Ibovespa fecha no zero entre alta de Vale e incertezas sobre precatórios: entenda o que os investidores acham da PEC

Apesar da pressão negativa dos riscos fiscais, empresas de commodities e bom humor no exterior impediram que a Bolsa caísse

Mitchel Diniz

Foto: reprodução

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SÃO PAULO –  O Ibovespa oscilou entre o terreno negativo e positivo até o último minuto de negociação. A sessão foi dividida entre o bom desempenho de ações ligadas a matérias-primas (commodities) e incertezas sobre o futuro da PEC dos Precatórios, o Projeto de Emenda à Constituição que pretende abrir espaço no orçamento público para o financiamento do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.

Na última sexta-feira, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o pagamento das Emendas de Relator (RP9) – instrumento que ficou conhecido como “orçamento secreto” – e também cobrou explicações da Mesa Diretora e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a participação remota de deputados na votação do texto em primeiro turno na semana passada.

A Bolsa começou a sessão desta segunda em queda, quase perdendo o patamar dos 104 mil pontos, mas reagiu depois que Lira afirmou que a votação em segundo turno da PEC está mantida para amanhã e espera ter maior adesão de apoiadores dessa vez. A primeira votação foi apertada, o que já sinalizava que a trajetória da PEC no Congresso não seria fácil.

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Quando a PEC foi proposta pelo governo há pouco mais de três meses, os participantes do mercado reagiram mal. O alongamento das dívidas judiciais chegou a ser chamado de medida populista e de calote por economistas e analistas. Hoje, ironicamente, a Bolsa parece depender do avanço da Proposta para conseguir subir. Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, nega que o mercado tenha simpatia pela PEC.

“É que o mercado vê a PEC dos precatórios como uma das saídas mais factíveis para o imbróglio que o Brasil se meteu. O pagamento do Auxílio Brasil vai acontecer, o governo não vai voltar atrás nisso. A questão é como passar o benefício com menos impacto fiscal possível. E a solução para isso seria a PEC”, afirma Franchini.

Para os participantes do mercado, a PEC é vista como uma “maquiagem”, pois abre espaço no Orçamento jogando dívidas para frente no estilo “pago quando puder”. Sem ela, o governo teria que colocar em prática um plano B para financiar o Auxílio Brasil, como a criação de créditos extraordinários, o que é visto como “um furo legítimo” no Teto dos Gastos.

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Franchini explica que o plano B faria com que as contas públicas piorassem mais rápido, obrigando o Banco Central a subir mais os juros para compensar riscos fiscais. O mercado acionário, por sua vez, seria penalizado com isso, já que juros mais altos não só encarecem os custos de capital das empresas listadas, como também deixa a renda fixa mais rentável a atraente.

“A trajetória fiscal precificada hoje não conta com um furo direto no Teto dos Gastos. Já é ruim a gente ter a PEC pra abrir esse espaço, mas um furo direto no Teto por meio de uma Medida Provisória, por exemplo, além do impacto fiscal traz uma simbologia de dificuldade do governo de emplacar pautas que em tese sempre emplacaram bem. Afinal, a PEC costuma trazer mais dinheiro para emendas parlamentares”, diz Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria.

As incertezas sobre a medida fizeram a Bolsa fechar praticamente no zero a zero. O Ibovespa fechou o dia em leve queda de 0,04% aos 104.781 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 23 bilhões. O Ibovespa futuro para dezembro de 2021 avança 0,13% nos negócios do after market, aos 105.420 pontos.

No meio de tanta oscilação, o dólar que começou o dia em alta de mais de 1%, terminou o dia com ganhos moderados. O dólar comercial subiu 0,33% a R$ 5,540 na compra e R$ 5,541 na venda. O dólar futuro para dezembro de 2021 avança 0,16% a R$ 5,569 no after market.

No mercado de juros futuros, os contratos voltaram a subir nos vencimentos mais curtos: o DI para janeiro de 2023 subiu 17 pontos-base, a 12,21%; DI para janeiro de 2025 subiu quatro pontos-base a 12,16%; e o DI para janeiro de 2027 recuou sete pontos-base, a 12,09%.

Nos Estados Unidos, mesmo com ganhos moderados, as Bolsas em Nova York voltaram a renovar máximas históricas. O Dow Jones fechou em alta de 0,29%, a 36.432 pontos; o S&P teve ganhos de 0,09%, aos 4.701 pontos; e a Nasdaq subiu 0,07%, a 15.982 pontos.

Cresce a perspectiva sobre uma recuperação mais consistente da economia americana após os dados, melhores que o esperado, do mercado de trabalho do país, divulgados na última sexta-feira. Também foi resolvido mais um impasse político: o pacote de infraestrutura de mais de US$ 1 trilhão foi aprovado no Congresso, dando inclusive fôlego para ações de commodities em outros países, como foi o caso da Vale (VALE3) aqui no Brasil – maior alta do Ibovespa na sessão de hoje – após uma queda forte na semana passada. Os ativos da Gerdau (GGBR4) fecharam com alta de 3,84%.

Foi um dia positivo para os preços do minério de ferro, que avançaram 1,4% na Bolsa de Dalian, e os preços do petróleo também. O barril do Brent avançou 1,17% a US$ 83,71 e o do WTI fechou em alta de 1,24% a US$ 82,28.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados