Ibovespa fecha no zero a zero apesar da derrocada do petróleo; dólar vai a R$ 5,30

Contrato da commodity para maio cai mais de 300% e tem preço negativo pela primeira vez na história

Anderson Figo

(alexsl/Getty Images)

SÃO PAULO – O Ibovespa atravessou um pregão instável nesta segunda-feira (20), e terminou o dia no zero a zero. O índice teve ligeira desvalorização de 0,02%, a 78.972 pontos. O volume financeiro foi de R$ 35,1 bilhões.

As ações da Petrobras, que chegaram a operar no azul e também a cair mais de 2% ao longo do dia, fecharam em queda mais amena, de cerca de 1%. Os papéis dos bancos também ajudaram a pressionar negativamente o desempenho da Bolsa, mas as varejistas ajudaram do outro lado da balança.

O mercado foi pressionado pelo novo crash do petróleo no mercado internacional, com o contrato do barril americano WTI para maio derretendo mais de 300% e sendo negociado a preço negativo pela primeira vez na história.

Também gerou ruído o noticiário político, após as manifestações do domingo (19), endossadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que incitavam a volta do regime militar.

O dólar futuro para maio apresentava alta de 1,27%, a R$ 5,308. Já o dólar comercial fechou em alta de 1,40%, a R$ 5,307 na compra e R$ 5,309 na venda. Na máxima da sessão, a moeda americana chegou a bater nos R$ 5,3103.

Embora era esperada que a liquidez do pregão hoje fosse comprometida pelo feriado de Tiradentes amanhã, com muitos traders sem negociar na emenda do feriado, os volumes estiveram próximos dos níveis atingidos em dias normais de negociação.

Colaborou para isso o vencimento de opções para abril, com volume de exercício atingindo R$ 14,5 bilhões, pouco acima do vencimento anterior. Vale lembrar que a B3 estará fechada nesta terça-feira (21).

Crash do petróleo

O contrato do barril de petróleo americano WTI para maio, que vence nesta terça-feira (21), recuou mais de 300% ao longo do dia e fechou cotado a um preço negativo pela primeira vez na história.

Segundo analistas, o movimento reflete a percepção do mercado de que o corte de 9,7 milhões de barris diários anunciados semana passada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) não será suficiente para fazer frente à queda na demanda global por conta dos impactos econômicos do coronavírus, de cerca de 30%.

“O preço negativo mostra que os produtores estão dispostos a pagar para ter seu petróleo estocado, num momento em que há uma grande oferta e uma demanda baixa”, explica Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos especializado em petróleo.

A Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos informou que as reservas de petróleo subiram 19,25 milhões de barris na semana passada.

Assim, como o vencimento do contrato de barril de WTI para entrega em maio termina amanhã, aqueles investidores que o assinaram têm de encontrar compradores físicos — uma tarefa quase impossível no atual cenário se não abaixarem os preços.

Os operadores de contratos futuros geralmente conseguem passar com tranquilidade do contrato vencido para o próximo, mas dessa vez estão encontrando poucos compradores dispostos a receber os barris do vencimento maio. Assim, a corrida para se desfazer dos papéis a qualquer custo gerou o crash no preço observado hoje.

As Bolsas da Ásia fecharam em queda, com a exceção de Xangai, onde o Banco do Povo da China cortou a taxa de juros em 0,20 ponto porcentual, para 3,85% ao ano. As Bolsas europeias tiveram um dia instável, mas fecharam no azul.

Nos Estados Unidos, a IBM publica balanço hoje, enquanto Coca-Cola, Netflix e Texas Instruments divulgam resultados na terça-feira. Mas o investidor americano está mais preocupado com a reabertura da economia, que Trump anunciou para 5 de maio, e com um pacote de US$ 450 bilhões para pequenas e médias empresas em discussão no Congresso.

No Brasil, a Câmara dos Deputados vota nesta semana o chamado “orçamento de guerra” para o combate aos efeitos da epidemia do coronavírus. A Câmara deve votar a matéria na quarta-feira, após o feriado de 21 de abril.

Entre os indicadores, o Relatório Focus mostrou que os economistas projetam uma queda de 2,96% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020. O dado é bem mais negativo que o da semana passada, quando a mediana das previsões dos especialistas era de uma retração de 1,96%. Para 2021, contudo, a projeção foi elevada de 2,7% na semana anterior para 3,1% agora.

A expectativa para a taxa básica de juros ao fim de 2020 foi reduzida de 3,25% para 3% ao ano. Para o ano que vem, a projeção foi mantida em 4,5% após três semanas consecutivas de revisões para baixo.

Em meio a medidas de isolamento social visando minimizar a disseminação do coronavírus, as expectativas para inflação e crescimento da economia do país também foram novamente reduzidas. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção de alta foi cortada pela sexta vez consecutiva, de 2,52% para 2,23%, em 2020, e cortada também de 3,5% para 3,4% em 2021.

No que tange às previsões para o mercado cambial, o relatório Focus revelou que a estimativa para o dólar teve alta de R$ 4,60 para R$ 4,80, em 2020, e um aumento de R$ 4,47 para R$ 4,50, ao fim de 2021.

Política

O presidente Jair Bolsonaro participou no domingo de um ato a favor de um golpe militar, do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e contra as quarentenas para conter a epidemia do coronavírus no Brasil. O ato ocorreu na frente do quartel-general do Exército em Brasília (DF).

No ato, Bolsonaro prometeu “defender a democracia e a liberdade”, mas também afirmou que não vai “negociar nada” com o Congresso. No final de semana ocorreram carreatas contra a quarentena em Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, onde os participantes atacaram o governador João Doria (PSDB).

Doria condenou os atos e a participação de Bolsonaro na manifestação no Distrito Federal no domingo. “É lamentável que o presidente da República apoie um ato antidemocrático”, afirmou o governador de São Paulo.

Na capital paulista, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram feitos panelaços contra o presidente na noite de domingo. As declarações do mandatário geraram mal-estar na cúpula das Forças Armadas, bem como no Congresso e na Procuradoria-Geral da União.

Nesta manhã, Bolsonaro ao falar com a imprensa na porta do Palácio do Planalto disse que defende a democracia e quer o Congresso e o STF abertos, livres e com transparência.

Pandemia

O número de mortos pelo coronavírus ultrapassou mil ontem em São Paulo, chegando a 1.307 no estado. Em 32 dias, São Paulo chegou a 14.580 pessoas infectadas. Só no cemitério da Vila Formosa, na zona Leste da capital paulista, 13 retroescavadeiras abriram covas no final de semana.

O Ministério da Saúde informou que ocorreram 383 mortes pela doença no Brasil em apenas um dia, de ontem para hoje. Segundo dados do Ministério, o Brasil tinha na tarde hoje 40.581 casos confirmados e 2.845 mortes.

Noticiário corporativo

A AES Tietê rejeitou na noite de domingo a oferta da Eneva para comprar a empresa. Em fato relevante, o Conselho de Administração da AES Tietê citou a “incompatibilidade” entre as estratégias das empresas.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
CYRE3 8.85017 15.62
MGLU3 8.72393 48.48
RENT3 6.15048 34
BRML3 5.83942 10.15
LAME4 5.7931 23.01

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
GOAU4 -3.7037 5.2
EMBR3 -3.66492 9.2
GGBR4 -3.65854 11.85
CSNA3 -3.55731 7.32
VALE3 -3.5 42.46

Já a Eletrobras aprovou a oferta de R$ 232 milhões que a Evoltz Energia fez na sua participação restante na Manaus Transmissora de Energia (MTE).

Em outras notícias, a construtora MRV informou que pagará R$ 163,9 milhões em dividendos mínimos obrigatórios aos acionistas, relativos ao exercício de 2019. A MRV ainda não fixou uma data, contudo, para o pagamento.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.