuízo de 6,4 milhões, ante lucro de R$ 107,4 milhões no ano passado.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
VIVT4 0.92527 42.54
IRBR3 0.491 6.14
RAIL3 0.05456 18.34

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
BTOW3 -8.96552 75.24
HGTX3 -6.79555 15.91
VVAR3 -5.9726 17.16
LAME4 -5.91333 23.23
GOLL4 -5.53883 15.69

O grupo de comércio eletrônico B2W registrou prejuízo de cerca de R$ 36,8 milhões no terceiro trimestre ante prejuízo de R$ 102,5 milhões no mesmo período de 2019, ou uma queda de 64,1%, com forte crescimento de vendas na esteira de medidas de quarentena contra a Covid-19.

A produtora de software corporativo Totvs teve alta de 3,8% no lucro líquido ajustado, passando para R$ 82,5 milhões no terceiro trimestre de 2020.

A companhia, que tenta comprar a rival Linx (LINX3), viu seu Ebitda ajustado subir 34%, a R$ 161,4 milhões, acima dos R$ 140,8 milhões esperados, em média, por analistas, de acordo com compilação da Refinitiv.

O Fleury teve alta de R$ 132,1 milhões no terceiro trimestre, alta de 45% na comparação anual. A companhia teve melhora dos indicadores financeiros e operacionais no terceiro trimestre, uma vez que a gradual flexibilização do isolamento social permitiu ao grupo de medicina diagnóstica ampliar receitas com consultoria e retomar procedimentos represados durante o pico da Covid-19.

A Transmissão Paulista registrou leve queda de 2,4% do lucro líquido no terceiro trimestre em comparação ao mesmo trimestre do ano passado, totalizando R$ 400,6 milhões.

“O reajuste da Receita Anual Permitida (RAP) para o Ciclo 2020/2021 impactou o resultado em função da contabilização da Parcela de Ajuste (PA)”, destacou.

Já o Itaú informou que Milton Maluhy Filho substituirá Candido Bracher como CEO em fevereiro. Durante os próximos 3 meses, Maluhy e Bracher conduzirão processo de transição.

(Com Reuters e Bloomberg)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.